10.8.09

De como me tornei serviçal de um vampiro em tempos de Gripe Suína - parte 2

- Leia a primeira parte desse conto esquizofrênico



Putz, to com um pelo encravado na bunda que ta chato. Olha só, o velhote deixou a porta aberta. Há, há, há, que otário. Uma coçadinha na cabeça. Que eu vou fazer primeiro? Ah, pode crer, ver o que tem na geladeira.
Nossa, mas essa casa parece um museu. Vários quadros antigos, mobília de madeira, isso deve ser muito das antigas. Pô, e deve valer uma nota. Deixa eu sentar aqui nessa cadeirona. Pô, foda. E uns livros em várias línguas. Muito louca a sala. Onde será que é a cozinha? Quadro, quadro, quadro, espada. Espada?! Caraca! Essa eu vou levar pra casa. Igual daquele filme “Coração Valente”. Ah, e olha a sala de TV! TV de plasma. Mano, eu vou conversar com os caras do movimento pra roubar esse tiozinho. Não, eu não vou roubar nada, mas sei lá, fazer uma preza com os caras, às vezes eu descolo um troco nessas. Ah, e tchan tchan tchan tchan: a geladeira está aqui. Mano, tomara que o cara tenha bacon. Tô na instiga pra comer um pouquinho.
_Mas que porra é essa?! Só tem carne e suco de tomate na casa desse velho?
Putz, alguém mexeu na porta, acho que vou...
_Se esconder? Não dá mais tempo, amigo...
-Caraca, como você chegou aqui? Larga o meu pescoço, velho maldito, eu só estava olhando, não ia roubar nada, eu juro.
-Ah, é? E o que você estava fazendo na frente da minha geladeira? Calma, Cérbero, pare de latir.
-Meu, deixa esse cachorro longe de mim, pelo amor de Deus. Se esse bicho me morde ele arranca uma perna.
-Você deveria temer mais o que eu posso fazer do que as mordidas de Cérbero.
_Ah, é? Que você vai fazer? Comer minha bunda?
Naquela hora, não sei como, mas o velho me jogou longe. Me arrebentei todo no chão e ele foi metendo bicas em mim, com aquele cachorro gigante latindo, me derrubando escada abaixo rumo ao porão. O lugar tinha um cheiro esquisito, mistura de açougue com mofo, umas teias de aranhas escrotonas e parecia que não era limpo há um bom tempo. Tentei me levantar, cuspindo sangue, mas meu corpo se paralisou quando vi em minha volta um monte de corpos pendurados em ganchos. Não sei se eram homens, ou bichos, talvez os porquinhos do governador José Serra. Travei. Cocei a carequinha pra lembrar o que ia fazer, mas o velho e o cachorro não me deram folga. Num salto ele estava em cima de mim, eu com as costas no chão, ele com os joelhos no meu ombro. “Me fudi”, pensei, “esse velho veado vai me currar e depois pendurar num desses ganchos”. Mas comecei a sacar a fria que eu tinha me metido de verdade, quando olhei pra cara dele. Não era humano. Era bestial. Presas afiadas escapavam de seus caninos, seus olhos estavam vermelhos, injetados de sangue, seu hálito exalava morte, suas mãos eram garras de um predador pronto para matar.
_ Satanás _ gritei tentando fazer uma cruz com os dedos das mãos _ que demônio é você?! Um vampiro.
_Ha, há, há, seu mortal imbecil, só agora você percebeu aonde se meteu? Confesso que esse seu porte físico de esqueleto nunca me atraiu, mas agora que você mexeu na minha geladeira e descobriu meu segredo, não vou ter alternativa...
_CARACA, seu Drácula! Me dá um autógrafo, pelamordedeus! Esse é meu último pedido.
-Imbecil, pra que você precisaria de um autógrafo se vai morrer?
_Sei lá, eu ia chegar no céu com moral. Tipo, “saca só São Pedro, tenho um autógrafo do conde Drácula”.
_Tolo, a morte não é como imagina sua religião. E eu não sou Drácula. Sou um vampiro menor, atolado nessa decadência brasileira.
_Pô, eu sempre gostei de vampiros. E na verdade eu não tenho religião não, mano. Digo... Senhor vampiro. Pô, ser morto por um vampiro vai ser style, mas você não precisa de um ajudante, não? Nos filmes de terror tem sempre um cara feio que fica tomando conta do caixão durante o dia. Feio eu já sou, só falta...
_Um servo? Sim, talvez um servo fosse útil para mim. Você seria meu carniçal, eu poderia te dar algumas gotas do meu sangue, pra você experimentar um aperitivo do meu poder imortal. Mas não sei, você é tão sujo e asqueroso.
Confesso que ser chamado de sujo e asqueroso por um vampiro não era a coisa mais irada que poderia me acontecer. Na verdade era um lixo, mas minha auto-estima era que nem o clima no Pólo Sul, nunca saía dos valores negativos. E nesse momento o velhote sanguessuga já não estava mais andando sobre mim e sim, dando voltas pelo porão, observado pelo fiel Cérbero.
_ Olhe, magricela, eu realmente preciso de um ajudante. Mas vou ter que testá-lo. E, entenda, sua vida humana terá acabado se você se juntar a mim. Você estará vendendo sua alma a Lúcifer por um preço barato.
_Doutor, minha alma não vale muito mesmo. E eu sempre quis que alguma coisa legal acontecesse na minha vida. Isso é a coisa mais empolgante que podia me acontecer, saca? Trabalhar pra um vampiro! Eu sempre soube que ia ser alguma coisa na vida e, como eu já disse, eu não curto religiões e sempre me amarrei em vampiros. Tá, eu não gosto muito de sangue, mas quando você for sugar alguma donzela virgem eu posso olhar pro lado.
_Donzelas virgens não são tão fáceis de encontrar hoje em dia...
_Por isso que você ta sempre acompanhado das minas do “Jacksons’s Girls”, né? Tô, ligado, eu sempre vejo o movimento das primas aqui na sua casa.
_Eu pago bem para sugar o sangue delas.
_E você não as mata depois?
_Não, eu sou quase vegetariano. Está vendo essas carcaças aqui? São porcos...
_E você não tem medo da tal gripe suína?
_Imbecil! Vampiros não tem sistema respiratório, vampiros não pegam gripe. Vampiros estão mortos. E a gripe suína não é transmitida por porcos, seu idiota!
_Putz, é mesmo, que vacilo. Bom, mas acho melhor a gente acabar com essa discussão que daqui a pouco vai amanhecer. Vai pro seu caixão que eu fico de guarda aqui.
_Você acha que eu confiaria tão inocentemente, num humano desprezível que veio saquear minha casa.
_Pô, cara, se não confia, então, me hipnotiza, me suga, me sodomiza. Sei lá, o que vocês vampiros velhos gostam de fazer. Eu já disse, estou disposto a vender minha alma, bem baratinho pra você, em troca de um trabalho, um lugar pra dormir e umas gotinhas desse seu suco de sangue mágico. É tipo Viagra isso? Tipo maconha, tipo o quê?
_Meu caro, isso lhe fará ter as mulheres mais belas e mesmo que você quisesse as mais horríveis elas pareceriam as mais belas pra você.
_Pô, mas isso é tipo cachaça, então...
_Chega de imbecilidades. Sua alma não terá salvação. Que geração perdida. Goethe nunca teria escrito “Fausto” se conhecesse você.
_Fausto Silva?
_Esqueça, imbecil. Você começa a trabalhar hoje. Um ser tão tosco só poder ser um servo obediente e fiel.

Continua..

-Pô, conto legal, quero ler mais!
-Me amarro em "True Blood" e outras histórias de vampiro
-Prefiro ler coisas curtas

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