17.2.08

Lado feminino

“Que pessoinha estranha”, ela pensou olhando para o corpo que babava ao seu lado. “Preciso escolher melhor meus fins de noite, não dá pra ficar fazendo caridade com qualquer looser que cruza meu caminho às cinco da manhã”. Ela não namorava. Nunca. Tinha um repelente natural para relacionamentos duradouros. Tinha tentado uma vez aos 18, mas não durou mais de dois meses. Em outros casos teve vontade, mas o cara não. Outras vezes o cara teve vontade, mas ela não queria alguém por comodismo. Queria alguém que virasse sua cabeça, se não fosse assim era melhor nem ser. Esperou o magrelo acordar. Era realmente bem magro, tinha bigodinho ralo, os óculos estavam no criado mudo ao lado da cama, alguns pelos perdidos pelas costas e peito, algumas marcas de espinha sobreviveram a adolescência. Acordou beijando-a e abraçando-a. “Nem pensar, filhinho, já fiz minha boa ação ontem”, pensou virando-se de lado. O magrelo foi até o banheiro, bochechou com pasta de dente e voltou à investida. “Não você não está entendendo, o problema não é seu bafo matinal, o problema é você inteiro”. Se falasse tudo que pensava ia se livrar bem mais rápido dos tipinhos como o tal Marcos:
_Olha querido, a noite foi ótima, mas minha mãe está pra chegar daqui a meia-hora. Se você quiser a gente pode almoçar junto. Mas você vai ter que dizer pra velha que é evangélico. Ela é extremamente religiosa. Ah, e vai ter que fingir que é um amigo fazendo uma visitinha matinal. Depois quando a gente começar a namorar....

Nem precisou mentir mais, o cara lembrou-se de uma hora pra outra que tinha “um jogo de futebol com o pessoal do trabalho” e se mandou.
_Pô, hoje é domingo? Que pena! Mas me liga que eu venho almoçar ai, algum dia...
“Ta bom, ta bom, vai embora vai Marcos, não é todo dia que você tem a sorte de dormir com uma mulher bem resolvida, gostosa e madura como eu”. Tinha 27 anos, dois gatos e uns quilinhos a mais. Odiava academia, mas uma vez por ano se inscrevia e começava a freqüentar as aulas. Só fazia bicicleta e esteira. Odiava papo de maromba, colocava os fones do I-Pod na orelha, levava um bom livro, beijos e tchau. Ai de quem viesse puxar assunto com ela. Uma vez o instrutor tentou:
_Lendo na bicicleta? Essa é nova...
_É?_ e continuou a leitura.
Aí passavam dois, três meses, e ela desistia. Nunca tinha sido boa com esportes. Educação física era a tortura mor na escola. As únicas atividades físicas que mereciam sua atenção eram: dançar e transar. Não que transasse muito. Gostaria de fazer mais sexo, se arrumasse um parceiro fixo. Aliás, dos 24 aos 26 fizera uma “greve de sexo” de dois anos. O príncipe encantado não apareceu e ela foi obrigada a voltar a ativa com medo da máxima que o professor de biologia pregava: “O que você não usa atrofia”.

2 comentários:

Energizaizer's Corporation disse...

Ha-ha! Ótima!
Digno para um material de auto-ajuda reversa! ;)

Bárbara dos Anjos Lima disse...

tem coisas que as mulheres precisam passar na vida, para saber que nunca devem retornar aos erros do passado.

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