25.6.10

Lamento Sertanejo

Às vezes, eu, nascido em Penápolis - noroeste paulista, cerca de 60.000 habitantes - sinto saudade do interior, sinto falta do mato. E me acho um caipira. Mesmo que, quando morasse lá, eu pensasse ser o mais urbano e descolado no meio daquele bando de capiau. Do contra era eu, torrando num sol de rachar com camiseta preta, achando a música sertaneja um vômito e as pessoas simples demais.

Mas às vezes, a simplicidade faz falta pra caramba. E o barulho da cigarra de noite, e o solzão na tua cabeça a pino, e o sotaque forte das pessoas, e o tempo passando devagar, a rede mole  a girar, a mangueira alimentando um bairro inteiro, os cachorros rindo com o rabo, o pai almoçando em casa, a gente jogado na calçada jogando papo pro ar.

Eu esqueço da velocidade dos carros, do salário suado, das opções variadas, dos restaurantes e bares 24 horas. Eu esqueço dos museus, da universalidade cosmopolita, do progresso. E eu lembro da música que meus pais ouviam em casa: 





Composição: Dominguinhos / Gilberto Gil

Por ser de lá

Do sertão, lá do cerrado

Lá do interior do mato

Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio

Eu quase não tenho amigos

Eu quase que não consigo

Ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá

Na certa por isso mesmo

Não gosto de cama mole

Não sei comer sem torresmo.

Eu quase não falo

Eu quase não sei de nada

Sou como rês desgarrada

Nessa multidão boiada caminhando a esmo.

2 comentários:

Bárbara dos Anjos Lima disse...

Pqp! Chorei! Nunca tinha prestado atenção nessa letra. Linda!

Energizaizer's disse...

é, história de um bocado de pais por aí, né.

eu choro também.

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