27.4.10

O que é anarquismo?

Anarquia é bagunça?




“Tio, anarquismo não é baderna?” Bom, na verdade, anarquismo é a corrente de pensamento mais mal explicada da história. Sua origem vem do grego Anarcho que significa “sem governo” e pode tanto batizar movimentos que não queiram eliminar o poder do estado, quanto uma situação ruim em que se fica sem governo. O termo foi usado pejorativamente na época da Revolução Francesa para criticar os mais radicais. Foi em 1840, que o filósofo libertário Joseph-Pierre Proudhon aceitou o “apelido” e o transformou em doutrina. Seu livro “O que é a propriedade?” não hesitava: “A propriedade é roubo”.

Anarquismo é comunismo?





“Ah, entendi,” – pensa você – “anarquismo é, então, um tipo de cumunismo(sic)?” Um primo nas linhas de pensamento de esquerda, talvez, mas não uma filosofia marxista. Aliás, Bakunim(outro pensador anarquista) rompeu com Marx logo na Primeira Internacional Comunista. A grande diferença entre os dois é que os comunistas acreditam que antes de todos serem livres de governo precisamos de uma ditadura do proletariado. O problema é que poder vicia tanto quanto pó e jogo de bingo. Então, todas as revoluções que se autoproclamaram comunistas(Cuba, URSS, China, etc.) pararam na fase da ditadura do proletariado. Os anarquistas abominam qualquer tipo de governo, mesmo o do proletariado. Como dizia nosso amigo Proudhon: “Quem quer que coloque a mão sobre mim para governar-me é um usurpador e um tirano – eu o declaro meu inimigo”.



Anarquia é utopia?
Milicianas na Revolução Espanhola, 1936


“Anarquia é utopia, faça uma todo dia”, gritava a banda punk gaúcha Replicantes. Você pergunta: alguém já colocou o anarquismo na prática? E a resposta é: sim, mas por pouco tempo. Na época da Revolução Russa, o exército negro instalou uma organização anarquista na Ucrânia, também conhecido como movimento makhnovista. Depois de vencerem as forças conservadoras, foram massacrados pelas tropas de Trótski. Na época da Revolução Espanhola (1936-1939), forças anarquistas organizaram as regiões da Catalunha e Aragão, mas foram vencidas pelas tropas facistas de Franco e enfraquecidas pelas disputas com os “aliados” stalinistas. Fazendas e comunidades coletivas foram criadas em diversos cantos do mundo, inclusive no Brasil.
Por aqui, o anarquismo foi a corrente mais forte entre os sindicalistas nas duas primeiras décadas do século XX, espalhado por imigrantes espanhóis e italianos. Eram os anarquistas os responsáveis pelas primeiras greves em São Paulo. Um anarquista que ficou famoso no Brasil foi o jornalista e tipógrafo Edgard Leuenroth (1881-1968).





Anarquismo é coisa de véio?

Crass

Kroprotkin, Malatesta, Tolstoi, Max Stirner. Nomes que parecem cobertos de pó para o jovem moleque dos anos 2000. Mas o fascínio pela bandeira negra e o A de anarquia continuou vivo nos últimos anos. Renasceu junto com os punks nos anos 70, primeiro como piada marqueteira dos Sex Pistols, e depois levado a sério por bandas com o Crass e o movimento hardcore dos anos 80. Voltou à tona com a geração rebelde pós-muro de Berlim: deu as caras em blogs, coletivos e Fórums Sociais Mundiais da vida. Influenciou até o lado negro da força, que criou o anarcocapitalismo, mais próximo das tradições liberais que do anarquismo clássico. E continua confundindo cabeças, inspirando sonhadores e servindo como uma opção num mundo onde a briga “capitalismo VS comunismo” parece ter perdido o sentido.

Veja também:
-Conheça os anarcopunks do Crass
-EZLN e o Zapatismo

PARA SABER MAIS
Livros
“História das ideias e movimentos anarquistas”, George Woodcock
“O que é comunismo?”, Caio Túlio Costa
“O anarquismo e a democracia burguesa”, vários
“O movimento anarquista em São Paulo(1906-1917)”, Sílvia Ingrid Lang Magnani
Filmes
“Terra e Liberdade”, Ken Loach
“Libertarias”, Vicente Aranda

4 comentários:

Bárbara dos Anjos Lima disse...

achei o texto ótimo, super completo. Pra mim só faltou responder uma pergunta: todo punk é anarquista?

André HP disse...

Fui na famosa Estação da Luz paulista - registrada em Tom Zé - ver a exposição do Andy Warhol. No caminho, passei pela 'cracolândia', onde em um prédio 'x' estava pichada a frase "a propriedade é um roubo". Lendo seu post lembrei da cena.

Eu fiz um post com a questão central que gera equívocos na concepção de anarquismo para o senso comum: http://formigueirocomunista.com/sss/2009/10/o-anarquismo-de-drummond/

Penso que um pouco desse equívoco nasce na escola, com professores de história que equiparam o anarquismo ao caos.

Aqui no Paraná, rolou uma comunidade anarquista (Colônia de Cecília). Existe até um romance escrito pelo Miguel Sanches - O Amor Anarquista - que narra a tentativa de por em prática o "amor livre".

Eu acho o anarquismo interessante, mas um tanto romantizado.

Valeu o post.

Abraço!

Bárbara dos Anjos Lima disse...

Eu li esse livro do Miguel Sanches, O Amor Anarquista - é um livro bem bom com uma história muito interessante.

Frico disse...

Salve, Andre! Vc não é do Paraná? Mora aonde aí? Eu acho que atitudes anarquistas são possíveis, mesmo que o mundo nunca seja anarquista. Mas também, hoje a maioria das pessoas vê qualquer possibilidade de tentar mudar o mundo como romântica, né? abrax

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