3.11.09

Falo na testa - Conto

-Outros contos

Naquela manhã, Juarez Pensa acordou mudado. Sentiu seu rosto alongado. Uma cósquinha estranha na cabeça, onde se localiza o “terceiro olho” dos yogues, bem ali, no meio da sobrancelha. Acordou de pau duro, como sempre. Estranho, a testa também tinha algo enrijecido. Talvez uma espinha grande. Foi até o banheiro espremendo a espinha gigante. Ejaculou no espelho: tinha um pau na testa.

Suvenir City era uma cidade pequena, onde novidades voavam com velocidade da luz. Algumas novidades voavam com velocidade do som e outras preferiam voar de avião mesmo. A última grande notícia fora o menino que voara. Era um daqueles tipos estranhos, sempre sozinho no recreio, ruim de bola e grudado em livros. Um dia levantou da cama com um sobretudo preto. Seus pais estranharam. Lembraram-se dos massacres nas escolas americanas. A tal máfia do casaco. Meninos excluídos pelos outros vestiram-se com sobretudos pretos e abriram fogo dentro do colégio. Um horror! Ficaram com medo. O pai preocupado tratou de ter um diálogo franco com o filho:

_ Filho, você está se sentindo bem?
_ Sei lá, pai, estou meio diferente...
_Drogas?
_ Pai, eu nunca nem bebi.
_ Ah, não? Certo... Continua virgem?
_ Pai, eu nunca nem beijei uma menina...
_ Ah, certo... Você vai matar alguns alunos hoje?
_ Não pai, eu não tenho nenhuma arma. E eu tremo demais. Se fosse matar alguns alunos provavelmente atiraria no meu pé...
_Bem, então acho que está tudo bem. Tome seu café, senão vamos nos atrasar, eu te dou uma carona.

Café com leite tinha gosto de café com leite. Para o menino com asas tinha gosto de angústia. Leite com chocolate tinha gosto de tristeza. E café preto tinha gosto de ódio. Naquela manhã, achou o café com leite muito bom e sentiu um gostinho de luz no fim do túnel bem aprazível para uma manhã nublada. Manhãs nubladas tinham cheiro de nostalgia e forma de velhas fotos preto-e-branco.

Menino alado saiu de casa com sobretudo preto e entrou no carro do pai. Menino alado sentiu um comichão nas costas algumas semanas atrás. Menino alado entrou na escola, subiu na caixa d’água e voou alto. Ninguém entendeu. Acharam que eram drogas ou que ele era veado. Chamaram a polícia e os bombeiros. Chamaram o padre e um psicólogo. Chamaram também uma pizza. Meia aliche, meia calabresa como o diretor do colégio gostava. Menino alado voou alto, por entre os prédios de Suvenir City. Via o mundo diferente lá do alto. Cantou What a wonderful world, flutuando sobre dEUS.

O diretor parecia desesperado, gritava para que o moleque descesse. Um promotor veio ver se o menino tinha alvará ou brevê. Multou-o em trezentos euros ou mil reais. Multou a escola também. O diretor ficou desesperado e arrancou os fios de cabelo da careca. Depois, um advogado revogou a sentença, porque não existia brevê ou alvará para meninos alados. A escola até lucrou um pouco com a propaganda. Muitas crianças achavam que estudando lá iriam sair voando. Tudo isso foi depois, na hora o diretor careca devorava a pizza meia aliche, meia calabresa, bufando e gritando para o menino descer. Ele nem escutava, só falava agora a língua dos anjos.

O capitão da polícia ligou para o governador, ele preferiu se abster, como sempre. Os políticos estão sempre em cima do muro em questões gratuitas. Quando não se recebe por uma decisão é melhor abster-se. Passaram-se horas e o capitão sem saber o que fazer. Seguiu as ordens do diretor careca.

_Atire nesse moleque, ele é um terrorista, ele é um terrorista!_ Gritava com a boca cheia e as mãos engorduradas. Achava que era um atentado em Suvenir City como o que vira na televisão.

Os árabes tinham derrubado duas torres com um avião nos Estados Unidos. Quem sabe o menino não quisesse derrubar o coreto ou a fonte com suas asas? Atiraram: seis tiros de pistola, seis de trinta e oito e dois de escopeta. Erraram quase tudo. A polícia brasileira não tem o treinamento específico para acertar crianças com asas. Um tiro cortou as asas do moleque... Ele foi caindo em direção ao horizonte e desapareceu fundido ao sol. Ninguém sabe se está vivo ou não. Nunca voltou a cidade. E quem por ventura ganha asas as mantém bem escondidas com jaquetas de couro e sobretudos pretos. Mesmo no verão, que em Suvenir City é bem quente.
Toda essa história era para exemplificar que “as notícias corriam rápido em Suvenir City”. Todos sabiam do garoto alado, e a própria família do menino teve que se mudar de lá. Imagine, então, o drama de Juarez Pensa ao acordar com um pênis na testa? Não era uma coisa cotidiana e podiam até manda-lo para um zoológico ou programa de auditório sensacionalista.

-Fodido na vida quer ser serviçal de um vampiro no Largo da Batata



“Acordei com um pau na testa”. Pensou ele. “Agora, o que vou fazer?”. “O desgraçado ainda está duro... E sujou o meu espelho, droga”. Primeiro de tudo, tratou de limpar o espelho. Usou álcool e papel higiênico com aroma de pêssego. Depois, foi procurar um chapéu, tinha um de vaqueiro que comprara quando ia aos rodeios. Não adiantou muito, mas pelo menos disfarçaria uma possível ereção. Saiu do quarto para tomar café da manhã. Esperava aflito a reação da família.
Café preto com pastilhas coloridas. Amarelando os dentes. Adoçante. Manteiga artificial. Sangue humano se tornando química.

_Bom dia querido, levantou mais tarde hoje?

“Meu dEUS”, pensou, “ela vai notar, ela vai criar um escândalo, chamar a polícia, pedir o divórcio. Quem gostaria de ter um marido com um pênis na testa? Um pênis já era um problema: sempre querendo sexo, gozando rápido, brochando, encanando com seu tamanho. E agora? Dois! E um bem no meio da testa! Ah, não, ela o largaria com certeza”.

A mulher aproximou-se com o bule de café. Despejou-o na xícara de Juarez. Levantou seu chapéu. “Agora ela arma um escândalo”. Nada. Beijou o na testa como fazia toda manhã. Lambeu os beiços e fez uma cara curiosa(“Hum!”). Deu outro beijo, e outro ainda mais demorado. Começou a chupar o pau com vontade. Olhos fechados, lábios cobrindo os dentes para não machucar. Até ele gozar dentro da sua boca, como nunca deixara.(Na verdade sempre achara nojento.) Engoliu tudo e abriu os olhos, como se saísse de um transe. Continuou como se nada tivesse acontecido.

_ Fazia tempo que você não punha esse chapéu. Ficou bem em você, me lembra quando a gente ia aos rodeios.

Incrível, nem uma palavra sobre o pênis na testa! E ainda ganhou uma chupeta extra e um orgasmo písico. Começou a gostar do novo membro. Barulho nas escadas: as crianças, agora estava frito. Não poderia ganhar uma chupeta dos seus filhos. E o que seria dos dois na escola? A humilhação pela qual passariam? Seus coleguinhas não iam perdoa-los. Azucrinados no recreio, com milhares de apelidos ofensivos, pediriam para que o pai não os buscasse na escola. Iriam viver com os avós na capital. Uma família destruída por causa de um pênis na testa...

_ Paizinho?
_ Sim, querida?
_ Que é esse negócio estranho na sua cabeça?
_ É um p...
_ É um chapéu de vaqueiro, tonta! Não sabia que o pai era cowboy?
_ Ele não era cowboy, ele só gostava de ir aos rodeios, seu idiota.
_ Eu achei legal, papai. Ta parecendo o Clint Eastwood.
_ É, até que não é ruim, paizinho. Esconde suas entradas.

Nem a Marina e nem o Gustavo. Ninguém comentara nada. O cachorro vira-latas pulou em seu colo e lambeu seu membro, feliz. Aquilo fazia cócegas. Diabos, o cachorro nunca fora com sua cara, sempre rosnava. Aquele pau estava mudando sua vida. Mas que barbaridade, ninguém percebia que ele era um homem com um pênis na testa? Ele era quase um unicórnio, uma lenda. Deveria ser reverenciado. Talvez fizessem uma estátua dele. Ou o entrevistassem no jornal. Quem sabe ele não iria até o programa de domingo. É, isso parecia bem razoável. E depois poderia retirar-se por alguns anos nas montanhas, a fim de meditar. Não sabia bem o que se fazia meditando nas montanhas, mas parecia uma coisa bem profunda. Era disso que ele precisava. Era um cara superior até. Sempre soubera. Entrou no carro e deixou as crianças na escola. Foi para o trabalho. Odiava! Era técnico em uma emissora de televisão, punha e tirava os programas do ar. “Operador de máster” era como o chamavam. Dizia para os vizinhos que tinha um cargo importante na tv, diretor ou produtor. Na verdade as únicas estrelas que via era as que surgiam pelos buracos no teto, quando trabalhava no turno da noite.

O patrão era um porre. Bicha enrustido. Tinha uma secretária gostosa que insistia em bolinar na frente de todo mundo. Um fresco! Chamava Hugo. Os técnicos o chamavam de Hugoloso porque achavam que era gay. Diziam que tinha um caso com o estagiário. Juarez odiava o patrão. Algum empregado não odeia? Alguma empregada doméstica nunca teve vontade de cuspir na comida ou mijar na roupa da patroa? Ele odiava Hugo. E Hugo humilhava Juarez. Sempre. Chamava-no de burro na frente dos outros. Sempre achava que ele tinha soltado os comerciais atrasados. Dizia que se vestia mal, que deveria vir para o trabalho mais alinhado. O puto não sabia quanto custava uma camisa social? O dinheiro era escasso e as bocas para alimentar eram muitas.
Chegou no emprego. O pênis na testa tinha broxado. Desanimado. Parecia uma verruga, não assustava ninguém. A secretária o olhou de um jeito diferente.

-Poesias em ritmo de punk rock

_ Bom dia, senhor Juarez!

“Bom dia senhor Juarez”? A vaca mal falava seu nome! E ainda “senhor”? O que estava acontecendo? Aquele pinto em sua cabeça deveria ser muito grande. Olhou-se no espelho! Caramba! Duro deveria ter quase trinta centímetros! Uns vinte e sete talvez! E ele acostumado com a pistolinha de quinze! Caramba! Estava confiante de novo.

_ Senhor Juarez, o que tem na cabeça?
_Ah, eu posso explicar, Hugo...
_ Está atrasado de novo!
_Ah, sim... Ufa! Me desculpe! Por um momento...
_ Sem desculpas, senhor Juarez, venha imediatamente a minha sala!
Com certeza seria despedido agora. Maldito Hugoloso! Passou pela secretária e ainda fez alguma brincadeirinha. Achava-se “O” conquistador. Bicha enrustido! Entraram na sala! Era grande e confortável. Tinha um frigobar ao lado da mesa do patrão. Ele pegou um whiskey: Jonnhy Walker Black. Original. Serviu-se.

_Senhor Juarez, você tem se atrasado constantemente.
_Não é bem assim... Essa é a segunda vez no mês...
_Sim, mas eu tenho lhe repreendido muitas vezes durante o trabalho.
_ Isso é verdade, mas eu tenho me esforçado...
_ Eu sei! Agora eu percebo! Agora eu vejo que você tem uma cabeça diferente dos outros. Aceita um copo de whiskey? Eu gostaria de lhe oferecer um Blue Label, mas infelizmente só tenho Black...

Blue Label? Quem aquela bicha queria impressionar? Juarez só tomava whiskey em casamento. Red Label e olhe lá! Pelo menos as coisas pareciam estar mudando de rumo! Talvez o patrão percebe-se que Juarez era uma pessoa diferente das outras, talvez ele lhe promovesse...

_ Como disse, senhor Juarez, percebo que você tem algo a mais que os outros funcionários! Estou pensando em promovê-lo, senhor Juarez. Posso chamá-lo apenas de Juarez?
_ Claro, senhor Hugo! Fique a vontade, mas que tipo de promoção seria essa?
_ Diretor Geral! Você seria responsável por toda a programação produzida aqui na emissora. Poderia até mesmo ter um programa só seu, se quisesse.
“Um programa? Só meu? Isso é fantástico!”, pensou Juarez, “Serei famoso de uma hora para outra, tudo graças a esse pinto gigante na minha testa!”
_ Obrigado, senhor Hugo, não sei nem como agradecer! Estou muito feliz.
_Deixe eu lhe contar um detalhe particular... Venha aqui._ O patrão fez um gesto com a mão para que Juarez se aproximasse. Tinha óculos com aros grossos, cabelo franjinha preto e ficava com pedaços de baba branca nos lábios quando falava. Juarez se aproximou do patrão, colocando o ouvido perto de sua boca. O pênis na testa quase roçava nas sobrancelhas do Hugo.
_ Fale, senhor Hugo.
_ Chame-me de Hugo, Hugoloso!_ E enfiou a língua na orelha de Juarez, agarrando-o. Tentou abocanhar o pênis na testa, mas Juarez o empurrou longe!
_ O senhor está louco? O que está pensando, meu dEUS? Eu não gosto dessas coisas! Sou casado!
_ Você acha que eu não sei que você e os outros técnicos ficam zombando de mim? Me dando apelidos! Eu escuto tudo! E muitos dos técnicos já receberam um bônus extra em seus salários por me deixarem fazer um servicinho oral pra eles. _ O patrão lábia os beiços, doido pra sugar a “força de trabalho do proletário.”
_ O senhor está louco! Eu não quero nada disso! Sou casado! _ E saiu correndo, o patrão gritando atrás: “Me chame de Hugoloso! Me chame de Hugoloso!”

Juarez não sabia o que fazer, o pênis na testa estava mole. Corria em direção à porta, o patrão ensandecido atrás com as babinhas brancas na beiçola vermelha. Foi ai que a secretária gritou:

_ Rápido, senhor Juarez, por aqui!

Ela estava no almoxarifado. Juarez entrou correndo e ela trancou a porta ligeira. Hugo passou reto correndo e gritando: “Me chame de Hugoloso. Me chame de Hugoloso”, para o deleite dos técnicos da emissora.

_ Está um pouco escuro aqui, né?
_É, está bem escurinho, senhor Juarez.
_Sorte que você me ajudou, o patrão estava louco atrás de mim.
_ Ele tinha motivos...
_Não, sabia que você ia com a minha cara. Sempre te achei meio antipática, sabia? Nem imaginei que você soubesse meu nome...
_ É que eu nunca tinha reparado no senhor direito, Senhor Juarez.
_Seu nome é Lúcia, né? O pessoal do estúdio nunca ia acreditar que eu fiquei preso no almoxarifado com você...
_ Ah, é? Por quê? O que tem de mais num almoxarifado? Rodinhos, detergentes, cabos de vassoura...
_ Ei, Lúcia, isso não é um cabo de vassoura, é meu...
_ Eu sei, relaxe, bobinho.

E ela começou a tocar o terceiro olho de Juarez com suas mãos pequenininhas. Ele não se conteve, começou a bolina-la. Tinha um corpo escultural. Cabelos loiros compridos, olhos verdes, bunda gigante. Pernas finas, com sandálias de salto, descobertas pela minissaia. Batom vermelho.

_Achei que você tivesse um caso como patrão...
_ Aquele veado, só me usa para impor respeito. Na verdade, ele paga pra chupar os técnicos.
_ É, eu descobri isso hoje... Sabia que você é muito gostosa?

Ela não pode responder , estava ocupada. Juarez tentou possuí-la, mas ela não deixou. Não tinha olhos para seu “membro oficial”. Terminou o serviço com o chifre de unicórnio e saiu do almoxarifado rebolando, como se nada tivesse acontecido.

“Rapaz, o pessoal do estúdio não vai acreditar”. Juarez saiu de fininho da emissora, mas nem trombou com o patrão. Ele devia estar entretido com algum estagiário. Aquele “corpo estranho” começava a causar incômodos ao Juarez. Se tinha ganho uma chupada da secretária, já não podia se arriscar a ir ao trabalho sem ser assediado pelo patrão. Pensou em visitar um médico. Seu urologista talvez, Jacinto Deditos. Era um bom médico. Enfiou o chapéu de cowboy na cabeça e chamou um táxi. O taxista parou mais rápido que o normal. Devia ter visto o membro em riste de longe.

Chegou no consultório afobado. A secretária gorda parecia ter síndrome de down, nem prestou atenção no que Juarez falava, não tirava os olhos de sua testa. Disse que havia janela entre os horários do Doutor Deditos, Juarez só iria precisar esperar quinze minutos. Sentou no sofá de espera e abriu um jornal para tentar disfarçar o pênis dos outros pacientes. Havia crianças sentadas ali e ele ficou com vergonha. Sentiu-se um desse tarados que saem abaixando as calças no meio da rua. Ficou vermelho. O pênis, roxo e mole, encolheu-se ainda mais. Parecia ter menos de dez centímetros agora. Por sorte o Doutor Jacinto chamou-o logo.

-Às margens do Rio Piedra sentei e caguei

_ Pode vir, Juarez.
_ Bom dia, doutor, estou com um problemão!
_ Não diga rapaz, você está com uma cara ótima. Fazia tempo que não te via bem assim. Sente-se.
Entraram na salinha do Doutor Jacinto Deditos. Sala de médico comum, paredes brancas com diplomas, aparelhos para exames. Uma mesinha com cadeiras.
_ O que está acontecendo, Juarez?
_ Doutor, nem sei como te contar. Estou com um... Com um... Um pênis na minha testa.
_ Jura? Nem tinha reparado! Tem certeza que não é uma espinha?
_ Desse tamanho doutor?
_ È verdade, é bem grande mesmo... Será um câncer?
_ Não acho, doutor. Fica ereto e funciona como um pênis comum.
_ “Funciona”?
_Sim, ejacula e faz todo o serviço...
_Você já testou?
_ Sim...
_Usou camisinha?
_ Não...
_Isso é mal, devemos nos prevenir, mesmo nas situações mais fantásticas!
_ Só fiz sexo oral até agora...
_ Mesmo porque, anatomicamente, outra coisa seria mais complicado, né?
_Exato, doutor, e maioria das pessoas parecem nem nota-lo.
_ Mas é que em você nem chama muita atenção, você sempre foi um homem tão comum, que esse pênis na testa te deu um... “Algo a mais”.
_Não sei doutor me sinto incomodado. Esse “algo a mais” anda me causando problemas...
_ Compreendo. Teremos que extraí-lo então.
_ Extraí-lo?! O senhor não acha uma medida muito drástica?
_É a única solução. Raquel, traga-me o bisturi e a serra!
_Serra?! Doutor Jacinto, eu não tenho certeza!
_O médico aqui sou eu!
_ Doutor Jacinto eu me recuso a passar por essa castração!_ E saiu correndo.

Desesperado, as pessoas na rua pareciam não notar sua diferença. Ele continuava sendo mais um andando nas calçadas. Mais um anônimo no ponto de ônibus. Onde as pessoas nunca conversam. Naquela cidade, nem mesmo um homem com um falo na testa era notado. Correu até um bairro em que nunca estivera. Havia algumas lojas ali: uma de vestidos de noiva e uma de eletrodomésticos. Na vitrine da loja das noivas, uma manequim linda, que parecia ser real, apesar do véu, percebia-se que tinha olhos castanhos e cabelos vermelhos. Juarez olhou-a fixamente. Só desviou para prestar atenção no noticiário, transmitido por um dos televisores, na loja de eletrodomésticos.

“Diretor de emissora é assediado por homem com pênis na testa. Hugo L. Osa, diretor da Tv Comunidade, foi assediado sexualmente por um de seus técnicos que estava armado com um pênis preso à testa. O tarado teria atacado, ainda, a secretária de Hugo, que não quis se identificar. A polícia já tem o retrato falado do maníaco, que atende pela identidade de Juarez Pensa.”

“Meu dEUS?! O que está acontecendo comigo? Ontem eu era um funcionário pacato e hoje sou acusado de estupro! Será que minha mulher assistiu à televisão? O que as crianças vão pensar? Seu próprio pai! Um criminoso! A polícia deve estar atrás de mim! Daqui a pouco as pessoas vão começar a me reconhecer na rua. Estou fodido! Tudo por causa desse maldito pênis de vinte e sete centímetros na testa!”

_Manhê!!!!!!!!! Olha o tarado!

Todas as pessoas na rua se viraram para Juarez de uma vez. O homem entrou em desespero! Não sabia para onde correr. Olhou para a manequim na vitrine e ela pareceu se mover. Chamou-o com o indicador. Juarez não pensou duas vezes, pulou dentro da loja, estilhaçando o vidro. Rolou agarrado à manequim no chão e os dois levantaram juntos.

_ Siga-me. _ Ela disse.

Juarez já nem se assustava. Tanta coisa acontecera aquele dia, que ele só pensava em fugir dali. A manequim o levou através de uma escada no fundo das lojas. Era uma mulher de carne e osso. Talvez uma dessas estátua vivas, que ficam pintadas sem se mover para ganhar alguns trocados. Desceram até chegar numa sala subterrânea.

_Vamos ter que fugir agora, Juarez, teremos que correr até o horizonte, até nos fundirmos com o sol...
_Olha moça, tudo tem acontecido tão rápido que eu não entendo mais nada. Por que você está me ajudando?
A mulher tirou o véu de noiva do rosto. Havia uma vagina em sua testa. Juarez entendeu, então, que não estava sozinho naquele mundo.

03/06/05.

-Esses dias aconteceu um milagre na rua Augusta

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