Seis personagens a procura de um autor, Luigi Pirandello *****

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por Fred Di Giacomo

Muito antes de Charlie Kaufman virar referência no cinema como o roteirista rei da metalinguagem que confunde em suas tramas ficção e realidade, o escritor italiano Luigi Pirandello(Sicília,1867- Roma, 1936) já mergulhava fundo nos limites entre criador e criatura em sua mais célebre peça: “Seis Personagens a Procura de um autor”, de 1921.

O enredo consiste num ensaio de companhia de teatro, abalado pela chegada de excêntricos visitantes. Sem cenário, o palco está como ficaria em um ensaio real. Os atores vão chegando, o diretor passa as instruções, o ponto dá as entradas para cada um. Já há piadas com a realidade, como o diretor dizendo que hoje em dia eles são obrigados a encenar peças de autores “como Pirandello”. De repente, o cenário é invadido por 6 pessoas angustiadas, que se apresentam como personagens de uma peça inacabada. Os 6 vão tentar convencer o diretor de que seu drama(que lembra uma peça de Nélson Rodrigues, carregada de incesto, suicídio e prostituição) vale a pena ser encenado, apesar de ter sido abandonado pelo autor original.

O autor enfrenta suas criações

A partir dessa premissa, desenrolam-se questionamentos sobre o ato de atuar, o processo de criação, o absurdo da vida (um dos personagens afirma ser mais real que o diretor - na peça, uma pessoa real), tudo de uma forma divertida e irônica sem cair no academicismo, já que todas essas questões aparecem em discussões entre os personagens e os membros da companhia de teatro, que deveriam interpretar suas histórias. A comédia não tem atos nem cenas, apenas duas interrupções: um momento em que o diretor sai de cena para combinar a história com o personagem do pai e uma pausa em que o maquinista faz cair a cortina acidentalmente.


No Prefácio presente na edição da Abril Cultural, de 1981,tradução de Brutus Pedreira; Pirandello faz um ampla análise de sua peça – leitura recomendada para quem quer se aprofundar no texto. O autor, que venceu o Prêmio Nobel da Literatura, em 1934, revela que a ideia da obra fantástica é baseada numa história real: ele próprio pensava em fazer um romance com os 6 personagens do texto, mas não conseguiu terminá-lo. Para Pirandello(crítico do Simbolismo), não basta uma boa história nas mãos, ela precisa significar algo. E ele não via sentido maior na história daquela família, até resolver levar aos palcos a angústia do autor e seu processo criativo frente a frente com os personagens. Foi chamado de louco na estreia de sua peça no Teatro Odescalchi, mas entrou para história por revolucionar a arte de Shakespeare.

-Leia resenha de "Esperando Godot", de Samuel Beckett

As personagens da comédia por fazer

O Pai
A Mãe
A Enteada
O Filho
O Rapaizinho
A Menina
Madame Pace

Os atores da companhia

O diretor-ensaiador
A primeira atriz
O primeiro ator
A segunda atriz
A ingênua
O galã
Outros atores e atrizes
O assistente
O contra-regra
O maquinista
O secretário do diretor
O porteiro do teatro
Outros empregados de palco