30.11.09

"Camisa de Vênus", 1983 - Camisa de Vênus

-Curte a poesia maldita de Augusto dos Anjos?


Os cinco malucos da capa são mal encarados e carregam polêmica encharcada até os ossos. A banda começou num terreno improvável: a Salvador de 1982. Nas rádios tocava Gilberto Gil, Pepeu Gomes e Axé. A Bahia era a terra de Antônio Carlos Magalhães, do carnaval e do acarajé. Mas os 5 da capa gostam de rock ‘n’ roll e punk rock, falam palavrões e se declaram “a única banda heterossexual do mundo”. Espete sua agulha ou dê play na MP3. Vamos dissecar mais um crássico do nosso (punk) rock brazuca.

Polêmica 1
Depois de fazer sucesso com seu primeiro compacto(“Controle Total”, versão de “Complete Control”, do Clash), a banda formada pelo radialista e rocker Marcelo Nova, Robério Santana (Baixo), Karl Franz Hummel (guitarra base), Gustavo Mullen (Guitarra solo) e Aldo Machado (Bateria) já lotava casas em Salvador e recebeu proposta de contrato para gravar um disco, que inicialmente deveria sair pela pequena Fermata. De olho no potencial que aqueles roqueiros poderiam atingir no auge do Brock dos anos 80, a Som Livre se dispôs a lançar a bolacha que levava o nome da banda em 1983. Aí que rolou a primeira confusão. Com a promessa de ganhar divulgação na Globo e demais televisões os engravatados da Som Livre propuseram a Marceleza e Cia que o Camisinha mudasse para um nome “mais família”. Putos da vida, os caras propuseram chamar-se “Capa de Pica” e foram demitidos. Passaram meses ralando em São Paulo à base de sanuíches até que a RGE oferecesse um contrato para os caras e eles estourassem no Brasil inteiro com o hit “Eu não matei Joana a Darc”. Rádios conquistas, a gravadora relançaria “Camisa de Vênus” com o selinho “incluindo Bete Morreu”.




Polêmica ao quadrado
Mas pera aí, o Camisa de Vênus era punk? Bom, Marcelo nova odiava o rótulo de “punk baiano”, que colou na banda no começo de carreira. A real é que os caras do Camisa eram rockers que, de saco cheio da cena da época, se empolgaram com o retorno às raízes que os punks 77 propunham. Aliás, “Camisa de Vênus” é provavelmente o único disco de punk 77 feito no Brasil, já que a maioria dos punks paulistanos curtia mesmo era hardcore inglês e finlandês. No álbum, além das letras críticas/sacanas, do visual da banda - com cabelos espetados, roupas pretas e jaqueta – e dos instrumentos toscaços usados nas gravações, é marcante a presença de quatro versões de clássicos do punk britânico.

Mas e o som? Bom, vale lembrar que esse disco foi lançado antes de “Crucificados Pelo Sistema” do RDP, considerado o primeiro disco de uma banda punk/hc da América Latina. Em suas páginas, a revista Showbizz relembrou: “São Paulo já sabia. Mas o resto do Brasil só foi aprender a pogar mesmo com "Meu Primo Zé", "Bete Morreu" e outras obras-primas do disco de estréia do grupo de Marcelo Nova.(...) Certo, com chupações creditadas e não-creditadas de Jam, Buzzcocks & Cia., mas bem aclimatado à baianidade irrevogável dos instrumentos (de péssima qualidade), dos instrumentistas e, principalmente, do sotaque de Marcelo.” O disco abre com “Passamos por isso”, que esculacha MPB e satiriza “Brasileirinho”(que o “inimigo da banda”, Pepeu Gomes tinha imortalizada em versão guitarreira). A vocal de Nova é quase declamado, suas letras são ácidas, o som da banda é abafado. “Metástase” tem a ótima letra chupada de “Where Next Columbus” do Crass. “Bete Morreu” é o primeiro hit do disco. Um catarro sádico, narrando o espancamento, estupro e morte de “Bete” a rainha da escola, patricinha perfeita. “Negue” adianta o punk brega de Wander Wildner em mais de 10 anos, trazendo uma versão raivosa para a clássica dor de corno da MPB. “O Adventista” transforma “I Believe” do Buzzcocks em hit, citando Xuxa e Pelé e Flávio Cavalcanti na letra. “Pronto para o suicídio” é a porrada mais punk do álbum, que acaba com outro hit roqueiro, “Meu Primo Zé”. Fazendo discursos em seus shows performáticos, Marcelo Nova colecionava inimigos na crítica e cena da época, detonando tudo na MPB com exceção de Raul Seixas(um de seus grandes ídolos) e os artistas marginais(como Walter Franco e Jards Macalé, que o Camisa regravaria).



"Bete Morreu" com áudio ruim e participação de Clemente, dos Inocentes



Outras resenhas de punk nacional:
-Pela Paz, Cólera
-Mais podres do que nunca, Garotos Podres

Polêmica – a vingança final

Mas o Camisa de Vênus fazia plágios de bandas gringas? Apesar, de afirmarem que tinham um som original e não copiavam ninguém lá fora, os baianos realmente eram craques em fazer versões de músicas undegrounds estrangeiras. Tudo bem, Roberto e Erasmo Carlos também começaram assim, não é? No primeiro disco estão creditadas as “inspirações” em “That’s Entertainment” (The Jam) e “I Believe” (Buzzcocks). Mas os caras esqueceram de dar crédito em “Metástase” (“Where Next Columbus”, The Crass) e “Meu primo Zé” (“My Perfect Cousin”, Undertones). Em defesa de Marceleza, tem-se que afirmar que suas versões sempre incluíam atualizações para a realidade nacional, com exemplos do cotidiano brasileiro, e que suas letras “não chupadas” também não perdiam o fio da navalha. E pra acabar com a discussão, um trechinho de entrevista dos caras para Bizz, em janeiro de 1987:

BIZZ- E essa coisa de roubar refrões?
Marcelo - A gente sempre usa isso. Em cada disco tem uma música que a gente faz isso.
BIZZ - É uma brincadeira?
Marcelo - É uma brincadeira.
Gustavo - Que também pode ser levada a sério.
Marcelo - Não, é uma brincadeira, eu não estou plagiando, só estou tirando um sarrinho, posso?

Se você gostou desse disco, ouça também "Viva", do Camisa de Vênus

29.11.09

Três - Ana Alice

O tempo que lhe cabe
Pra fazer
Dois
É o mesmo de correr o risco
de ser
um.

E todo
Em parte
Tripartido
Pelo ir
Vir
E encontrar.

Mas se não der
Azar.

Ana Alice Gallo nasceu em Ribeirão Preto, vive em São Paulo e é canhota, além de escrever poeminhas bacanas, é baterista e jornalista. Evita o estresse com doses de zen drugs e toca nas bandas Milhouse e Liga das Senhoras Católicas. Leia mais textos dela no brog Credencial Tosca.


Amor nosso de cada dia - Bárbara dos Anjos

O amor que mora na casa do lado está morrendo.
Romântica que sou, detesto ver um amor morrer.
Fico nostálgica pelos outros.
Triste pelo vazio que vai ficar.
O vazio de risadas, danças e de brilho nos olhares.
Fico temerosa pelo tempo em que a tristeza pode morar ali, tão pertinho.
E não quero pensar nem por um momento que amor da minha casa pode acabar.
Ele é tão lindo, tão puro, tão tudo-aquilo-que-eu-sempre-sonhei. Tão amor.
Mas logo escuto sorrisos na casa ao lado.
Vejo flores renascerem.
Escuto novas músicas para se dançar.
E percebo: toda vez que um amor morre nascem pelo menos mais dois no seu lugar.
É disso que amor vive.
De se dividir. E de se multiplicar.
Até bater de novo (e pra sempre) em todas as casas da vizinhança.

Bárbara dos Anjos é jornalista, gaúcha e libriana. Acha que está saindo de um bloqueio criativo. Mas como boa libriana está meio insegura. O que você acha?

Desejo - Cecilia Di Giacomo


Cecilia Di Giacomo tem cabelo vermelho, é socióloga, pinta, mas também escreve poesia e esculpe.

=>Mais quadros da Cecilia aqui

Tão complicada quanto a mentira e o amor - Eloisa G

Fotos de Eloisa G



Era uma ruela qualquer, numa cidadezinha despretensiosa qualquer, onde estávamos quando eu pedi pra ele parar o carro. Sentia vontade de caminhar ao lado dele ao menos uma vez que fosse. Nunca havíamos caminhado juntos, lado-a-lado como um casalzinho de namorados pois sempre que nos víamos estávamos caminhando em direções opostas, ou sempre fingiamos estar. Cruzavamos, trombavamos... Nunca numa sintonia simples de simplesmente caminhar... Juntos. Quando despíamos nosso orgulho e desabotoávamos nossa censura, não havia tempo para caminhada... Não havia caminho, nem havia tempo. O sol poderia ir e voltar quantas vezes quissese que nós continuaríamos a olhar um ao outro incansavelmente como se fosse uma primeira troca de olhar num ínfimo instante de desejo. Os beijos eram sôfregos e os abraços desesperados, as pernas, tantas vezes bambas eram fortes e firmes, e o corpo se tornava um obstáculo entre duas almas querendo se fundir, enquanto o coração latejava, dilacerando o futuro num misto explosivo de dor e felicidade!
Ah! Como eu posso escrever sobre duas almas querendo se fundir, se na verdade era só a minha iludida que tentava me abandonar achando que teria para onde ir. Não teria, não havia nele espaço para nada além de seu egocentrismo, não havia nele espaço para mim, não havia nele espaço para meu amor, não havia nele espaço para amar.
Eu olhava para as casas daquela maldita ruazinha e tentava imaginar quem morava nelas, quem as havia construído e com que intenção... E tentava imaginar se aquelas pessoas, juntas sob o mesmo teto, eram ou algum dia foram tão felizes quanto eu era naquele momento, debaixo de teto algum.

Eloisa G. um dia aprendeu que cada um dá o que tem no coração e cada um recebe com o coração que tem.

Antônio Casamenteiro - Fabiane Zambon

Antônio Casamenteiro(Bobagem Assertativa de Passagem II)

No bar
- "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", já dizia Caetano.
- Exato!

No táxi
- O caminho que for mais curto e rápido até minha casa.
- Farei o possível. Mas eu não posso encurtar o caminho. Ele existe assim, do jeito que é. Vou por este aqui, tudo bem?!
- Sim, pode ser. Não... espere! Vai por esse.
- Mas esse é mais longo.
- E não é o mais fácil. Digo quando parar. Se parar.
- Tudo bem...
- Já andou com passageiro assim?!
O taxista sorri.

- Nessa rua?!
- Sim. Pára. Ele mora aqui. O que eu faço?!
- Você vai descer aqui?
- Não sei. Estávamos entre amigos naquele bar. Queria ficar com ele, mas nem disse nada. Agora não sei é tempo.
- Entendi. Você é jovem. Solteira?
- Sim.
- E ele?
- Também.
- Então pode fazer dessas coisas! Peça para dormir aqui quando ele chegar. Não se arrependa, porque o tempo passa rápido.
- A vida que é curta.

- E então, moça?!
- Mais cinco minutos.
- Tudo bem.

- Por que não disse a ele que queria vir?
- Porque tive medo. Opinião dos outros.
- Não precisava. A vida é sua e não dos outros.
- É. Droga de dúvida! Ficou esse nó entalado. Pareço louca. Já teve passageira louca?
O taxista sorri.

- E se ele não vier, moça?!
- Só mais um tempo. Então, vamos embora.
- Tudo bem.

O taxista liga o rádio
Roberto Carlos - De que vale tudo isso?

- Gosta de Roberto Carlos?
- Espera. É ele! Vou lá. Me deseje sorte.
- Vai lá, menina. Boa sorte!

De volta ao táxi
- ...E então?!
- Bota. O caminho que for mais curto e rápido, por favor.
- Você é jovem, simpática, bonita. Não entendo ele, não...
- E maluca. Eu o entendo.
- É nada. Teve coragem de fazer o que sentia.
Disfarçando, ela sorri.

- Não fica triste.
- Ficar triste faz parte disso. Dói, depois passa. Que passe rápido...
- Não fica triste, não. Já amei muito. Casei sete vezes! Agora estou solteiro. Pois quer saber como é um casamento?
- Pois, fale.
- Casamento é assim: começa embarcando tranquilo na Paraíso e sai sufocado na Consolação!
Eles sorriem.

- Qual é o seu nome?
- Antônio! E o seu?
- Maria.
- Maria Aparecida?!
- Não. Maria Elena.
- Nome bonito.
- Que ironia. Você tem o nome de Santo Antônio. Justo o santo casamenteiro.
- Verdade, logo eu. Mas acho que se é assim é para dar conselho por experiência própria. Esquece esse que logo vem outros para você conhecer. E será muito amada, viu?!
- É?!
- Sim. Confie no que falo! Mas não se case por enquanto. Namore daqui, junte dali. Depois para separar é mais fácil.
- Livres assim.
- E assim que é.

- Chegamos! É aqui. O dinheiro.
- Espere! Balas do taxista para adoçar a vida.
- Não, obrigada, Santo Antônio.
- É uma delícia! Leve.
- É, levarei de leve.

*Agradecimos ao Antônio, o casamenteiro-santo-conselheiro-taxista.

Fabiane Zambon é atriz, libriana, designer multimídia e escreve textos zaizers no seu Loading Myself

28.11.09

A Cobra Vai Fumar - Newsgame sobre Segunda Guerra

Mais um newsgame(jogo jornalístico) produzido pela equipe da Superinteressante online. Dessa vez você encarna um pracinha brasileiro tentando tomar Monte Castelo na Segunda Guerra Mundial. O game segue o estilo "point and click" de clássicos como Full Throttle.

Criação e Roteiro: Bruno Xavier & Fred Di Giacomo
Programação: Douglas Kawazu
Reportagem: Emiliano Urbim e Érica Georgino
Ilustração: Alisson Lima e André Maciel

O jogo começou em cima de uma reportagem de capa da Super sobre Segunda Guerra Mundial e demorou mais de 3 meses para ficar pronto.

-Mais jogos

Onipresença SMS -Felipe Van Deursen

Daquilo que chamamos indecisão dos diabos de querer estar em todos os lugares, ouvir todas as músicas, esvaziar todos os copos e ter todos os amigos na agenda do celular - mesmo que para isso desembolsemos R$0,33 por mensagem instantânea no plano standard de alguma operadora


Começou aí? Sepultura mais ou menos aqui...
Cheguei agora. Móveis meia boca. Estrutura idem. Gustavo bêbado.
Hahahahaha! Defotnes brutal, sepultura lixo...Derek should aposentate
Aqui máximo park suspendendo. E o mateus pode mandar bem.
Suspendendo?! Mateus é o novo lider!
Estamos molhados depois do splash. chapados. primal scream pra beijar o céu.
Dave navarro de botox, perry farrell ney matogrosso david bowie. Chorei
Bicha
Acho que aqui está mais legal e vc queria estar conosco
Hahahahaha! Agora vem fnm, bicho...Sem condições
Primal scream brutal. Estou louco e beijando. Mara. Vento.
Chuva da porra, me fodi
Aqui tá lindo. Mas a chuva deve chegar pro stooges
Chuva torrencial. Cobriram o palco. Show vai atrasar
Sonic com chuva. Encontramos gustavo. Bêbados
Cara., sem palavras aqui
Raw power, de surpresa. Chupa.
porracaralho!!
Subiram 150 caras no palco aí? Aqui é carisma, maluco!
Ah, tenho nem como explicar aqui... Acabou, chorei...
Mike patton fala portugues
Iggy fala paulista e tem controle sobre 241 Músculos Flacidos.
Hahahahahahahahahahahaha! Ganhou, ganhou...

Inspirado em 23 torpedos trocados entre os festivais Planeta Terra e Marquinaria por Gabriel Gianordoli e Felipe Van Deursen, que assina em seus projetos anárquicos como Clorofila.

26.11.09

The Jam - "In the City/That's Entertainment"

-Conheça outras bandas de punk 77 inglês

In the City



The Jam não foi só um dos melhores grupos punks da safra 77 britânica, como também foi o principal responsável pelo revival Mod do final dos anos 70. Com terninhos, franjas e covers de R&B, Paul Weller e Cia recriaram o estilo de Kinks e The Who na caótica Londres de Sex Pistols e The Clash.

Inicialmente formado como um quarteto, em 1976, a banda logo assumiu sua formação clássica: Weller nas guitarras e vocais, Rick Buckler na bateria e Bruce Foxton no baixo. O trio acabou em 1982, quando Weller começou sua carreira solo. Apesar de não ter feito muito sucesso nos EUA, o Jam emplacou vários hits na Grã-Bretanha, sobrevivendo ao hype inicial da primeira onda punk.

-Conheça a história por trás do primeiro disco dos Ramones

That's Entertainment


-Assista The Boys tocando "Living in the City"

24.11.09

Augusto dos Anjos - Eu e outros poesias, 1912

-Leia "Uma Visão Memorável" de William Blake
-Poema: "Meu medo"

Versos Íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Eu e outras poesias
"Eu" é o único livro publicado em vida pelo poeta paraibano Augusto dos Anjos. Mistura de técnica parnasiana com temas simbolistas e que acabou classificada na segunda metade do século XX como "pré-modernista", sua poesia se tornou popular apenas após a morte do autor.

O livro foi publicado de forma independente no Rio de Janeiro, em 1912. Após a morte de Augusto, foi lançada uma nova versão da obra com poemas inéditos que ficou conhecida como "Eu e outras poesias".

-Quer mais poesias
?

Versos a um coveiro
Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!



Augusto dos Anjos

Poeta queridinho de punks e góticos, Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos(Sapé, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) formou-se em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Dedicou-se ao magistério e chegou a ser diretor de uma escola. Morreu jovem, em decorrência de uma pneumonia. Uma das principais características de sua poesia é o uso de termos populares mesclados com expressões científicas/eruditas.

- Poesia punk, vai encarar?

Ao Luar

Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha tátil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado...

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!

-Autores consagrados

23.11.09

O que você prefere no Punk Brega?

Enquete encerrada com a participação de mais ou menos 1% dos nosso milhares de leitores(E são milhares mesmo, já passamos dos 4500 visitantes por mês em outubro). Os resultados foram:

1)Punk rock 32%
2)Poesias e contos 20%
3)Resenhas de livros 16%
4) Gatas com cérebro 13%
5)Vídeos 9%
6)Música em geral 6%

Vou ver se continuo mantendo os posts frequentes sobre punk rock e aumento a frequência de resenhas de livros e publicação de poesias/contos. Aliás, quem votou nessa última categoria poderia comentar mais os textos que publico aqui. Achei que ninguém lia... É isso, continuem participando de nossas enquetes. Abrax!

22.11.09

Apocalypto, Mel Gibson

-Trailers de cinema

Eu não costumo fazer resenhas sobre filmes dos quais não gosto. Mas Apocalypto(2006) de Mel Gibson realmente me irritou. Esqueça as atuações divertidas em Máquina Mortífera e Mad Max, Gibson, no papel de diretor, é um pé no saco.

Tudo começou com o super polêmico “A Paixão de Cristo”(2004, terceiro filme de Gibson como diretor). Não consegui assistir inteiro de tão monótono que era. Uma sequência interminável de espancamento e tortura exercida por judeus caricatos. Mas rapaz, que insensibilidade, espancamento monótono? É horrível dizer isso, mas a mão pesada de Gibson faz do martírio de Cristo algo tão sonolento como uma sessão do Senado brasileiro.




E lá vamos nós de novo com a visão de mundo caricatural e exótica de Gibson chegando às telas mais uma vez. Eu estava no ônibus, sete horas de viagem rumo ao sertão que é Penápolis, quando as imagens de um grupo de índios caçando apareceram na tela. Eles são uma tribo que vive no entorno do império Maia. “Caçaram com seus pais naquela floresta e o farão com os filhos de seus filhos”. (Zzzzzz) Cenas cotidianas e pastelão dão o tom de “vida feliz” na aldeia. Um dos índios, estéril, é sacaneado pelos colegas e pela sogra. Até que os malvados Maias atacam a aldeia. Parece o último filme do Rambo. As mulheres são curradas, as crianças arremessadas, os homens escravizados, a bucólica aldeia é queimada. Os Maias(posteriormente massacrados pelos espanhóis) não eram tão inocentes como nos ensinou a História. Ah, entendi, assim como os judeus de “A Paixão de Cristo”, né, Mr Gibson?

Seguimos então com os escravos sendo humilhados até chegarem à excêntrica capital do império. Indiana Jones não seria tão exagerado. É um reino grotesco. Um aleijado rouba frutas, um anãozinho saúda os sacerdotes, crianças pestilentas rogam pragas, mulheres com dentes podres, índios fanáticos, um homem trabalha até vomitar sangue. O império está em decadência e a única solução é o bárbaro sacrifício humano dos prisioneiros.(Ou o extermínio promovido pelos espanhóis, que no filme chegam altivos, em seus imponentes barcos, com um padre ao seu lado, é claro.) E dá-lhe sangue, cabeças decapitadas e corações arrancados. Uma civilização selvagem. O herói tem uma chance de escapar e corre ferido para a floresta. Voltamos, então, para o primeiro filme de Rambo: “Programado para matar”. Meia dúzia de soldados estão atrás do bom selvagem. Ele está em seu habitat. Foi provocado, apesar de honrado terá que matar. Seus meios: armadilhas e estratégias de guerrilha que vão derrubando um a um seus perseguidores.

No final, como Peri e Ceci, como Adão e Eva, nosso bravo herói sobrevive ao “Apocalypto” junto à mulher e sua prole.

¬ _Devemos conhecer os espanhóis, amoreco?
_ Não, vamos para a floresta, recomeçar a nossa vida.

Sim, quem sabe algum dia seus descendentes apareçam nas florestas da América Latina como um Noé do século XXI pós-dilúvio. Pobre do espectador que não poderá recomeçar a sua vida, eliminando esse filme de sua memória.

-"This is it" documenta ensaios para última turnê de Michael Jackson

20.11.09

Meu Medo

-Leia mais poesias

Tenho andado com medo...
“Medo de que?”
Medo da vida
da dívida
da dúvida.
Medo de tudo
do tempo
do vento.
Medo do Cristo
da crise
do sisto
Medo do erro
de ser
desejo

Tenho medo do erro,
E erro ao ter medo

Tenho medo do que não entendo,
E não entendo o medo.

Tenho medo da morte,
E morro de medo.

Meu erro
O medo.

Frico é poeta, jornalista, blogueiro, baixista. Ele gosta que as pessoas deixem comentários para suas poesias. COMENTA AÍ!

-Clube de Ideias: Novos artistas, poetas e cineastas
-Uma canção para São Paulo

19.11.09

Botinada - Trailer

-Mais punk rock



Documentário bem legal sobre o começo do punk no Brasil. Foca principalmente no movimento de São Paulo e mescla vários depoimentos da galera hoje(Mau, João Gordo, Ariel, Clemente, Redson, Morto, etc) com imagens da época. Se por um lado mostra o lado mais certinho do punk(todo mundo falando sentado e sóbrio, ao contrário de "Guidable" sobre o RDP, que mostra o lado podrão da banda), por outro acaba com a visão de que foi tudo uma bagunça organizada por maloqueiros da periferia. Baixe, compre ou roube!

-Documentário sobre o hardcore brasileiro nos anos 90

17.11.09

Zabriskie Point(1970), Michelangelo Antonioni

A trilha sonora instigante pontua os rostos que vão sendo exibidos em closes. Retratos de uma juventude que podiam ter sido tirados em uma convenção estudantil em Porto Alegre, na França ou na Tchecoslováquia. Sim, eram os anos 60. O mundo era um imenso coquetel molotov pronto para explodir. No cinema acontecia uma revolução por minuto(Hey, nem pensem na banda de Paulo Ricardo!). Dezenas de diretores inovavam no texto, no corte, na fotografia. Seus filmes eram as imagens vivas de um mundo que se transformava velozmente. Antonioni tinha contrato para fazer 3 películas em inglês. A primeira foi “Blow Up”, vencedora da Palma de Ouro em Cannes. A terceira, “Profissão Repórter”, com Jack Nicholson. “Zabriskie Point”(1970), retrato da contracultura americana ficou um pouco desvalorizado entre os dois.

Trailer



As imagens que se revelam lentamente na câmera de Antonioni parecem quadros que se movimentam. O céu azul, as areias da Califórnia, o sangue no rosto dos estudantes. Cada take de suas lentes é uma obra de arte que poderia ser estudada separadamente. Juntos, fazem de “Zabriskie” uma experiência visual saborosa.

-Conheça a autobiografia de Timothy Leary o papa do LSD
-Resenha psicodélica de Sgt. Peppers dos Beatles

Mark(vivido por Mark Frechette) é o protagonista da história ao lado de Daria(Daria Halprin). Uma espécie de James Dean hippie, ele está de saco cheio do blá blá blá das reuniões estudantis. Quer pegar em armas. Quer ação. Está pronto pra “morrer antes dos 30” como gritava o The Who em “My Generation”. Durante a greve de alunos, ele acaba sendo o principal suspeito de ter matado um policial. Daria é secretária. Ela tem que atravessar o deserto até Phoenix para encontrar seu chefe, um empresário do ramo imobiliário que está construindo um mega condomínio na Califórnia. No meio do caminho, os dois jovens se encontram.

A cena de amor na areia é uma das coisas hippies mais legais já feitas até hoje. Parece ter sido extraída de uma versão mais selvagem do musical Hair, com as curvas da bela Daria salpicadas de pó, o casal se enlaçando nas dunas de Zabrieskie Point ao som da trilha psicodélica e o ato da criação multiplicando-se na pele de milhares de jovens que surgem como uma alucinação. A trilha, inclusive, é outro banquete sinestésico reunindo nomes importantes do flower power como Rolling Stones, Pink Floyd e Greateful Dead.




Vale destacar que muito antes de “Cidade de Deus” sonhar em existir, Zabriskie foi quase todo rodado com atores amadores, alguns sem qualquer outra experiência na frente das câmeras. Mark na vida real era um radical que morava em uma comunidade hippie. Depois de atuar em mais dois filmes italianos(“Many Wars Ago” e “La Grande Scrofa Nera”), acabou sendo preso por assalto a banco e morreu na cadeia num estranho acidente com um halteres. Harrison Ford também dá as caras em um minúsculo papel, fazendo parte da manifestação de alunos no posto policial.

-Assista mais traileres
-Psicodelia High-Tech

O momento em que Daria imagina a explosão do condomínio e de todo o american way of life é um grande orgasmo revolucionário. O sonho de todo jovem daquela geração era que o frango, as casonas e os televisores fossem implodidos junto com os velhos, para que a juventude pudesse fazer amor livre no deserto, voar em aviões multicoloridos e começar a História(com h maiúsculo) toda de novo.

Foram-se os sonhos, mas ficaram os belos filmes.

15.11.09

Crass - Where Next Columbus?

-Dead Kennedys tocando "Holiday in Cambodia"

Where Next Columbus


Estou fazendo uma pesquisa para escrever a resenha do primeiro disco da banda baiana Camisa de Vênus. E não é que achei mais uma "versão" não creditada de punk inglês no disco? Dessa vez, Marceleza deu uma "chupadinha" na letra de "Where Next Columbus" dos anarcopunks 77 do Crass. Confira a letra no final do post. Mas antes, um pouco mais de história, na nossa série "punk 77 inglês":

-Confira mais bandas da safra 77 britânica

The Crass
Os caras do Crass foram responsáveis por criar o que se chamou de Anarcopunk, uma forma de punk muito mais política que o "anarchy in UK pra chocar velhinhas" dos Pistols e mesmo o rock de esquerda do Clash. Na experiência do Crass tudo era levado mais ao extremo: as letras, as músicas(Com experiências de colagens sonoras, poesia e vários vocalistas) e o estilo de vida. A banda surgiu numa casa comunitária chamada Dial House a partir de jams entre Penny Rimbaud e do, fã de Clash, Steve Ignorant. O grupo que já vivia no esquema "Do it yourself", se empolgou com os primeiros punks e sentiu-se acolhido por aquela cena que explodia em Londres. O ano era, obviamente, 1977. Pelas fileiras do Crass passaram além de Penny e Ignorant: Gee Vaucher, N. A. Palmer, Phil Free, Pete Wright, Eve Libertine, Joy De Vivre, Mick Duffield, John Loder e Steve Herman. Os shows no começo eram toscos e mal tocados e as únicas pessoas na platéia eram os integrantes do UK Subs, que iam se apresentar logo depois do Crass. Com o passar do tempo, a banda adotou uniformes pretos(segundo eles para que ninguém fosse "o líder" e todos integrantes tivesse importância igual) e a performance se elaborou com experimentos com vídeos sendo exibidos, enquanto tocavam. O coletivo chegou ao fim em 1984, já desiludido e crítico em relação às outras bandas da cena.



-Poesia punk

Where Next Columbus?
Anothers hope, anothers game
Anothers loss, anothers gain
Anothers lies, anothers truth
Anothers doubt, anothers proof
Anothers left, anothers right
Anothers peace, anothers fight
Anothers name, anothers aim
Anothers fall, anothers fame
Anothers pride, anothers shame
Anothers love, anothers pain
Anothers hope, anothers game
Anothers loss, anothers gain
Anothers lies, anothers truth
Anothers doubt, anothers proof
Anothers left, anothers right
Anothers peace, anothers fight

Marx had an idea from the confusion of his head
Then there were a thousand more waiting to be led
The books are sold, the quotes are bought
You learn them well and then you're caught

Anothers left, anothers right
Anothers peace, anothers fight

Mussolini had ideas from the confusion of his heart
Then there were a thousand more waiting to play their part
The stage was set, the costumes worn
And another empire of destruction born

Anothers name, anothers aim
Anothers fall, anothers fame

Jung had an idea from the confusion of his dream
Then there were a thousand more waiting to be seen
You're not yourself, the theory says
But I can help, your complex pays

Anothers hope, anothers game
Anothers loss, anothers gain

Satre had an idea from the confusion of his brain
Then there were a thousand more indulging in his pain
Revelling in isolation and existential choice
Can you truly be alone when you use anothers voice?

Anothers lies, anothers truth
Anothers doubt, anothers proof

The idea born in someones mind
Is nurtured by a thousand blind
Anonymous beings, vacuous souls
Do you fear the confusion, your lack of control?
You lift your arm to write a name
So caught up in the identity game
Who do you see? Who do you watch?
Who's your leader? Which is your flock?
Who do you watch? Who do you watch?
Who's your leader? Which is your flock?

Einstein had an idea from the confusion of his knowledge
Then there were a thousand more turning to advantage
They realised that their god was dead
So they reclaimed power through the bomb instead
Anothers code, anothers brain
They'll shower us all in deadly rain

Jesus had an idea from the confusion of his soul
Then there were a thousand more waiting to take control
The guilt is sold, forgiveness bought
The cross is there as your reward
Anothers love, anothers pain
Anothers pride, anothers shame
Do you watch at a distance from the side you have chosen?
Whose answers serve you best? Who'll save you from confusion?
Who will leave you an exit and a comfortable cover
Who will take you oh so near the edge, but never drop you over?
Who do you watch



-Mais posts sobre música
-Grandes baixistas punk

14.11.09

Meu pai é um livro

-Abuelita

Meu pai e seu livro
Sempre - Na biblioteca
entretido
Meu pai e um livro
Gostava mais de palavras
que dos amigos
Meu pai é um livro
Cheio de mistérios,
difícil de ser lido
Meu pai é um livre

Um vôo de cisne.

-Mais poesias

12.11.09

Red Hot Chili Peppers tocando Ramones

Red Hot tocando três covers do Ramones e falando sobre a banda, em show tributo. Não conhecia e achei massa.



-Conheça o primeiro disco dos Ramones
-Todas as notícias de música

9.11.09

Bettie Page - Musas Pin Ups






-Galeria de Pin ups
-Dita Von Teese recria o clima das pin ups


Tem um monte de títulos que tentam explicar o charme e a beleza de Bettie Page: "a rainha das curvas", "A Miss Pin Up Girl do Mundo"(título dado pelo próprio Hugh "Playboy" Hefner), "a maior modelo do século XX". Todas essas frases de efeito só aumentam, mas não explicam, a mística em torno dessa americana, nascida Bettie Mae Page , em Nashiville, 1923.

Bettie, filha de Walter Roy Page e a Edna Mae Pirtle, teve uma infância difícil. A família era pobre, ela passou um tempo no orfanato com suas irmãs e foi vítimo de abuso sexual. Seu próprio pai a violentou, quando ela tinha 15 anos.











Mas a história de Bettie não fica só no terreno da tragédia. Ela foi uma excelente aluna na escola, graduou-se bacharel em Artes na Peabody College e casou-se com Billy Neal. Foi o fotógrafo amador e policial, Jerry Tibbs quem clicou Bettie pela primeira vez. Sua franja e suas lingeries revolucionariam a moda. Disseram que Marilyn Monroe era a pin up mainstream e Bettie a pin up undeground. Eu digo que Bettie foi "a" pin up e ponto.

Nos anos seguintes, Bettie ficou famosa. Estampou as revistas "Eyeful", "Beauty Parade" e "Wink". Foi capa da Playboy de janeiro de 1955. Provocou a ira dos conservadores norte-americanos com suas fotos de inspiração sadomasoquista. Teve que depor no senado por seu "envolvimento com a pornografia".

Em 1958, casou-se novamente e retirou-se da vida pública tornando-se uma religiosa fervorosa até morrer aos 85 anos em 2008.

Na cultura pop, imortalizou o estilo pin up, inspirou a namorada do herói Rockteer e ganhou uma biografia onde foi vivida com perfeição por Gretchen Mol.

-Página oficial
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-Trailer do filme "The Notorius Bettie Page"



7.11.09

"This is It" é "O Lutador" versão making of



-Mais música

“This is It”, filme que documenta os ensaios para a turnê de despedida de Michael Jackson, PODE ser o melhor making of da história da música. Mas continua sendo um making of, com todos os defeitos que isso acarreta.

Aqui não temos tomadas geniais, figurinos fantásticos ou inovações narrativas. No entanto, há uma boa história a ser contada: seria o canto do cisne do maior astro do pop. E ele morreu na véspera. Isso afasta o estigma de simples caça-níquel de “This is it”. Existe uma razão para o documentário existir.

A sensação que os ensaios passam é que Michael estava encarnando a trajetória de “O Lutador”, filme com Mickey Rourke(veja trailer abaixo). O personagem de Rourke é um veterano da luta-livre em decadência, seu rosto está deformado, ele toma remédios para continuar lutando, sua família está destruída e seus fãs são saudosistas. Quando descobre que tem um sério problema de coração, ele pensa em parar, mas vê que a vida fora dos ringues não faz sentido. Michael Jackson estava aposentado, mas o palco o chamava mais uma vez. A grande despedida. Como o personagem de Rourke, ele diz que seus fãs são sua família. Como Rourke ele dá seu último salto mortal direto na lona. O show não para.

-Assista mais trailers

Trailer de "O Lutador"

6.11.09

Grandes baixistas punk


-Assista os solos de grandes baixistas

O punk rock não foi construído em cima de grandes músicos, tecnicamente falando. O que valia ali, no mundo dos três acordes, era a criatividade, a atitude, a simplicidade em mandar sua mensagem direto pro ouvinte. Por isso, quando falamos de grandes baixistas na cena punk temos que considerar dois tipos: os que realmente tocavam bem e contribuíram para a hsitória do contrabaixo e aqueles que foram influentes. Abaixo segue nossa listinha. Se você não curtiu deixe seu comentário xingando e sugerindo outros nomes.

Sid Vicious, Sex Pistols






A adorável fraude. Ninguém tocou tão pouco para entrar na história do rock quanto Sid. Mas é ele que estampa a capa do livro "Rocks" do fotógrafo Bob Gruen e de "1001 discos para ouvir antes de morrer" de Robert Dimery, além de milhares de pôsteres, camisetas e até um filme, "Sid e Nancy".

Matt Freeman, Rancid






Dos poucos baixistas punk a constar sempre em listas de grandes instrumentistas do rock. Matt Freeman ataca em linhas de reggae e ska no Rancid, e é famoso pela velocidade com que que destrincha notas no solo de "Maxwell Murder". Provavelmente a única unanimidade dessa lista.







Robert Trujillo, Suicidal Tendencies & Inectious Grooves





Não vamos avaliar o trabalho do cara no mundo do metal. Mas no terreno do crossover do Suicidal Tendecies, Trujillo se destacou com seus slaps e grooves, atingindo seu ápice no funkeado "Infectious Grooves", o Red Hot punk. Um bom exemplo pra quem acha que baixistas de hardcore não podem ter boa técnica.







Darryl Jennifer, Bad Brains




Vindo de uma formação de jazz fusion, Darryl Jennifer segura forte a cozinha da virtuose hardcore que é o Bad Brains. Mesclando metal, funk, reggae e punk, o quarteto de Washington tem os melhores músicos que já passaram pelos 3 acordes. Mesmo sem ser um grande solista, Darryl merece entrar em qualquer lista que fale de bons músicos no HC.







Paul Simonon, The Clash







A Paul Simonon devem todos os baixistas de punk que passaram a tocar linhas de baixo inspiradas em reggae e outros ritmos negros. Anos luz à frente de seus conterrâneos, o jovem inglês inseriu groove nos três acordes, sendo o grande entusiasta do ritmo de Bob Marley no Clash. Além do ritmo jamaicano, Simonon se virou bem em incursões da banda pelo funk. É também o compositor do clássico "Guns of Brixton" e estampa a clássica capa de "London Calling" onde aparece destruindo seu baixo.







Fat Mike, NOFX






Carismático, o líder do NOFX é outro baixista a mesclar hardcore com reggae, trazendo linhas suingadas e cantando por cima. Contemporâneo de uma geração de bons músicos das 4 cordas no punk/hc.






Mike Watt, Minutemen & Stooges


O Minutemen é uma banda pouco conhecida dos EUA, que misturava punk com influências de funk, indie e jazz. Mike Watt, o baixista, foi um dos caras mais criativos do punk oitentista, mesclando slaps, palhetadas e escalas dedilhadas nas curtas músicas de sua banda. Desde 2003, Watt é também o responsável pelas 4 cordas dos Stooges.




-Lista com os melhores baixistas da história do rock


Flea, Fear & Red Hot Chili Peppers



Você me pergunta: que porra o Flea está fazendo nessa lista? E aí você esquece que ele tocou na banda de hc Fear por alguns anos(1982-1984). Além disso, como o próprio conta no vídeo acima, seu estilo é um cruzamento do groove de George Clinton com a intensidade do punk rock.








Pica-Pau, Ratos de Porão






O Ratos de Porão já tinha uns solinhos de baixo na época do Jabá, mas foi com o Pica-Pau que as 4 cordas tiveram seu melhor momento na discografia dos caras. O baixista gravou três discos clássicos(os dois "Feijoada Acidente?" e o "Carniceria Tropical"), sempre com o timbre gravão do seu Rickenbacker aparecendo em solos como de "Dotadão deve Morrer" e "Difícil de Entender", num estilo agressivo, mas que mantinha swing.






Dee Dee Ramone, Ramones




Comecei e terminei a lista com os piores músicos dos dez aqui presentes. Dee Dee sabia tocar baixo, mas era tosco. Não tinha técnica, mas foi o cara que influenciou Sid Vicious e companhia, fazia backing vocals, tinha presença de palco e compôs a maioria dos clássicos do Ramones. Dee Dee criou a figura do baixista de punk, com o instrumento no joelho, tocando com palheta e agitando sem parar. Entra aqui pelo pioneirismo.

***

Veja também:
-Melhores baixistas do heavy metal
-Lista com os 100 melhores guitarristas da história, segundo a Rolling Stone

3.11.09

Falo na testa - Conto

-Outros contos

Naquela manhã, Juarez Pensa acordou mudado. Sentiu seu rosto alongado. Uma cósquinha estranha na cabeça, onde se localiza o “terceiro olho” dos yogues, bem ali, no meio da sobrancelha. Acordou de pau duro, como sempre. Estranho, a testa também tinha algo enrijecido. Talvez uma espinha grande. Foi até o banheiro espremendo a espinha gigante. Ejaculou no espelho: tinha um pau na testa.

Suvenir City era uma cidade pequena, onde novidades voavam com velocidade da luz. Algumas novidades voavam com velocidade do som e outras preferiam voar de avião mesmo. A última grande notícia fora o menino que voara. Era um daqueles tipos estranhos, sempre sozinho no recreio, ruim de bola e grudado em livros. Um dia levantou da cama com um sobretudo preto. Seus pais estranharam. Lembraram-se dos massacres nas escolas americanas. A tal máfia do casaco. Meninos excluídos pelos outros vestiram-se com sobretudos pretos e abriram fogo dentro do colégio. Um horror! Ficaram com medo. O pai preocupado tratou de ter um diálogo franco com o filho:

_ Filho, você está se sentindo bem?
_ Sei lá, pai, estou meio diferente...
_Drogas?
_ Pai, eu nunca nem bebi.
_ Ah, não? Certo... Continua virgem?
_ Pai, eu nunca nem beijei uma menina...
_ Ah, certo... Você vai matar alguns alunos hoje?
_ Não pai, eu não tenho nenhuma arma. E eu tremo demais. Se fosse matar alguns alunos provavelmente atiraria no meu pé...
_Bem, então acho que está tudo bem. Tome seu café, senão vamos nos atrasar, eu te dou uma carona.

Café com leite tinha gosto de café com leite. Para o menino com asas tinha gosto de angústia. Leite com chocolate tinha gosto de tristeza. E café preto tinha gosto de ódio. Naquela manhã, achou o café com leite muito bom e sentiu um gostinho de luz no fim do túnel bem aprazível para uma manhã nublada. Manhãs nubladas tinham cheiro de nostalgia e forma de velhas fotos preto-e-branco.

Menino alado saiu de casa com sobretudo preto e entrou no carro do pai. Menino alado sentiu um comichão nas costas algumas semanas atrás. Menino alado entrou na escola, subiu na caixa d’água e voou alto. Ninguém entendeu. Acharam que eram drogas ou que ele era veado. Chamaram a polícia e os bombeiros. Chamaram o padre e um psicólogo. Chamaram também uma pizza. Meia aliche, meia calabresa como o diretor do colégio gostava. Menino alado voou alto, por entre os prédios de Suvenir City. Via o mundo diferente lá do alto. Cantou What a wonderful world, flutuando sobre dEUS.

O diretor parecia desesperado, gritava para que o moleque descesse. Um promotor veio ver se o menino tinha alvará ou brevê. Multou-o em trezentos euros ou mil reais. Multou a escola também. O diretor ficou desesperado e arrancou os fios de cabelo da careca. Depois, um advogado revogou a sentença, porque não existia brevê ou alvará para meninos alados. A escola até lucrou um pouco com a propaganda. Muitas crianças achavam que estudando lá iriam sair voando. Tudo isso foi depois, na hora o diretor careca devorava a pizza meia aliche, meia calabresa, bufando e gritando para o menino descer. Ele nem escutava, só falava agora a língua dos anjos.

O capitão da polícia ligou para o governador, ele preferiu se abster, como sempre. Os políticos estão sempre em cima do muro em questões gratuitas. Quando não se recebe por uma decisão é melhor abster-se. Passaram-se horas e o capitão sem saber o que fazer. Seguiu as ordens do diretor careca.

_Atire nesse moleque, ele é um terrorista, ele é um terrorista!_ Gritava com a boca cheia e as mãos engorduradas. Achava que era um atentado em Suvenir City como o que vira na televisão.

Os árabes tinham derrubado duas torres com um avião nos Estados Unidos. Quem sabe o menino não quisesse derrubar o coreto ou a fonte com suas asas? Atiraram: seis tiros de pistola, seis de trinta e oito e dois de escopeta. Erraram quase tudo. A polícia brasileira não tem o treinamento específico para acertar crianças com asas. Um tiro cortou as asas do moleque... Ele foi caindo em direção ao horizonte e desapareceu fundido ao sol. Ninguém sabe se está vivo ou não. Nunca voltou a cidade. E quem por ventura ganha asas as mantém bem escondidas com jaquetas de couro e sobretudos pretos. Mesmo no verão, que em Suvenir City é bem quente.
Toda essa história era para exemplificar que “as notícias corriam rápido em Suvenir City”. Todos sabiam do garoto alado, e a própria família do menino teve que se mudar de lá. Imagine, então, o drama de Juarez Pensa ao acordar com um pênis na testa? Não era uma coisa cotidiana e podiam até manda-lo para um zoológico ou programa de auditório sensacionalista.

-Fodido na vida quer ser serviçal de um vampiro no Largo da Batata



“Acordei com um pau na testa”. Pensou ele. “Agora, o que vou fazer?”. “O desgraçado ainda está duro... E sujou o meu espelho, droga”. Primeiro de tudo, tratou de limpar o espelho. Usou álcool e papel higiênico com aroma de pêssego. Depois, foi procurar um chapéu, tinha um de vaqueiro que comprara quando ia aos rodeios. Não adiantou muito, mas pelo menos disfarçaria uma possível ereção. Saiu do quarto para tomar café da manhã. Esperava aflito a reação da família.
Café preto com pastilhas coloridas. Amarelando os dentes. Adoçante. Manteiga artificial. Sangue humano se tornando química.

_Bom dia querido, levantou mais tarde hoje?

“Meu dEUS”, pensou, “ela vai notar, ela vai criar um escândalo, chamar a polícia, pedir o divórcio. Quem gostaria de ter um marido com um pênis na testa? Um pênis já era um problema: sempre querendo sexo, gozando rápido, brochando, encanando com seu tamanho. E agora? Dois! E um bem no meio da testa! Ah, não, ela o largaria com certeza”.

A mulher aproximou-se com o bule de café. Despejou-o na xícara de Juarez. Levantou seu chapéu. “Agora ela arma um escândalo”. Nada. Beijou o na testa como fazia toda manhã. Lambeu os beiços e fez uma cara curiosa(“Hum!”). Deu outro beijo, e outro ainda mais demorado. Começou a chupar o pau com vontade. Olhos fechados, lábios cobrindo os dentes para não machucar. Até ele gozar dentro da sua boca, como nunca deixara.(Na verdade sempre achara nojento.) Engoliu tudo e abriu os olhos, como se saísse de um transe. Continuou como se nada tivesse acontecido.

_ Fazia tempo que você não punha esse chapéu. Ficou bem em você, me lembra quando a gente ia aos rodeios.

Incrível, nem uma palavra sobre o pênis na testa! E ainda ganhou uma chupeta extra e um orgasmo písico. Começou a gostar do novo membro. Barulho nas escadas: as crianças, agora estava frito. Não poderia ganhar uma chupeta dos seus filhos. E o que seria dos dois na escola? A humilhação pela qual passariam? Seus coleguinhas não iam perdoa-los. Azucrinados no recreio, com milhares de apelidos ofensivos, pediriam para que o pai não os buscasse na escola. Iriam viver com os avós na capital. Uma família destruída por causa de um pênis na testa...

_ Paizinho?
_ Sim, querida?
_ Que é esse negócio estranho na sua cabeça?
_ É um p...
_ É um chapéu de vaqueiro, tonta! Não sabia que o pai era cowboy?
_ Ele não era cowboy, ele só gostava de ir aos rodeios, seu idiota.
_ Eu achei legal, papai. Ta parecendo o Clint Eastwood.
_ É, até que não é ruim, paizinho. Esconde suas entradas.

Nem a Marina e nem o Gustavo. Ninguém comentara nada. O cachorro vira-latas pulou em seu colo e lambeu seu membro, feliz. Aquilo fazia cócegas. Diabos, o cachorro nunca fora com sua cara, sempre rosnava. Aquele pau estava mudando sua vida. Mas que barbaridade, ninguém percebia que ele era um homem com um pênis na testa? Ele era quase um unicórnio, uma lenda. Deveria ser reverenciado. Talvez fizessem uma estátua dele. Ou o entrevistassem no jornal. Quem sabe ele não iria até o programa de domingo. É, isso parecia bem razoável. E depois poderia retirar-se por alguns anos nas montanhas, a fim de meditar. Não sabia bem o que se fazia meditando nas montanhas, mas parecia uma coisa bem profunda. Era disso que ele precisava. Era um cara superior até. Sempre soubera. Entrou no carro e deixou as crianças na escola. Foi para o trabalho. Odiava! Era técnico em uma emissora de televisão, punha e tirava os programas do ar. “Operador de máster” era como o chamavam. Dizia para os vizinhos que tinha um cargo importante na tv, diretor ou produtor. Na verdade as únicas estrelas que via era as que surgiam pelos buracos no teto, quando trabalhava no turno da noite.

O patrão era um porre. Bicha enrustido. Tinha uma secretária gostosa que insistia em bolinar na frente de todo mundo. Um fresco! Chamava Hugo. Os técnicos o chamavam de Hugoloso porque achavam que era gay. Diziam que tinha um caso com o estagiário. Juarez odiava o patrão. Algum empregado não odeia? Alguma empregada doméstica nunca teve vontade de cuspir na comida ou mijar na roupa da patroa? Ele odiava Hugo. E Hugo humilhava Juarez. Sempre. Chamava-no de burro na frente dos outros. Sempre achava que ele tinha soltado os comerciais atrasados. Dizia que se vestia mal, que deveria vir para o trabalho mais alinhado. O puto não sabia quanto custava uma camisa social? O dinheiro era escasso e as bocas para alimentar eram muitas.
Chegou no emprego. O pênis na testa tinha broxado. Desanimado. Parecia uma verruga, não assustava ninguém. A secretária o olhou de um jeito diferente.

-Poesias em ritmo de punk rock

_ Bom dia, senhor Juarez!

“Bom dia senhor Juarez”? A vaca mal falava seu nome! E ainda “senhor”? O que estava acontecendo? Aquele pinto em sua cabeça deveria ser muito grande. Olhou-se no espelho! Caramba! Duro deveria ter quase trinta centímetros! Uns vinte e sete talvez! E ele acostumado com a pistolinha de quinze! Caramba! Estava confiante de novo.

_ Senhor Juarez, o que tem na cabeça?
_Ah, eu posso explicar, Hugo...
_ Está atrasado de novo!
_Ah, sim... Ufa! Me desculpe! Por um momento...
_ Sem desculpas, senhor Juarez, venha imediatamente a minha sala!
Com certeza seria despedido agora. Maldito Hugoloso! Passou pela secretária e ainda fez alguma brincadeirinha. Achava-se “O” conquistador. Bicha enrustido! Entraram na sala! Era grande e confortável. Tinha um frigobar ao lado da mesa do patrão. Ele pegou um whiskey: Jonnhy Walker Black. Original. Serviu-se.

_Senhor Juarez, você tem se atrasado constantemente.
_Não é bem assim... Essa é a segunda vez no mês...
_Sim, mas eu tenho lhe repreendido muitas vezes durante o trabalho.
_ Isso é verdade, mas eu tenho me esforçado...
_ Eu sei! Agora eu percebo! Agora eu vejo que você tem uma cabeça diferente dos outros. Aceita um copo de whiskey? Eu gostaria de lhe oferecer um Blue Label, mas infelizmente só tenho Black...

Blue Label? Quem aquela bicha queria impressionar? Juarez só tomava whiskey em casamento. Red Label e olhe lá! Pelo menos as coisas pareciam estar mudando de rumo! Talvez o patrão percebe-se que Juarez era uma pessoa diferente das outras, talvez ele lhe promovesse...

_ Como disse, senhor Juarez, percebo que você tem algo a mais que os outros funcionários! Estou pensando em promovê-lo, senhor Juarez. Posso chamá-lo apenas de Juarez?
_ Claro, senhor Hugo! Fique a vontade, mas que tipo de promoção seria essa?
_ Diretor Geral! Você seria responsável por toda a programação produzida aqui na emissora. Poderia até mesmo ter um programa só seu, se quisesse.
“Um programa? Só meu? Isso é fantástico!”, pensou Juarez, “Serei famoso de uma hora para outra, tudo graças a esse pinto gigante na minha testa!”
_ Obrigado, senhor Hugo, não sei nem como agradecer! Estou muito feliz.
_Deixe eu lhe contar um detalhe particular... Venha aqui._ O patrão fez um gesto com a mão para que Juarez se aproximasse. Tinha óculos com aros grossos, cabelo franjinha preto e ficava com pedaços de baba branca nos lábios quando falava. Juarez se aproximou do patrão, colocando o ouvido perto de sua boca. O pênis na testa quase roçava nas sobrancelhas do Hugo.
_ Fale, senhor Hugo.
_ Chame-me de Hugo, Hugoloso!_ E enfiou a língua na orelha de Juarez, agarrando-o. Tentou abocanhar o pênis na testa, mas Juarez o empurrou longe!
_ O senhor está louco? O que está pensando, meu dEUS? Eu não gosto dessas coisas! Sou casado!
_ Você acha que eu não sei que você e os outros técnicos ficam zombando de mim? Me dando apelidos! Eu escuto tudo! E muitos dos técnicos já receberam um bônus extra em seus salários por me deixarem fazer um servicinho oral pra eles. _ O patrão lábia os beiços, doido pra sugar a “força de trabalho do proletário.”
_ O senhor está louco! Eu não quero nada disso! Sou casado! _ E saiu correndo, o patrão gritando atrás: “Me chame de Hugoloso! Me chame de Hugoloso!”

Juarez não sabia o que fazer, o pênis na testa estava mole. Corria em direção à porta, o patrão ensandecido atrás com as babinhas brancas na beiçola vermelha. Foi ai que a secretária gritou:

_ Rápido, senhor Juarez, por aqui!

Ela estava no almoxarifado. Juarez entrou correndo e ela trancou a porta ligeira. Hugo passou reto correndo e gritando: “Me chame de Hugoloso. Me chame de Hugoloso”, para o deleite dos técnicos da emissora.

_ Está um pouco escuro aqui, né?
_É, está bem escurinho, senhor Juarez.
_Sorte que você me ajudou, o patrão estava louco atrás de mim.
_ Ele tinha motivos...
_Não, sabia que você ia com a minha cara. Sempre te achei meio antipática, sabia? Nem imaginei que você soubesse meu nome...
_ É que eu nunca tinha reparado no senhor direito, Senhor Juarez.
_Seu nome é Lúcia, né? O pessoal do estúdio nunca ia acreditar que eu fiquei preso no almoxarifado com você...
_ Ah, é? Por quê? O que tem de mais num almoxarifado? Rodinhos, detergentes, cabos de vassoura...
_ Ei, Lúcia, isso não é um cabo de vassoura, é meu...
_ Eu sei, relaxe, bobinho.

E ela começou a tocar o terceiro olho de Juarez com suas mãos pequenininhas. Ele não se conteve, começou a bolina-la. Tinha um corpo escultural. Cabelos loiros compridos, olhos verdes, bunda gigante. Pernas finas, com sandálias de salto, descobertas pela minissaia. Batom vermelho.

_Achei que você tivesse um caso como patrão...
_ Aquele veado, só me usa para impor respeito. Na verdade, ele paga pra chupar os técnicos.
_ É, eu descobri isso hoje... Sabia que você é muito gostosa?

Ela não pode responder , estava ocupada. Juarez tentou possuí-la, mas ela não deixou. Não tinha olhos para seu “membro oficial”. Terminou o serviço com o chifre de unicórnio e saiu do almoxarifado rebolando, como se nada tivesse acontecido.

“Rapaz, o pessoal do estúdio não vai acreditar”. Juarez saiu de fininho da emissora, mas nem trombou com o patrão. Ele devia estar entretido com algum estagiário. Aquele “corpo estranho” começava a causar incômodos ao Juarez. Se tinha ganho uma chupada da secretária, já não podia se arriscar a ir ao trabalho sem ser assediado pelo patrão. Pensou em visitar um médico. Seu urologista talvez, Jacinto Deditos. Era um bom médico. Enfiou o chapéu de cowboy na cabeça e chamou um táxi. O taxista parou mais rápido que o normal. Devia ter visto o membro em riste de longe.

Chegou no consultório afobado. A secretária gorda parecia ter síndrome de down, nem prestou atenção no que Juarez falava, não tirava os olhos de sua testa. Disse que havia janela entre os horários do Doutor Deditos, Juarez só iria precisar esperar quinze minutos. Sentou no sofá de espera e abriu um jornal para tentar disfarçar o pênis dos outros pacientes. Havia crianças sentadas ali e ele ficou com vergonha. Sentiu-se um desse tarados que saem abaixando as calças no meio da rua. Ficou vermelho. O pênis, roxo e mole, encolheu-se ainda mais. Parecia ter menos de dez centímetros agora. Por sorte o Doutor Jacinto chamou-o logo.

-Às margens do Rio Piedra sentei e caguei

_ Pode vir, Juarez.
_ Bom dia, doutor, estou com um problemão!
_ Não diga rapaz, você está com uma cara ótima. Fazia tempo que não te via bem assim. Sente-se.
Entraram na salinha do Doutor Jacinto Deditos. Sala de médico comum, paredes brancas com diplomas, aparelhos para exames. Uma mesinha com cadeiras.
_ O que está acontecendo, Juarez?
_ Doutor, nem sei como te contar. Estou com um... Com um... Um pênis na minha testa.
_ Jura? Nem tinha reparado! Tem certeza que não é uma espinha?
_ Desse tamanho doutor?
_ È verdade, é bem grande mesmo... Será um câncer?
_ Não acho, doutor. Fica ereto e funciona como um pênis comum.
_ “Funciona”?
_Sim, ejacula e faz todo o serviço...
_Você já testou?
_ Sim...
_Usou camisinha?
_ Não...
_Isso é mal, devemos nos prevenir, mesmo nas situações mais fantásticas!
_ Só fiz sexo oral até agora...
_ Mesmo porque, anatomicamente, outra coisa seria mais complicado, né?
_Exato, doutor, e maioria das pessoas parecem nem nota-lo.
_ Mas é que em você nem chama muita atenção, você sempre foi um homem tão comum, que esse pênis na testa te deu um... “Algo a mais”.
_Não sei doutor me sinto incomodado. Esse “algo a mais” anda me causando problemas...
_ Compreendo. Teremos que extraí-lo então.
_ Extraí-lo?! O senhor não acha uma medida muito drástica?
_É a única solução. Raquel, traga-me o bisturi e a serra!
_Serra?! Doutor Jacinto, eu não tenho certeza!
_O médico aqui sou eu!
_ Doutor Jacinto eu me recuso a passar por essa castração!_ E saiu correndo.

Desesperado, as pessoas na rua pareciam não notar sua diferença. Ele continuava sendo mais um andando nas calçadas. Mais um anônimo no ponto de ônibus. Onde as pessoas nunca conversam. Naquela cidade, nem mesmo um homem com um falo na testa era notado. Correu até um bairro em que nunca estivera. Havia algumas lojas ali: uma de vestidos de noiva e uma de eletrodomésticos. Na vitrine da loja das noivas, uma manequim linda, que parecia ser real, apesar do véu, percebia-se que tinha olhos castanhos e cabelos vermelhos. Juarez olhou-a fixamente. Só desviou para prestar atenção no noticiário, transmitido por um dos televisores, na loja de eletrodomésticos.

“Diretor de emissora é assediado por homem com pênis na testa. Hugo L. Osa, diretor da Tv Comunidade, foi assediado sexualmente por um de seus técnicos que estava armado com um pênis preso à testa. O tarado teria atacado, ainda, a secretária de Hugo, que não quis se identificar. A polícia já tem o retrato falado do maníaco, que atende pela identidade de Juarez Pensa.”

“Meu dEUS?! O que está acontecendo comigo? Ontem eu era um funcionário pacato e hoje sou acusado de estupro! Será que minha mulher assistiu à televisão? O que as crianças vão pensar? Seu próprio pai! Um criminoso! A polícia deve estar atrás de mim! Daqui a pouco as pessoas vão começar a me reconhecer na rua. Estou fodido! Tudo por causa desse maldito pênis de vinte e sete centímetros na testa!”

_Manhê!!!!!!!!! Olha o tarado!

Todas as pessoas na rua se viraram para Juarez de uma vez. O homem entrou em desespero! Não sabia para onde correr. Olhou para a manequim na vitrine e ela pareceu se mover. Chamou-o com o indicador. Juarez não pensou duas vezes, pulou dentro da loja, estilhaçando o vidro. Rolou agarrado à manequim no chão e os dois levantaram juntos.

_ Siga-me. _ Ela disse.

Juarez já nem se assustava. Tanta coisa acontecera aquele dia, que ele só pensava em fugir dali. A manequim o levou através de uma escada no fundo das lojas. Era uma mulher de carne e osso. Talvez uma dessas estátua vivas, que ficam pintadas sem se mover para ganhar alguns trocados. Desceram até chegar numa sala subterrânea.

_Vamos ter que fugir agora, Juarez, teremos que correr até o horizonte, até nos fundirmos com o sol...
_Olha moça, tudo tem acontecido tão rápido que eu não entendo mais nada. Por que você está me ajudando?
A mulher tirou o véu de noiva do rosto. Havia uma vagina em sua testa. Juarez entendeu, então, que não estava sozinho naquele mundo.

03/06/05.

-Esses dias aconteceu um milagre na rua Augusta

1.11.09

Thom Yorke tocando com Flea - "Cymbal Rush"

-Mais música

Estava curioso parar ver a nova banda de Thom Yorke ao vivo, especialmente para ver a parceria com o baixista Flea, dos Chili Peppers. Para os indies que odeiam Anthony Kieds, mas já era fãs dos trabalhos solos de Frusciante, é um prato cheio.

Que você achou?

-Assista vídeos de Flea e outros grandes baixistas

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