30.3.10

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, Eugen Herrigel ****

A arte genuína não conhece nem fim nem intenção, Kenzo Awa


O livro “A arte cavalheiresca do arqueiro zen”, do filósofo alemão Eugen Herrigel(1884-1955), tem o mérito de ser um dos principais responsáveis por introduzir e popularizar o pensamento zen budista no ocidente. Grande parte desse mérito se deve ao fato do livro ser curtíssimo (a edição da editora Pensamento tem 91 páginas) e escrito numa linguagem simples, que traduz os pensamentos do zen para leitores comuns.

Herriegl passou alguns anos(1924-1929) no Japão, ensinando filosofia na Tohoku Imperial University. Interessado no pensamento oriental, ele começou a estudar o kyudo (arte do arco e flecha) com o mestre Kenzô Awa (1880-1939), enquanto sua mulher estudava a arte dos arranjos florais.

Posteriormente, Herrigel relacionaria a arte do arqueirismo com o pensamento zen, produzindo uma série de estudos que dariam origem ao livro. A forma de relacionar um trabalho manual com o desenvolvimento espiritual (“... a obra interior que ele deve realizar é muito mais importante que as obras exteriores”) dialoga diretamente com livros posteriores que se inspirariam na obra de Herriegel, como o clássico “Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas” de Robert M. Pirsig, no qual o autor ensina que a escalada da montanha é muito mais importante que chegar ao cume.

Herrigel

Muita viagem? Um trecho que resume bem a ideia do livro é essa fala do mestre Kenzo sobre o arqueirismo: “(...) não se deve envergonhar pelos tiros errados. Da mesma maneira, não deve felicitar-se pelos que se realizam plenamente. O senhor precisa libertar-se desse flutuar entre o prazer e o desprazer. Precisa aprender a sobrepor-se a ele com uma descontraída imparcialidade, alegrando-se como se outra pessoa tivesse feito aqueles disparos. Isso também tem que ser praticado incansavelmente, pois o senhor não imagina a importância que tem.”

Atingir o equilíbrio, evitar a busca pelo prazer ou tristeza pela falha, preocupar-se mais com o ato do que com suas conseqüências. Seguir os instintos. “Comer quando se tem vontade de comer e dormir quando se tem vontade de dormir”. O pensamento zen oriental, apresentado por Herrigel, pouco tem a ver com nossa forma pós-moderna e ocidental de viver. Mas é uma boa oportunidade de enxergar que toda regra é burra e que existem formas muito velhas de pensar, que parecem mais modernas que o hype que engolimos diariamente como a hóstia da nossa (não)religião descolada.



Veja também:
-Resenha de "Zen e A Arte da Manutenção de Motocicletas"
-Zen e "A Love Supreme"
-Todas as resenhas de livros

28.3.10

O cântico dos bantos

Billie Holiday


Sax sacana serpenteia sedutoramente simples seus sons singulares
Retumbam repiques retos rasgando repentinamente rotinas
Lábios negros fazem amor com música azul
Sensuais são os timbres que movem minha carne
Cordéis invisíveis nos põe para dançar

"Que foi, querida? Não gosta do ritmo"?
"Estranho, parecem lamentações."
"Como?"
"Pare a música! São lamúrias de dor vindas dos campos de algodão. São gritos de morte!"
"Bobinha, são canções de redenção..."

Um coro veste de branco o ébano.
Sagrada fumaça, chapéus, expressão máxima da cultura estadunidense

Tudo concentrado num arquivo de alguns mega.
Baixado ontem numa noite sem trégua.

Frico já escreveu um punhado de poesias nesse blog. Leia o resto aqui e deixe seu comentário aí embaixo.

John Coltrane


Leia também:
-O Evangelho segundo Louis Amstrong
-Ulysses fugiu da Grécia atrás das garotas negras do Coltrane
-6 discos para começar a ouvir jazz

27.3.10

Punk Brega quer trocar de roupa. Que você acha do nosso layout?


Punk Brega quer trocar de roupa. Que você acha do nosso layout?
Tá muito 2002

4 (13%)

Tá muito rosinha minha canoa

2 (6%)

O design é lindo, não muda, please!

3 (10%)

Tem que ser mais punk

12 (40%)

Tem que ser mais brega

1 (3%)

Deixa igual, mas coloca um topo maneiríssimo

8 (26%)


Votos até o momento: 30
Enquete encerrada

26.3.10

6 discos para começar a ouvir jazz

Essa lista não pretende ser um top 6 melhores discos de jazz.

Eu não sou "entendido" em jazz.

Fui um adolescente punk e ,em geral, gosto de música redonda, feliz e cantarolável. Na verdade, quando era moleque eu odiava jazz. Era o som que meu pai colocava de manhã quando acordávamos para ir à escola. Eram os discos que ele deixava sempre rodando no carro. Não tinham distorção, refrões e muitas vezes nem vocal.

Mas quando vim pra São Paulo, o amigo Gabriel Gianordoli me apresentou alguns clássicos do jazz que me fizeram gostar da coisa. "Love Supreme", "Kind of Blue", "Time Out" e "She was to good to me" entram nessa conta. "Porgy and Bess" é um disco cantarolável e reúne dois gigantes que quem quer começar a se aventurar no estilo deve conhecer. Bom, era pra ser um top 5, mas resolvi incluir o primeiro solo do Jaco aqui. Deste eu gostei quando ainda era "roqueiro". O cara é pro baixo o que o Hendrix é pra guitarra, então pode agradar quem tem resistência a pianos e raízes blues.

Espero que ajude quem quer conhecer este estilo considerado "chato" e "difícil". Você também pode usar os nomes de discos para parecer cool numa conversa. You choose.


"A Love Supreme" - John Coltrane(1965)


"A Love Supreme" conseguiu ser o único disco de jazz a se tornar meu álbum favorito por um certo tempo. A viagem espiritual do saxofonista Coltrane com seu quarteto genial se resume a 4 faixas: "Acknowledgement"(com uma linha de baixo hipnótica e o coro repetindo "a love supreme" no final), "Resolution", "Pursuance" e "Psalm", essa última uma versão musicada de uma oração registrada por Coltrane no encarte do álbum. Acho que é o som mais espiritual que fizeram, desde a invenção do mantra "om".

"Kind Of Blue" - Miles Davis(1959)
Miles Davis é o maior adversário de Louis Amstrong na briga pelo trono de rei do jazz. O trompetista passeou por diversos estilos, lançou meia dúzia de discos essenciais e se tornou unanimidade com "Kind of Blue", álbum que tem até um livro inteiro dedicado só pra ele. Disco de platina quádrupla, sempre liderando listas de melhores do jazz, a bolacha ficou em 12º lugar na lista pop de "500 melhores álbuns da história" da revista Rolling Stone . A influência da bolachinha modal escapa dos terrenos do jazz e se espalha por rock e música clássica.



"She Was To Good To Me" - Chet Baker(1974)

Um trompete tocando a nota certa a cada segundo, compondo melodias assobiáveis mesmo nos improvisos. Algumas canções orquestradas, algumas cantadas numa voz bossanovista. Um dos caras mais cool do jazz no comando do som. Ouça só o começo com "Autumn Leaves" e "She Was to Good to Me" e tente não se apaixonar.

"Time Out" - The Dave Brubeck Quartet(1959)
Um dos álbums de jazz mais vendidos da história, "Times Out" quebra o ritmo do jazz brincando com ritmos turcos, valsas e swing. Bruebeck era da turma do jazz branco da costa oeste - assim como Chet Baker - e sua composições eram mais aceitas que o bebop ácido da costa leste. "Take Five"(que era pra ser só um solo de bateria de Joe Morello) entrou nas paradas da Billboard e é citado como influência até de bandas de rock como "Os Mutantes".

"Porgy and Bess"
- Louis Amstrong e Ella Fitzgerald(1957)
"Porgy and Bess" é a versão jazz mais famosa da ópera de Geroge Gershwin e reúne dois dos maiores nomes do estilo: o carismático e genial Louis Amstrong e a diva Ella Fitzgerald. É um bom começo para quem não tem saco para som instrumental e ainda incluí o clássico "Summertime".

"Jaco Pastorius" - Jaco Pastorius(1976)
Mesmo que não consiga a unanimidade de outros figurões dessa listinha, o primeiro disco solo de Jaco Pastorius é bem popular entre os fãs de jazz e seu som costuma agradar quem está mais acostumado com rock 'n' roll. Contando com Herbie Hancock nos teclados e Wayne Shorter no sax soprano, as 9 faixas incluem sons mais funks, uma faixa com vocais e a genialidade que levaria Jaco ao posto de maior baixista da história.

Se ainda assim você achar jazz um saco, se liga nos nossos posts de punk rock

Veja também:
-O evangelho segundo Louis Amstrong
-Lista com documentários legais sobre rock 'n' roll
-Ilustração de Charles Mingus por denisdme

25.3.10

circo - Sabrina Barrios

Comida é pasto. Bebida é água. Quinta é dia de arte.

Sabrina Barrios está empenhada em consquistar Nova York. Para celebrar o trabalho dessa designer e artista gaúcha, que tanto ajudou nosso extindo bloguinho cabeça(Clube de Ideias), decidimos republicar a obra "circo". Originalmente postada no seu flickr .

Veja também:
-O conto "A Ilha" com ilustras da Sabrina
-O trabalho do designer Mateus Valadares

23.3.10

Gal Costa - Musas com cérebro

- Musas: Ideias na cabeça e curvas no corpo
-"Sgt. Peppers" o gatilho da psicodelia mundial

Sim, não adianta fazer cara feia. Punk Brega também tem seu lado bicho-grilo e Gal Costa se encaixa em todas nossas categorias de musas. Além de se juntar a outras mulheres de atitude no "Musas com Cérebro", Gal tinha o show mais rock 'n' roll do Brasil, em 1971, quando movia seu "Fa-Tal - Gal a Todo Vapor" a amplificadores Marshall importados da Inglaterra e preenchidos pelos solos ácidos de Lenny Gordin -substituído posteriormente por Pepeu Gomes. E Gal também foi pin up por um dia. Muito antes das coroas enxutas Marina Lima e Angela Vieira, em 1985, ela - com quase quarentinha - estampou a capa da antiga revista "Status".

-Conheça a biografia de Timothy Leary o papa da psicodelia

Antes de virar diva jazzística e sucesso brega, Gal foi a musa do desbunde brasileiro. Nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, em Salvador, 26 de setembro de 1945, começou a carreira ao lado de Gil e Caetano. Assim como a dupla, fez a transição de influências de João Gilberto para The Beatles, que resultou no Tropicalismo. Quando Gil e Caetano estavam exilados na Europa(depois da prisão no final de 1969), foi nas mãos de Gal que ficou a responsa de ícone da contracultura tupinambá. Vinda de uma sucessão de discos clássicos, a baiana estreiou o show "Gal a Todo Vapor", com direção do poeta Wally Salomão e músicas de gente como Jards Macalé, Jorge Ben e Luiz Melodia.

Com o melhor som para rock do Brasil, a genialidade de Lenny Gordin(um dos maiores mestres das 6 cordas que passaram por essas terras),a sexy appeal da musa e composições frescas de novos nomes da MPB, o espetáculo virou parada obrigatória para todos os malucos do Brasil, especialmente os hippies do Rio. Gal era musa de homens e mulheres. Segundo a própria cantora, em declaração para a revista Bizz, em 2006: "Ouvi de amigos que, durante o show, haviam meninos e meninas se masturbando." A praia que a sereia baiana frequentava em Ipanema ficou conhecida como "Dunas da Gal" e passou de um lugar poluído para ponto cult que reunia Jorge Mautner, Novos Baianos e outras figurinhas do undegrudi brazuca.

-Saiba mais: a Bizz dissecou as gravações de "Fa-Tal: Gal a Todo Vapor"


Da maior importância


O disco seguinte, "Índia"(1973), seria o último grito da fase "Janes Joplin baiana", depois a cantora ganharia as paradas com álbuns mais populares e menos criativos. Em 1978, geraria polêmica ao assumir em entrevista que dormia com mulheres. Hoje pode parecer banal, mas aqueles eram tempos caretas, mora?

Veja também:
-Fotos de Leila Diniz
-Fotos de Luz del Fuego

-Fotos da Fernanda Young

21.3.10

Anvil! - Documentário sobre a banda canadense Anvil

-Chaos A.D. : disco que transformou o Sepultura em gente grande


Descobri o trailer de "Anvil! Story of Anvil" através de um twitte do amigo e precurssor do "Stand Up Jail" Marcelo Pirajuí. Cheio de elogios da crítica, o filme traz depoimentos de caras como Slash e Lemmy babando ovo para uma banda canadense de heavy metal, fundada em 1977 como LIPS, e que no começo dos anos 80 se tornaria o Anvil. Discos como "Hard 'N' Heavy", "Metal On Metal" e "Forged in Fire" influenciaram a nata do speed/trash metal(Metallica, Pantera, Slayer...) e os levaram ao mais puro... ANONIMATO!

Eu particularmente nunca tinha ouvido falar da banda - e parece que a maioria das pessoas também não - essa é uma das graças do documentário: mostrar como os tiozões cabeludos continuam, 30 anos depois, correndo atrás do sonho de fazer sucesso no mundo do rock 'n' roll.

Quando eu assistir conto pra vocês o que achei.

Veja também
-História do líder do Motörhead vira filme
-Os melhores documentários sobre rock 'n' roll
-Os 10 melhores baixistas do heavy metal

20.3.10

I Met the Walrus - Entrevista com John Lennon transformada em curta animado

Descobri através do twitter do @gwercman



Produzido em 2007, "I Met the Walrus" é a versão animada de uma entrevista que o moleque sortudo Jerry Levitan , na época com 14 anos, fez com seu ídolo John Lennon. A entrevista rolou no Toronto's King Edward Hotel, Canadá, em 1969. Munido de um gravador o pivete falou sobre Beatles, paz e música e a versão editada da conversa virou um curta que faturou um Emmy e recebeu uma indicação ao Oscar.

Veja também:
-5 grandes documentários sobre rock 'n' roll
-Entrevista com o mutante Arnaldo Baptista
-"Sgt. Peppers" é uma viagem de ácido?

18.3.10

Luciano Scherer

Quinta é dia de ilustração, diversão e arte.

Descobri o Luciano Scherer pelo blog do MCD LAB#1. No Flickr do cara tem mais coisas bacanas.



O gaúcho nasceu em Santa Vitória do Palmar, interiorzão do Rio Grande Sul. Em Porto Alegre ele começou seu trabalho com colagens pelas ruas, pinturas e esculturas.Ano passado participou de uma exposição coletiva artistas de Porto Alegre, na Galeria Choque Cultural e ainda expôs seu trabalho na gringa, na galeria Anno Domini em San Jose, California.

Veja também:
-Anões, gêmeos e esquecidos nas fotos de Diane Arbus
-O ano de 2012 na visão de Sabrina Barrios

16.3.10

Always - Charles Bukowski

the important
thing
is
the obvius
thing
that
nobody
is
saying


Tirado do livro "Septuagenarian Stew", que li recentemente. Lembra a frase do Schopenhauer que é mote da campanha da Super: “pensar o que ninguém pensou sobre algo que todos veem”.




(Se for pra traduzir literal:

"Sempre"

A coisa
importante
é
a coisa
óbvia
que
ninguém
está
dizendo)

15.3.10

Mulheres II: Quando acordam

-Todos os contos

Este conto é um trecho do livro "Memórias de um Perdedor", em breve nos melhores botecos.

Quando acorda, olhinhos fechados, Nathália tem cara de azul, gosto de esperança, cheiro de paz. Me lembra incenso queimando. Viajo longe... Fico olhando seu rosto, tentando ler uma história, mas sua pele macia não tem rugas e nem verbos. Só farejo vestígios de uma boa notícia, meu instinto jornalístico é mais forte que minhas desilusões com a profissão. Ela bate o despertador e volta pro sono. Murmura, cansada, quase pedindo:

_ São seis ainda, vou dormir mais meia horinha...

Tudo bem, meu anjo, durma quanto quiser, enquanto isso, peço pra dEUS(se eLE existir), que estique essa meia hora em um dia, pra que essa menina possa descansar de todo uma vida, pelo menos dessa vez.

Seus cabelos são lisos, negros, olhos puxadinhos, boca carnuda, parece índia. Só um ano mais velha, mas toda uma vida na minha frente. ELA: trabalha desde os dezesseis. EU: me desfaço em lágrimas e borro as calças por um estágio de duzentos reais ao mês. Se mantém na cidade com nove horas diárias de trampo numa empresa de suco em pó. Embalam de tudo por lá: suco, sonhos, lágrimas e suor dos operários, desidratam, tiram toda água e humanidade e depois deixam os funcionários voltarem sentindo um buraco em seus corpos. Nem passa em casa, vai pra aula, vender seus sonhos em troca de “comunicação social com habilitação em jornalismo”. Fala comigo e o tempo para. Meiga, quase uma menina, com histórias que deixariam todas minhas noivas neuróticas a ponto do suicídio. Gosto de ouvi-la. Quando chega em casa vira suco.

_Eu falo demais, né?

Não, linda, adoro te ouvir, você me fez voltar a escrever depois da síndrome de pânico, da hipocondria e do coração partido. Parece que eu não escolho mulheres ou pretendentes, mas boas histórias. E você é cheia de boas histórias, me conte uma, vai:

_ Tinha uma indiazinha que morava na quebrada de São Paulo, Freguesia do Ó .
_Como chamava essa indiazinha?
_Hum... Chamava Iracema!
_A virgem dos lábios de mel?
_Não, nada mais de virgem, os pais não gostavam da ideia, mas ela transou com um namorado legal, até, aos dezessete anos...
_E o que fazia essa indiazinha? Caçava, pescava? Fazia artesanato?
_ Não, artesanato é coisa de hippie. Trabalhava e estudava!
_ Hum... Que mais?
_ Bom, um dia, cacique bateu na sua esposa e a indiazinha partiu pra cima dele
_Jura?
_ Sim, dizem que era de uma tribo de amazonas guerreiras.
_Certo, certo,que mais?
_ Bom, deixa eu ver, o irmão da indiazinha, resolveu virar mulher...
_ E aí?
_Aí, o cacique o expulsou da aldeia, mas sua mulher não deixou. O cacique saiu de casa, e sua mulher cortou os pulsos.
_ (...*) É um mundo horrível, não é?(...) Vem, dá um abraço!

O mundo é horrível e ela me abraça, enroscada no meu corpo, mas quem precisa daquilo sou eu. Naquele emaranhado o (quase) homem de um metro e oitenta é, na verdade, embalado pela menina-mulher de um e sessenta e quatro. Ela aninha a cabeça no meu peito e sua respiração na minha pele faz um bem danado.

_É, a tribo só se reuniu quando Iracema foi estudar fora. Aí, um dia, um homem mau a parou na rua. Ele tinha nos olhos toda a cólera dos novos tempos. Toda raiva sem sentido que as pessoas frustradas carregam. Assaltou-a e tentou violentá-la. Falou e fez coisas horríveis. Ela nunca pôde falar pro cacique ou pra mãe.
_ (...*)(...*)Os homens são uns animais, né? Deviam ser todos castrados... (...*) Ela não ficou com trauma de sexo?
_ De sexo não, mas ficou com medo de sair de casa por um ano...
_ E aí?
_Aí, ela encontrou um louco que pensava que era príncipe, um bufão. E ele animou sua vida, enquanto as cicatrizes fechavam.

Sou um palhaço triste, já escrevi e repito, agora, você me tirou dessa. Obrigado. Olho pra sua cara, seis e meia da manhã. O primeiro ônibus passa sete e vinte e leva até o centro. O segundo você pega quinze pras oito. Volta direto pra aula às sete da noite. Amanhã, vou pensar que sou uma franga com medo da vida e você é forte como ferro. Mas agora, só olho pra você, abraço seu corpo, e peço que dEUS transforme sua meia hora de sono num dia inteiro.

*(...) = Silêncio da vida real.

***
-Leia também "Mulheres I: Anjas Tortas"
Foto: Eloisa G


Quando acorda, Ana tem cara de vermelho. Faz barulho, um barulho estranho, meio perdida. Quando volta ao nosso planeta, é toda um sorriso bonito, gosto de curiosidade, cheiro de auto-estima, parece criança feliz, descobrindo o mundo com uns olhões arregalados. Nunca transamos, mas adoro acordar com ela ao meu lado. Sentir seu corpo inteiro junto ao meu, todo branco, cheio de pontas vermelhas. Ela beija minha boca com gosto, diz que é boa porque babada.
Ana gosta de meninas e gosta um pouco de mim. Já gostou mais, mas ainda somos amigos. Nunca cheguei nem perto da sua virgindade. Ela só dorme com mulheres, diz que casa virgem. Pelo menos, de homens. Beijo cada dedo do seu pé e ela fica louca, se contorce. Depois pratica com a namorada, diz que a iniciei nos “prazeres do pé”.

Completa em sua ingenuidade.

Às vezes, ficamos horas na cama, nus, beijando corpos, átomos, células e futuros cadáveres. Todo mundo é um necrófilo por antecipação.

Um dia beijou o professor de literatura, agora têm um caso. “E a gente, Ana, o que nós temos??”
Não sei se te amo, se vou te amar ou se te amei. Sei que gosto muito de ficar com você. Um abraço seu cura minha carência, meu medo da vida, meu medo da morte. Nos teus braços, sou imortal por um instante. No teu abraço, uma eternidade supérflua.

Ela ainda fica comigo, porque sou o único que não me apaixono por seus cabelos cor de fogo. Todos, homens e mulheres estão aos seus pés. Eu também estaria se não fosse cego e louco. Um perdido na vida, não faço por mal. Ela sabe disso e se diverte. Deixa que eu beije seu piercing no mamilo, puxo com os dentes, coloco a mão no meio da suas pernas. O telefone toca. Uma “EX”. Primeiro minha, e depois a dela.

A minha quando acorda é verde, tem cheiro de braveza, mas gosto de desafio. Sonhei que um dia as duas se beijavam. Não importa, a Ana sai voando pela sala e volta no dia seguinte, até que eu enjoe das preliminares e ela enjoe de barba. Então cada um de nós vai procurar dormir com uma mulher diferente. E a história acaba assim.

***

Quando acordo sozinho a vida parece cinza, tem gosto de vazio e cheiro de solidão. Abraço forte o travesseiro e fico acordando com falta de ar. Sozinho, de cueca, o mesmo pesadelo de sempre, sinto como se fosse morrer e me cago de medo. Sou mais um perdido numa noite suja. Só. As mulheres com seus sorrisos preenchem meu eu. Sou viciado em seus hormônios e, sem seus encantos, só brEU.
Só.
EU

“De perto nem os anjos têm asas.”

Leia também:
-Milagre na Rua Augusta
-Sim, eu já tentei matar o Paulo Coelho
-Amor em tempos de Aids

13.3.10

Geraldinho - Glauco

Clique para ampliar


Acho que os primeiros quadrinhos que li na vida foram os do Geraldinho e os da Turma da Mônica, logo que me alfabetizei. Só que, enquanto a A Turma da Mônica era mais careta, o "moleque com a garrafinha na cabeça" era maluco, bagunceiro e nonsense. Seu mundo tinha umas cores esquisitas, e eu adorva ficar copiando o traço dele nos cadernos.

Geraldinho saía toda semana na Folhinha, o caderno infantil da Folha de S. Paulo. Hoje, eu nem me ligava mais tanto no trabalho do Glauco, mas quando ele morreu foi um bocado estranho. Como se um tio tivesse sido assassinado. Um tio malucão, engraçado, de quem você adorava as piadas quando era pequeno e que, agora, mesmo as piadas tendo perdido a graça, você ainda guardava carinho.

Pô, e os "Los Três Amigos"? Nunca mais teremos um revival da formação original...


É, vais fazer falta, Glauquito.



Veja também:

- Conheça a história da revista Chiclete com Banana, do Angeli

Punk 77 - Inglaterra

Clique nas imagens para conhecer as bandas da geração 77 do punk inglês


Boys, The


Crass


Dammed, The



Eddie and the Hot Rods


Generation X



Jam, The



Sham 69

11.3.10

lettering, heart, radiohead - Mari Coan

Quinta-feira é nosso dia de arte.


Jigsaw falling into place, do Radiohead. Nanquim, lápis e aquarela sobre papel.


Nó cego. Lápis e aquarela sobre papel.

Descobri a Mari Coan através do Gabriel Gianordoli, sócio não pagante do nosso extinto clube imaginário de ideias. Espero que ela goste de descobrir suar arte aqui. Vale a pena conferir mais no Flickr dela

Veja também:
-A psicodelia de Cecilia Di Giacomo
-O jazz de denisdme
-As colagens de Sabrina Barrios

***
Post originalmente publicado no finado Clube de Ideias

9.3.10

Danica McKellar - Musas nerds

-Maiores nerds das séries de tv

Para os internautas que queriam mais nerdice e mais mulégata, eis a solução perfeita: Danica Mckellar, mais conhecida como a cdf Winnie Cooper do seriado "Anos Incríveis". A morena cresceu, virou um mulherão, se formou em matemática na UCLA, escreveu alguns livros e fez até uma participação na série nerd que todos amamos: "Big Bang Theory".


Quem dizia que não existia nenhum bom motivo para estudar matemática estava errado. Kevin Arnold que não abra o olho...

Veja também:

-Fernanda Young e nossas musas com cérebro
-Rap de nerd
-As mulheres punk bregas

7.3.10

5 musas dos quadrinhos

Ranking com as maiores gatas das hqs. Produzimos o vídeo para o site da Mundo Estranho, no programa Hot 5. Acho que nunca chegou a ir ao ar.



Roteiro: Fred Di Giacomo
Voz: Gabi Portilho
Vídeo: Gasolina Filmes

6.3.10

Nação Zumbi: Da lama ao (zine) KAOS, entrevista em Bauru.

Eu estava no terceiro ano de jornalismo na Unesp-Bauru, e tocava o zine Kaos! com meu irmão. Tínhamos um site(criado pelo Thiago Montanari) e uma edição impressa- ou melhor, xerocada -, que sempre trazia uma entrevista musical nas páginas centrais. Em 2004, a Nação Zumbi veio tocar no Sesc com o dançarino Nelson Triunfo. Eu e o amigo Eduardo Moraes fomos até lá entrevistar os caras. Conseguimos falar com os percussionistas Toca Ogam e Marquinhos, que estavam, digamos, no “caminho do Blunt of Judah”. A entrevista chapada não ficou 100%(tinha um monte de estudante querendo entrevistar os caras pra vários trabalhos e jornaizinhos), mas resolvi ressuscitá-la aqui ao lado de outras entrevistas do KAOS que já republiquei.

***

Toca Ogam no caminho do Blunt of Judah

O dia do trabalhador(01/05) foi comemorado com um dos melhores shows já vistos em Bauru-SP. Dez anos após tocarem no Sesc local pela primeira vez(acompanhando Chico Science), a Nação Zumbi voltou quebrando tudo em uma performance eletrizante. Contaram ainda com a participação especial de um dos primeiros ativistas do hip hop; Nelson Triunfo. Após o show, Fred Di Giacomo e Eduardo Moraes participaram de entrevistas com os artistas, de onde voltaram com hip hop, turnês internacionais e fotos inspiradas de Renato Bueno.

Vamos começar falando da turnê. Onde vocês tocaram no ano passado(2003)?
Marquinhos: A gente saiu do Brasil e tocou num festival conhecido como Omex, tocamos em Sevilha, né, Toca?
Toca Ogam: Sevilha, fizemos Madri também e outras cidades da Europa....

E os discos, foram lançados lá fora?
T.O. :
Sim, o “Rádio S.amb.A.” foi lançado lá, o “Afrociberdelia”...
M: O “Nação Zumbi”...

Como é que o público reage lá?
T.O.:
Quando você vai tocar pra gringo, nas 5 primeiras músicas eles começam só a balançar a cabeça, mas depois eles vão se soltando e começam a dançar, gritar. Lá eles fazem muita ligação da gente com o Olodum.

O que você acha do potencial de misturar a música tradicional com a música eletrônica?
T.O.:
Misturar todo mundo mistura, o negócio é misturar e dar um bom gosto. Não pode ficar amargo.
M.: Misturar e criar um som que continue na estrada não é fácil. Cada dia estão surgindo coisas novas, ideias novas. Você tem que ficar ligado. Ouvindo música, lendo muito, pra poder fazer um trabalho legal. O mercado hoje no Brasil é muito difícil.


Vocês têm uma preocupação social nas letras, o que acham da explosão do movimento hip hop, dos Racionais?
T.O.:
Racionais eu acho foda. Eles têm mesmo que falar, é o trabalho deles.
M.: Eles falam das coisas que acontecem realmente na periferia, na cidade. Eu acho isso maravilhoso.
Como está a cena de Recife hoje?
M.:
Rolou o Abril Pro Rock agora, vocês ficaram sabendo, né? Não deu pra gente estar lá, mas sempre têm festivais. A gente mora em Peixinhos e tem um movimento grande lá. A gente faz festa e está sempre movimentando o bairro. A coisa no nordeste está crescendo cada vez mais, estão aparecendo bandas novas.

Tem bandas novas legais?
M.:
Tem alguns caras que a qualidade da música... Não é só fazer música por moda, sabe? Nego vê a gente tocando, fazendo som e trabalhando pelo mundo e acha que vai ser legal fazer isso, mas não é só isso. Tem que ter a vibe, o groove...

T.O.(interrompendo): O comércio da música é muito grande. Hoje qualquer um grava e eu acho que não é por aí. Tem que ter um respeito pra se fazer música. Tem banda que tem um puta bom trabalho, mas não tem condições, que toca com guitarra emprestada. Você tem que ter coragem, encarar, e no final têm 10.000 nego te aplaudindo. Foda-se o resto. Tem várias bandas que vão atrás de rádio, pra que ir na rádio? Deixa a rádio ir até você.


2004

4.3.10

São Jorge Descansando - Cecilia Di Giacomo

Quinta-feira é dia de arte

São Jorge Descansando ou Ogum que nos proteja


Vida :
UIVO DO VENTO
CHEIRO DE LAMA
PELE NA PELE
UMA PUTA LUA CHEIA
São Jorge mais o dragão


Cecilia Di Giacomo tem cabelo vermelho, é socióloga, pinta, mas também escreve poesia e esculpe. Seus olhar feminino(ista) está sempre em cima de corpos e sensações.

-Mais diversão e arte

2.3.10

Onde vivem os monstros - Resenha do livro de Maurice Sendak

-Todas resenhas
“Onde vivem os monstros” é um filme hype de Spike Jonze, candidato a ser o “História sem fim” da geração iPod.

***

“Onde vivem os monstros” é um clássico da literatura infantil americana, escrito e ilustrado por Maurice Sendak, em 1963, e amado por gente como Barack Obama. Ele é o primeiro de uma trilogia com “In the Night Kitchen”(“De noite na cozinha”, 1970) e “Outside Over There”(Lá fora logo ali, 1981). Depois de uma recepção fria, o livro abocanhou prêmios como o Hans Christian Andersen, a Medalha Caldecot e o American Book Award.

***



Li o curto texto do livro de Sendak em uma rápida sentada antes de ir trabalhar. A luxuosa edição da Cosac Naif deixada ao lado da televisão me seduziu. Terminei e pensei “Pô, é só isso?” Bolei uma resenha gigante falando das imagens que vão aumentando quanto mais o garoto Max entra no seu mundo imaginário até tomarem toda a página nas brincadeiras com os monstros. Na solidão divertida da infância. Em como eu tinha criado uma expectativa maior do que o livro pudera me oferecer.

Tudo muito adulto.

Reli o livro. Lembrando de quando era criança. Seria um dos meus favoritos. Isto basta.

A resenha de um livro não deve ser maior que o próprio livro.

Cena do filme de Spike Jonze

Veja também:
-HaiKais Animais
-Memórias inventadas - A infância, Manoel de Barros
-Posts sobre cinema

1.3.10

Rita Cadillac - Musas Pin Ups

-Todas musas do blog

Rita Cadillac é a maior pin up do Brasil. Alguém duvida? Mesmo tendo feito carreira em ensaios sensuais, Vera Fisher, Xuxa e Sônia Braga seguiram outras carreiras de sucesso. Feiticeira e Tiazinha não duraram uma década. Algumas vedetes da era do Rádio foram esquecidas, mas, por uma série de motivos, Rita continuou. E sua carreira é relembrada agora no documentário "Rita Cadillac: A Lady do Povo", de Toni Venturini.


Cadillac tem uma história muito parecida com a de Bettie Page - maior pin up da história. Adolescentes simples, com um corpo cheio de curvas precoces, as duas foram vítimas de violência sexual ainda jovens. Rita foi violentada pelo próprio marido. Separada e sem dinheiro, utilizou os conhecimentos das aulas de dança para estrelar shows, nos quais aprendeu com a transformista Rogéria os segredos da sensualidade. Do posto de chacrete passou a estampar pôsteres e capas de revista, de onde não saiu até hoje. Deve ser uma das pin ups com mais anos de atividade da história. A sensualidade de Rita, a princípio, era implícita. Fotos eróticas, rebolado de maiô, pornochanchadas. Foi nos anos 2000, da geração de mulheres frutas, que a veterana Lady do Povo teve que se adaptar aos novos tempos de plástico. Siliconada, gravando filmes de sexo explícito, Rita chorou.

Trailer: "Rita Cadillac, a Lady do Povo"


No currículo, a musa carrega o título de Rainha do Bumbum(o que no Brasil vale mais que o sobrenome Orleans e Bragança), os filmes "Aluga-se Moças"(assim mesmo com erro de português) "Asa Branca" e "Carandiru", ensaios para revistas "Status" e "Sexy", o hit thrash "É bom para o moral" e sucesso em presídios e garimpos. Uma carreira que merece admiração? Bom, merece respeito, e é respeito que a nossa pin up ganha no documentário de Toni Venturini.

Veja também:
-Mais trailers
-Galeria de pin ups
-As curvas de Bettie Page

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