4.4.10

O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano

-Resenhas e artigos sobre literatura



A amiga @zambonzambon foi quem me emprestou “O Livro dos Abraços”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Até então, para mim, Galeano era historiador. Afinal, seu nome era citado em todos os livros didáticos com os quais estudei na adolescência, por causa de “Veias Abertas da América Latina” - obra que lançou em 1971 e conta a colonização do continente através de uma ótica de esquerda.

Lição 1 aprendida: o “historiador” era na verdade jornalista. Mas que esperar daqueles abraços? Teoria marxista? Textos panfletários? Tinha metido o livro de bolso no bolso, e pegado o ônibus para um pequeno trajeto. Não tinha grandes expectativas em relação àquele empréstimo. Um projeto gráfico bacana, cheio de ilustrações e microcontos. Bonito. Abri suas páginas e um universo imenso me invadiu. Eram grandes memórias versadas em pequenas histórias. Cada texto um abraço num amigo antigo, um causo. Causo de sensibilidade latente que virava nó na garganta. E a quanto tempo eu não chorava por causa de um livro? Não choro nem por causa de desgraça, vou chorar por causa de leitura?*



Galeano foi militante de esquerda. Mas esse não é o foco. Por mais que se esforce, seu livro não está do lado de um partido político. Está do lado de todos nós; homens e mulheres. Transformando pequenos detalhes do dia a dia em poesia. Como diz um dos personagens reais do livro, queria eu estar em Montevidéu para apertar a mão com a qual Galeano escreve. Que esse é o melhor elogio que um (aspirante a) escritor pode dirigir ao outro.

*E fazer chorar de emoção, é mais forte que fazer chorar de dor.

Leia também:
-Resenha: "A Revolução dos Bichos", de George Orwell
-Memórias de Manoel de Barros em formato de prosa poética

Chorar
Foi na selva, na Amazônia equatoriana. Os índios shuar estavam chorando a avó moribunda. Choravam sentados, na margem de sua agonia. Uma pessoa, vinda de outros mundos, perguntou:
– Por que choram na frente dela, se ela ainda está viva?
E os que choravam responderam:
– Para que ela saiba que gostamos muito dela.

(extraído do "Livro dos Abraços")

2 comentários:

Bárbara dos Anjos Lima disse...

Quero muito ler. Mas vou comprar um pra mim ;)

Frico disse...

Zambon é a influencia literária dos jornalistas que articulam o "new web journalism"

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