29.12.07

O Espelho


sou
sombra,
Reflexo,
Verso.

Desse lado

inverso.
Reflexo
de sombra
sou


“ohlepsE O”

28.12.07

Playboys x Manos

Quando comecei a escrever o programa "Melhores coisas do Mundo" era pra ser um vídeo semanal de curiosidades sobre as melhores e mais caras coisas do universo. Acabou virando quase um sitcom com as desventuras de Marquinho do Break, Bruno Metal e seu filhinho Bruninho Mini Metal contra os ricos Rodrigo Cofre Cheio e Paulão da Mansão.

Nesse episódio os dois playboys roubam o programa de Bruno e Marquinho:

27.12.07

Misto Quente, Charles Bukowski




A VIDA COMO ELA É: Resenha do livro Misto Quente

Retrato autobiográfico do nascimento de um gênio marginal

"Éramos uma piada, mas as pessoas tinham medo de rir na nossa frente."
Charles Bukowski, Ham on Rye.


Ok, o garotinho se chama Henry Chinaski, mas poderia se chamar Fred Di Giacomo, Eduardo Moraes, Charles Bukowski ou qualquer outro nome de garoto(a) que nunca foi o mais bonito(a) da classe, nunca foi o primeiro a ser escolhido no jogo de futebol ou já passou um recreio sozinho. Como todo mundo de carne e osso Henry também é um perdedor e a escola é seu purgatório pessoal. Seu pequeno inferno. Freud deve ter algum estudo sobre os efeitos devastadores da escola na personalidade e ego das pessoas. Humilhações, repressão e castigos são o que você suporta durante pelo menos dez malditos anos da sua vida, e nos Estados Unidos o negócio parece ser pior. Numa terra onde status é tudo, o universo escolar é dividido entre os perdedores (os losers) e os "caras legais". Não há meio termo; ou você está com eles ou eles estão contra você. Tive uma conversa com meu primo Joe (que nasceu e mora nos EUA) sobre a "high school" e ele realmente tinha pavor, não é à toa que os americanos saem matando seus coleguinhas de classe. Não é à toa, que em sua música "School", Kurt Cobain tenha se limitado a gritar "Vocês não vão acreditar, é a minha sina. Sem recreio. Você está na minha escola outra vez".

Perdedor, Chinaski é um perdedor. No entanto, isso não faz dele um coitadinho. Ele sacaneia os outros assim como a vida o sacaneia. O alter-ego de Bukowski (como em quase todos os livros do "velho tarado", essa é uma história autobiográfica) não teve muita sorte na vida. Sua família tem o alcoolismo no sangue, seu pai o espanca e sua mãe é uma estúpida histérica. O moleque não tem meias palavras: "eu devo ter sido adotado". Seus pais o proíbem de brincar com os garotos da rua. ("Eles pensavam que nós éramos ricos") A vizinhança é imunda, um bairro pobre de Los Angeles, para onde os Chinaski se mudaram logo depois que chegaram da Alemanha. Na escola não há muita esperança, Henry tem poucos amigos e é sempre o penúltimo a ser escolhido para o time de beisebol, sua principal preocupação é se segurar para não ir ao banheiro. ( "Eu chegava em casa e não tinha mais vontade de ir ao banheiro, o cocô já tinha endurecido dentro de mim")

A linguagem é direta, seca. Socos no estômago do leitor são distribuídos a cada página, mas com um maldito humor negro e a tão comentada ironia. Isso diferencia "Misto Quente" de outros clássicos sobre a juventude americana. Ele é uma versão underground de Tom Sawyer, um primo distante de Huck Finn. Vive num terreno arrasado pela depressão como o de "Ratos e Homens" de Steinbeck. O livro chegou mesmo a ter sua importância comparada pros anos 80 com a de "O Apanhador no Campo de Centeio" pros anos 50. Sem seu humor, Bukowski teria estourado a cabeça antes de publicar qualquer coisa. Ele foi um autor que não se contentou com as "verdades" dos livros, leu como um desesperado, mas também viveu a vida desesperadamente. As salvações para o moleque são essas: A ironia e os livros...

Um dia Henry tem que ir ver o discurso do presidente para fazer uma redação da escola. Ele sabe que se não cortar a grama naquele sábado seu pai vai surra-lo como sempre. O fedelho decide, então, inventar um discurso, com toda a pompa e todos os detalhes. A professora lhe dá dez e pede que leia em voz alta. Ele descobre um talento ("(...) era isso que eles queriam: Mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas, seria fácil pra mim.") Aos poucos aquele moleque vai reunindo em torno de si outros desajustados, freakies, losers como ele. ("Eu era como um lixo que atraía moscas, ao invés de uma flor desejada por borboletas e abelhas"). Ele começa a ganhar algum destaque, mesmo em meio a todos os seus problemas, como define com uma passagem mais ou menos assim: "havia alguma coisa dentro de mim, eu sabia, podia ser todo aquele cocô endurecido...". Chinaski vira um durão, era isso o que ele mais desejava. Podia não ter as garotas (e ele realmente se dá mal com elas, eternamente virgem e sempre desperdiçando as oportunidades que surgem), mas ganhou algum respeito. Aos poucos vai se embrenhando em uma vida marginal de vadiagem, álcool e brigas que contrapõe-se com seu talento florescente para a literatura. Ele estava sozinho, mas tinha os livros. Era mais um daqueles garotos que passavam horas se divertindo sozinho, brincando com seus amigos invisíveis, criando suas próprias histórias que aos poucos vão ganhando o papel.

Chinaski não tinha um pai? Certo, mas ele tinha Hemingway e Dostoievsky. Com o escritor russo ele aprendeu: "Quem não quer matar seu pai"? O complexo de Édipo rodeia Chinaski por toda a obra. "Ele" é o cara sacana, "Ele" é o responsável por seu sofrimento, "Ele merece" morrer. Esse ódio por seu pai (na realidade um alcoólatra violento) permeia toda a obra do velho "Buk", e é outro dos sentimentos mais antigos da humanidade, estudado por Freud como uma das raízes dos principais tabus da nossa sociedade. Essa capacidade de transformar o dia a dia em poesia, de pegar as bebedeiras triviais, as angústias adolescentes e transformá-las em arte é a mágica de Bukowski. Sim sua linguagem é chula, ele fala de sexo o tempo todo e não finaliza com chave de ouro, mas isso não é o que importa. Aliás no mundo de "South Park" falar palavrão não assusta mais ninguém. Tire todas "bucetas" e "merda" do texto e você ainda terá um livro genial. O que importa é seu retrato do homem comum.. O resto é excesso.

Misto quente(Ham on Rye), publicado originalmente em 1982.

Fred Di Giacomo,
brincou tanto de criar histórias que acabou passando-as pro papel
26/05/04

-Leia a resenha do livro Cartas na Rua, de Charles Bukowski
-Frases do velho safado

Memórias de um perdedor: Capítulo 1


Infância:
Éden: Fraldas, circo e uma bicha odara


"Quando era pequeno, a vida era um circo queria ser palhaço, queria ser artista voar pelo espaço, o tempo demorava para passar.”

1.Quando fiquei velho eu morri.
Esse é o fim , no começo tudo eram pequenos flashs. São Paulo era uma cidade grande e eu tinha um amigo ruivo que brincava comigo no parquinho. Um dia ele me meteu a mão na cara e nós nunca mais conversamos.
Não sei se eu era bundão, porque não tenho muitas lembranças até meus três, quatro anos de idade. Lembro que meu irmão mais novo estava sempre lá, sabe? Acho que nós nunca fomos apresentados um ao outro, assim como nunca me apresentaram a meu primo Fábio, mas eles sempre estavam lá. Ele nasceu um ano depois que eu, então na verdade sempre considerei que ele fosse parte de mim. Nunca soube distinguir direito onde eu terminava e onde começava o Marcelo. Só sei que ele tava brincando comigo e com meus primos quando a gente ia pra casa dos meus avós e que ele estava comigo quando a gente se mudou pra um buraco no interior de São Paulo: Patópolis.
Nenhum dos meus pais tinha realmente algo a ver com Patópolis, meu pai vinha de uma família simples de São Paulo. Minha avó era filha de imigrantes espanhóis pobres e meu avô tinha migrado da Bahia. Ele tinha trabalhado na roça, jogado futebol e sido vaqueiro em Goiás. Quando veio pra São Paulo arrumou um emprego público e passou a estudar direito à noite. Meu vô nunca parecia estar feliz e eu tinha medo dele. Minha vó adorava falar e me dava presentes. Eu adorava minha vó, seus presentes e o cheiro forte do seu perfume.... Quando meu vô realmente começou a ganhar dinheiro, meu pai já estava no colegial. E ai ele resolveu fazer Ciências Sociais! “Não rapazinho, você vai ser um advogado como seu pai”. Meu velho durou um ano no curso de direito com seu cabelo comprido e sua barba hippie, mas logo transferiu pra Ciências Sociais e teve que começar a trabalhar pra pagar a faculdade. Voltou a ser pobre.... O coitado nunca soube realmente como ganhar dinheiro, tudo que ganhou ele gastou em livros. Livros e idéias que ele passou pra gente como herança. Foi na faculdade que conheceu minha mãe. Ela era quase hippie e também gastava seu dinheiro em livros.
Minha mãe era uma garota linda: magra, de olhos verdes, boca carnuda e cabelos negros. Foi dela que eu herdei meus olhos, que no começo eram azuis. É impressionante como a gente muda pra pior com o tempo, né? Todo mundo dizia que eu era um bebê lindo, e quem vê minhas fotos dessa época concorda. Eu até fui uma criança bonitinha, mas a adolescência mudou tudo... Bom, voltemos a minha mãe: seu pai era médico e sua mãe tinha vindo de uma família aristocrática. Meu avô materno perdera uma fortuna jogando baralho. Ele realmente fora um viciado em jogo e por isso teve que sair de Pacú onde nasceu para ir pra Patópolis... Diz a lenda que, numa manhã, depois de passar a noite toda jogando buraco no clube, meu avô trouxe um colar grosso de ouro pra minha vó. Não que ele tivesse ganho uma bolada, aquilo era o equivalente a toda grana que ele perdera no dia. É, meu vô era um cara legal e os caras legais sempre chegam por último.
A família da minha mãe era uma típica família italiana: grande e barulhenta como todas as famílias italianas são. O natal era sempre muito divertido, tinha aquele arroz ruim com passas, mas a gente ganhava presentes e podia brincar com os primos. Eu sempre passava fome no natal porque odiava arroz com passas e aquelas coisas que eles colocam na comida de fim de ano Eu tinha um primo da minha idade que se chamava Fábio, e a gente sempre brincava junto. Eu, ele e o Marcelo. Um dia em Pacú, o Fábio também chegou me dando umas porradas sem eu saber porque. Eu não reagi porque não entendi porra nenhuma, não entendia porque na vida de repente te dão uma porrada na cara. O pai da minha mãe também chamava Fábio e era filho de italianos, ele vivia gritando palavrões e fazia macarrão nos domingos. Nós íamos comer na casa dele e eu achava meu vô muito engraçado. Ficava ouvindo suas histórias da Revolução Constitucionalista de 1932 e do dia em que ele viu Getúlio Vargas. Ele achava Getúlio um grande cara. Eu também achava Getúlio um grande cara e meu vô era um herói pra mim. Minha vó me lembrava morte. Ela queria me convencer que dEUS existia e vivia contando histórias de doenças e de pessoas tristes. Eu sempre me sentia doente quando escutava as conversas. Teve um dia, no quintal da casa dos meus avós, que ela perguntou porque eu e meu irmão não acreditávamos em dEUS, eu falei que ia decidir depois , mas o Marcelo disse:
-Eu odeio dEUS, porque ele é bicha!.
Se dEUS era veado ou não, nunca descobri, mas acho que minha avó nunca mais encheu o saco com essa história.

26.12.07

Top 5: Era uma vez no oeste e os melhores filmes que vi em DVD


Final de ano prolífico no quesito filmes de DVD, ai vai minha listinha de melhores filmes que assisti pela primeira vez dm 2007(Não valem os do cinema)

1.Era uma vez no oeste - Sergio Leone
2.A felicidade não se compra - Frank Capra
3.A um passo da eternidade - Fred Zinnemann
4.Noivo neurótico e Noiva Nervosa - Woody Allen
5. Sid e Nancy - Alex Cox

***
Acabei de assistir Era uma vez no oeste. E fiquei de boca aberta. O filme de Sérgio Leone é uma ópera com enredo de western, um épico que reune diversos mitos do gênero de cowboys num ritmo próprio e com um cinismo ausente nos clássicos de John Wayne e Cia. Um exemplo: Henry Fonda, que sempre vivia mocinhos nos filmes americanos e era um herói dos yankees, vive o vilão da história, um assassino frio que executa uma família inteira. O próprio Fonda ficou preocupado com sua imagem ao fazer esse "son of bitch" como ele diz nos extra do DVD.

As quase três horas de filme fluem de maneira imperceptível, a tensão se mantém durante toda a película desde a primeira e maravilhosa cena: três pistoleiros esperam alguém numa estação de trem aos pedaços. Pouquíssimas falas, closes transformam os rostos dos bandidos(todos atores de westens clássicos) em paisagens que se fundem com o deserto americano(Na verdade a cena foi filmada na Espanha). Cada movimento dos três é mostrado em detalhes construindo com a trilha sonora(composta apenas por ruídos da natureza, sem nenhum instrumento musical) um clima de tensão constante. O trem está atrasado. Quando chega, aparentemente ninguém desce. Os bandidos estão lá em vão. Eles se viram para ir embora, e então o barulho de uma gaita chama sua atenção. É Charles Bronson, um misterioso personagen sem nome, que vai matar os três. E nós estamos apenas nos momentos iniciais.

Seguem-se dezenas de diálogos antológicos, onde cada palavra é milimetricamente esculpida. Não há gordura aqui. Cada movimento, cada sílaba tem um significado. As referências aos velhos westerns são constantes, resultado de um roteiro escrito por cinéfilos como o diretor italiano Bernardo Bertolucci. Mas há sempre um elemento moderno que atualiza as tradições do gênero. A belíssima Claudia Cardinale é a protoganista. Ela é ao mesmo tempo a mãe e a prostituta. Uma mulher bondosa que não hesita em deitar-se com o bandido para salvar sua pele. Além dela, outro personagem central é a ferrovia: o progresso chega ao oeste despertando a cobiça e massacrando famílias de trabalhadores. "“Então, você descobriu que não é um homem de negócios, afinal de contas”, pergunta Charles Bronson a Henry Fonda. "Somente um homem" responde Fonda. “Uma raça antiga. Virão outros Mortons(o homem de negócios) e acabarão com ela”.

È ao mesmo tempo uma homenagem e uma crítica, um épico e uma tragédia. Uma grande sinfônia de morte orquestrada ao som da genial trilha de Enio Morricone. Sérgio Leone diz que tentou impor ao filme o ritmo dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer e que todos os personagens, exceto Cláudia Cardinale têm consciência de que não chegarão vivos até o final.

Um trecho da cena de abertura:

23.12.07

Às margens do Rio Piedra, sentei e caguei.

-Leia mais contos

Mesmo que eu gostasse de Paulo Coelho teria vergonha de dizer que um dos meus livros favoritos chama-se “Às margens do Rio Piedra sentei e chorei”. E a menina que dirigia o carro disse exatamente isso. Ela era uma dessas roqueiras místicas que gostam de Janis Joplin, sexo e pactos com São Cipriano. Sabe o que é um pacto com São Cipriano? Aquele negócio satânico que você faz pra fechar o corpo e tal. Na minha adolescência, tinha sempre um cara louco de preto estudando essas coisas de Bíblia Negra, acho que o Paulo Coelho ia fazer um baita sucesso investindo no undeground do misticismo.
Certíssimo, estávamos eu e o Augusto voltando da “balada” bêbados e alterados por solventes, do tipo “lança-perfume”. Quem dirigia era a Bia, ao lado dela Samanta, “a gaga”, e dividindo o banco traseiro conosco, o respeitadíssimo: Denis, pequeno traficante japonês, que nos explicava a diferença entre uma pistola automática e uma semi-automática. Aquilo tudo era muito instrutivo, mas às seis da manhã o que eu queria mesmo era comer alguma coisa e dormir umas boas horas de sono. Ou dormir com a Bia e terminar uma história que eu deixei incompleta há mais de três anos atrás... Ta, certo, não entenderam nada, né? Hora do flashback...
Tinha, então, dezoito anos, virgem e pré-universidade. A tal da Bia era uma lenda sexual na cidade. Namorava um cara, mas isso não impedia seus casos, que eram vários. Um amigo chamava-a de “Deusa do sexo”. Nós a idealizávamos bastante e só. Um belo dia(adoro usar essas expressões clichês pra começar frase), ela resolveu dar em cima de mim e nós acabamos no seu carro, no meio de uma estrada. Naqueles tempos, eu era um bom garoto, não me sentia muito a vontade, estava nervoso e meu membro também não ajudava muito. Por mais que ela me atiçasse, ele não se levantava. Quem me salvou foi a polícia... Uma viatura parou ao nosso lado, conferiu se estávamos nos drogando e nos mandou sair dali. Tive mais um encontro (quase) sexual com a Bia, mas a camisinha teve alguns problemas e acabamos não transando...
Voltando ao carro, paramos em frente de casa, agradeci e pulei. A Bia me pediu um beijo de boa noite, fui no seu rosto, e ela me deu um selinho, tentei enfiar a língua, mas ela riu... Não seria naquela noite... Tudo bem, ela gostava de Paulo Coelho...

***
A Bia deixou um por um em suas casas e só sobramos eu e ela... Eu conhecia a figurinha há tempos, só foi o Denis sair do carro e ela colocou a mão no meu órgão. Era completamente ninfomaníaca, pensava e fazia sexo vinte quatro horas por dia. Cabelos compridos tingidos de vermelho, olhos pretos, boca carnuda, seios fartos, mas sem bunda. Usava umas roupas muito decotadas e falava algumas merdas tipo:
_Os judeus não podem olhar, é pecado pra eles. Eu passo com os menores decotes possíveis em frente à sinagoga e eles me ignoram. Eu fico me sentindo mal, assim.
Cursava psicologia... Meu dEUS do céu, quanto mais psicólogos conheço pela vida, mais confio nos curandeiros e mães de santo. Entramos no apartamento dela, ficava num condomínio onde as janelas de um prédio davam de frente pras do outro. Ela dividia o quarto com uma colega de classe, mas a menina não estava em casa. Sorte minha, entramos no quarto e eu enfiei a língua na boca dela, apertei sua bunda e rolamos no sofá. Eu estava muito empolgado, e parecia que quanto mais peças de roupa tirava, mais peças de roupa apareciam. Era como magia, arranquei uma calça jeans, um top e suas sandálias beijando cada dedo do seu pé, e lá estava ela com uma saia de pregas curtíssima, coturno e blusinha decotada. Cada nova combinação lhe dava um estilo mais vamp, mais sadomasoquista. Ela disse pra irmos ao seu quarto, afinal a colega não estava. A cortina da janela estava toda arrebentada e um sem fim de janelas permanecia com as luzes acessas para assistir nosso showzinho privê. Alguns caras, com jeito de operários, assistiam a cena do saguão, torcendo e gritando coisas do tipo:
_Mais um, Bia? Quem é o babaca da vez?
_Quem você vai devorar agora?
_Ela ta te passando pra trás, otário!
Eu, peladão ali no meio, fiquei sem graça. Achei que ela era algum tipo de viúva negra. Consegui deixa-la só de calcinha e ela voltou com alguns artefatos S&M.
_Você gosta de ser dominado?_Me perguntou... Naquela hora, eu faria qualquer coisa em troca daquela calcinha.
_Claro.
_Então, você vai ser meu escravo. Grita pra eles lá fora que você falhou comigo, que você é meu escravo e faz o que eu mandar!
(“Nem a pau”, pensei)
_ Eu me humilho por causa dela!
_Não foi isso que eu mandei você falar.
Ela tava de pé, calcinha preta minúscula, chicote na mão. Salto alto e sombra nos olhos. Os cabelos, antes vermelhos, agora eram negros como a noite. Tinha uma tatuagem de aranha na coxa. Viúva Negra! “Quer saber?”, pensei. “To, de saco cheio disso aqui, esse quarto é uma zona, tem um exército de operário e porteiro tarado lá embaixo, e ela ainda quer que eu fique gritando? Enchi o saco”. Parti pra cima dela, e joguei a na cama, tava bem violento. Ela xingou, eu dei um tapão, segurei os braços com uma mão e com a outra baixei a calcinha. A Bia tava bem agitada, mas quando eu tirei o trapo preto sossegou...
Um pau! Tinha um pau ali! Uma mina com um... Eu não podia transar com uma mina com aquele negócio no meio das pernas, podia?
Acordei puto.
***
Depois daquele sonho, só tinha uma certeza: o culpado de tudo aquilo, dos gritos de “Toca Raul” nas festas, da divulgação da literatura brasileira no Irã e de toda corda pro misticismo de butique era o mesmo cara: Paulo Coelho! Eu ia matar o cara! Não por ele ter composto hinos hippies com Raul Seixas, se ele estacionasse naqueles tempos tava bom, mas, se não fosse por ele, a Bia não seria “a Bia” e eu não teria sonhado com uma mulher com pau. Parecia justo.
Peguei um livro dele na biblioteca municipal de Shit City e comecei a seguir o “Caminho de Compostela”. Fui assassinando todo tipo de hippie, guru e monge que encontrava pelo caminho. Meu destino era um só: matar o “Alquimista” e acabar com seu nome na lista dos Best Sellers mundiais.
Entrei num mundo louco que parecia São Tomé das Letras multiplicada por três, havia todo tipo de malucos, yogues e vegetarianos. Rolava um concurso internacional de imitadores do Raul e um show ao ar livre do hippie Ventania. Toras de incenso e maconha eram queimadas, enquanto mantras fajutos eram repetidos. Alguns casais punham o kama sutra em prática ali mesmo, no meio de crianças, cachorros e animais selvagens.
Não tive dúvida, se aquilo não era o Fórum Social Mundial, era a sede do reinado de terror do “Bruxo”. Uma menina de dezesseis anos passou diante de mim e eu perguntei:
_Moça, onde estamos?
_Às margens do Rio Piedra, foi aqui que o “Alquimista” inspirou-se para escrever diversas de suas obras clássicas.
_ Ah, muito obrigado. E, a propósito, qual é seu autor favorito?
_Paulo Coe...
_Era._ Descarreguei minha pistola na garotinha.
Logo à frente, duas senhoras, discutindo a profundidade da filosofia paulocoelhana, um hippie e uma menina comum.
_ Por favor, qual é seu autor favorito?- Eu repetia. E a cada resposta idêntica, descarregava minha arma.
Tanta violência me deu sede, fui tomar um pouco d’água no rio Piedra e ouvi um guia explicando:
_Às margens desse rio, o “Alquimista” conseguiu inspiração para diversas de suas obras...
BLAM! Um guia turístico a menos no mundo! Que saco, eu já não agüentava mais. Será que aquelas pessoas não gostavam de ler de verdade?
_Eu adoro ler! Auto-ajuda, “Quem roubou meu queijo” e Paulo Coe...
BLAM! BLAM! BLAM! Eu era o juiz do apocalipse e tinha o poder de eliminar todas as pessoas que quisesse. O critério era simples: “Você gosta de Paulo Coelho”? Não importava que fosse um jovem começando suas leituras, um intelectual que lesse só por diversão ou a mulher mais linda do mundo. Todos teriam que pagar por aquele crime horrendo!
Encontrei o Paulo Coelho às margens do Rio Piedra, de cócoras. O desgraçado estava cagando no rio! E logo ali embaixo, algumas pessoas usavam a água para banhar-se e fazer comida. Bruxo filho da puta! Fiquei com vontade de dar lhe um chute na bunda branca. Acontece que nesse exato momento senti uma pontada na barriga. Aquela água devia estar tão carregada de coliformes fecais de autores de best-sellers e místicos, que soltava o intestino de qualquer pessoa...
Às margens do rio Piedra, sentei e caguei. E depois, chorei.

***
Ah propósito, você gosta de Paulo Coelho?
24/07/05.

5 melhores filmes brasileiros de 2007

O ano está acabando, mas ainda dá tempo de umas listinhas de retrospectiva:

1. Cheiro do Ralo
2. Tropa de Elite
3. Jogo de Cena
4. Santiago
5. Não por acaso

Os filmes não estão em ordem classificatória e Saneamento Básico merece a menção honrosa. Pra mim o pior filme nacional do ano foi "Proibido Proibir", achei o roteiro cheio de buracos e as atuações meia boca

18.12.07

Banguela HIts - O último dente

Toda banda de punk é influenciada por Ramones, todo baixista já foi fã do Flea, todo mundo tem um monte de influências comuns a outras milhares de bandas.
Mas tem sempre aquele disco estranho que fez a sua cabeça e te influencia até os dias de hoje. (Seja uma banda brega que você tem vergonha de assumir que curtia, mas decorou os riffs de cabo a rabo, ou uma bandinha pop/rock que era hit na Mtv quando você começou a se ligar em música.)
Lembro que por volta de 1997 eu tinha 13 anos e estava começando a curtir som. Os Titãs tinham um selo, Banguela, que lançou Mundo Livre s/a(de quem eu era fã, assim como todas demais bandas de Recife) e Raimundos. O selo Banguela durou alguns anos e se despediu com a coletânea "Banguela Hits", que incluía as bandas: Mundo Livre s/a, Raimundos, Little Quail, Graforréia Xilarmônica, Maskavo Roots, Kleiderman e Pravda.
Pra mim era um amontoado de bandas com nomes bizarros. Mas é impressionante, como lembro todas as músicas até hoje. E várias dessas bandas tem alguns dos elementos que eu mais gosto até hoje: bom-humor nas letras, mistura de estilos e baixos grooveados.

Só descobri a importância do Graforréia pro rock gaúcho vários anos depois, mas sempre curti os arranjos estranhos, com baixo destacado, e letra engraçada de "Bagaceiro Chinelão". O psychobilly insano do LIttle Quail(hoje em dia minha banda toca "Essa menina"), também foi redescoberto anos mais tarde. E agora eu estava ouvindo as músicas da ainda obscura banda de funk-rock, Pravda. E pensei: que puta linha de baixo!

Engraçado, não sei se esse post faz sentido pros outros, mas pra mim faz. A coletânea cheia de bandas com nomes esquisitos ajudou a moldar meu gostos musical.

17.12.07

Eu tenho medo de "que saudades da ditadura"

Na fila do supermercado duas senhoras olham uma capa da revista Superinteressante sobre legalizar ou não as drogas e comentam: "Esses jovens fazem passeata pela paz de dia e de noite ficam cheirando cocaína.". No busão outra tiazinha conversa aos berros com o motorista: "Cansei dos políticos, não acredito em nenhum. PSDB, PT é tudo a mesma coisa, eu não voto em mais ninguém!".
Depois que o PT chegou ao poder, não fez grandes mudanças, e a corrupção continuou, tenho ouvido cada vez mais pessoas dizendo nas filas, ônibus e supermercados que não acreditam em político algum. E pior que isso, é cada vez mais frequente o discurso conservador de "que saudades da ditadura", "Capitão Nascimento pra presidente", "tem que matar esses drogados". A Veja deu uma capa com "o que pensam os militares". Não é questão de opção política: seja de direita ou de esquerda eu dispenso qualquer tipo de ditadura, dispenso qualquer opção de ter alguém decidindo o que devo fazerm,ler ou pensar. Nem Stalin e nem Pinochet. Quando era pequeno achava que em Cuba a coisa tinha funcionado, mas todo cubano com quem converso, mesmo os que acham que a Revolução funcionou, preferiam ser livres.
Os políticos podem(e são) ser um banda de fdp, mas eu ainda prefiro o poder de escolhê-los. E tirá-los do poder, se for o caso.

14.12.07

POEMINHA DO CONTRA - Mário Quintana

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mário Quintana

***

Lembro de ouvir esse poema na TV quando o Quintana morreu e nunca mais esqueço.
Também lembro que o sonho dele era morrer depois de ver o século XXI e ele não conseguiu. Triste.

11.12.07

Retrospectiva 2007

Este ano recarregou meus poderes nerds, graças a uma hora que eu levo no busão para chegar no trampo. Segue a listinha dos livros que consegui ler em 2007. Em breve vou copiar o ECM e postar meus top 5 discos, filmes e livros.

-Os adoráveis trapalhões, Luis Joly e Paulo Franco **

-Almoço Nu, William S. Burroughs ** */*

-Otelo, o mouro de Veneza, William Shakespeare *****

-Crocâncias Inéditas, Frank Jorge ** */*

-Cartas na rua, Charles Bukowski **** */*

-Elite da Tropa, Luiz Eduardo Soares,André Batista,Rodrigo Pimentel *****

-Medo e Delírio em Las Vegas, Hunter S. Thompson *** */*

-Hamlet, Príncipe da Dinamarca, William Shakespeare *****

-Macbeth, William Shakespeare **** */*

-Bonequinha de Luxo, Truman Capote ****

-Factótum, Charles Bukowski **** */*

-Screw Jack, Hunter S. Thompson *** */*

_Rumo a Los Angeles, John Fante ***

- Livro de Areia, Jorge Luis Borges **** */*

-Roberto Carlos em Detalhes, Paulo César de Araújo ****

-A Divina Comédia dos Mutantes, Carlos Calado *** */*

-Elogio da Sombra, Jorge Luis Borges ****

-O Informe de Brodie, Jorge Luis Borges ****

-História Universal da Infâmia, Jorge Luis Borges ***

-O tarado do Brás, Pedro Luiz Pereira *** */*

-O Abajur Lilás, Plínio Marcos: ****

-O Harlem é escuro, Chester Himes: ****

-Quando as máquinas param, Plínio Marcos: ***

-Navalha na Carne, Plínio Marcos: **_*/*

-O Ovo Apunhalado, Caio Fernando Abreu: ****

-Crônicas de um amor louco, Charles Bukowski: **** */*

-O Velho e o Mar, Hemingway: *****

_Os Manuscritos de Jesus: *****

-Uma longa queda, Nick Hornby: **_*/*

-O Sol também se levanta, Hemingway:***

Os adoráveis trapalhões, Luis Joly e Paulo Franco **

O típico exemplo de uma história rica contada de forma pobre. O livro surgiu da tese de pós-graduação dos autores o que explica o jeitão de trabalho acadêmico. Em meio a entrevistas com fãs e parentes dos humoristas a voz que faz mais falta é a do trapalhão mais famoso: Renato Aragão. No entanto, vale pelas curiosidades sobre os 4 humoristas brasileiros, o ínicio da trupe sem Mussum e Zacarias, e a filmografia completa do quarteto. Leitura rápida, que da vontade de que escrevam uma biografia mais completa e definitiva sobre o grupo de comediantes mais famosos do Brasil.

10.12.07

Mulheres I: Anjas Tortas.

-Tava procurando mulé pelada? Clica aqui, então!
-Galeria de Pin Ups

pra minha amiga Lana

Ilustrações: Gabriel Gianordoli Foto: Eloisa G

_Nossa, não tem coisa mais feia que um pau mole...
_Verdade, não tem coisa mais broxante, né?
_Pau mole de namorado a gente até tolera, mas se for um cara nada a ver, é duro...
_É mole!
_ He, he, he, aquele negócio, pequenininho, todo enrugado…
_ Parece a cabeça de um peru, sei lá!
Riram.
Eram duas, uma chamava Luísa, e a outra Luísa. Eram amigas, desde o colegial. Uma tinha cabelos compridos e castanhos e a outra, cabelos curtos e loiros. Uma tinha olhos negros grandes e a outra, olhos verdes e pequenos. Uma tinha um metro e oitenta e a outra um metro e sessenta e quatro. Uma tinha namorado um cara chamado Alex, a outra namorava um cara chamado Alex. As duas sempre. Inseparáveis.
Luísa grande era poeta e Luísa pequena era jornalista. As duas tinham bebido alguns copos a mais de vinho e estavam muito felizes por se verem de novo. Moravam em cidades distintas. Desceram do carro de mãos dadas, estavam entrando em um bar. Vinham de um café onde a antiga turma tinha se encontrado.
_Você deu um selinho na Carol, lá no bar, né?
_Eu dei, por quê?
_Eu também quero, he he he. Você nunca me deu um selinho...
_Que, que tem, Luisa?
_Me da um agora?
_ Aqui, no meio do bar?
_É, eu quero um beijo, agora!
_Tá, bom.
Luísa pequena encostou os lábios na boca de Luísa grande, meio sem jeito, e deu um beijinho estalado. As duas riram embriagadas. Luísa pequena tinha conflitos e dúvidas sexuais. Luísa grande gostava de homens, mas já tinha transado com outras meninas.

Ana tinha cabelos vermelhos como fogo, pele branca coberta de sardas, bunda grande, coxas grossas. Vinha de São Paulo, universitária. Conheceu Alex num dia qualquer: Ele caçando mulheres de asas, com rede e chapéu de explorador, e ela voando pelo mundo livre. Um dia, ficou trancada pra fora da casa. Eram vizinhos. Tocou a campainha. Pediu pra ficar ali até que suas colegas chegassem. O moço era psicólogo, recém formado. Estava desesperado atrás de uma fada. Olhou Ana de cima a baixo, tinha um belo corpo e asas vermelhas com sardinhas. Talvez fosse uma fada disfarçada. Não podia saber. Conversaram a noite inteira.
Aquele ritual foi seguindo, noite após noite. Ana parecia ser uma menina inteligente que se interessava por música e poesia. Também gostava de ver revistas de mulheres peladas e ir a bares gays. Tinha um anel de virgindade, uma espécie de pacto com a mãe de que só transaria depois de casada. Dizia que era uma coisa na qual acreditava. Pertencia a uma igreja americana, mas tinha jeito de quem não tem religião alguma. A não ser pelo tal anel de virgindade, Ana transbordava sensualidade pelos poros, em uma contradição provocante. Gostava de abraçar, falava segurando a mão e olhando nos olhos. Comentava de sexo com desenvoltura. Contou que um dia passou por um trauma e perdeu a memória de um ano.

-Mais contos libertinos e libertários

A duas brigando pela última vez, lágrimas nos olhos da mais nova. “O homem que eu mais amei em minha vida foi ELA”. Tinham conhecido-se em uma noite tocando piano. X era técnica pura, Y improviso. As duas se revezavam a quatro mãos. X tinha namorado quatro garotas. Y beijava as amigas por diversão. As duas descarregavam toda a tensão sexual naquele piano. Bebiam vinho e conversavam sobre Chico Buarque e poesia.
Y levantou-se e foi até a cozinha pegar mais vinho. Seco, só tomava tinto seco. X foi atrás, cabelos esvoaçantes, corpo cheirando libido. Encontrou Y tomando seu vinho tranqüila, encostada na pia. Beijou-a. Y a afastou, olhou com uma cara de dúvida. X atacou-a de novo, agora com mais vontade. Os braços envolventes, as mãos explorando o corpo pequeno de Y. Tocou lhe na vagina, por baixo da saia. Molhada. Afastou a calcinha com os dedos e passou a estimular o ponto sobressalente. Gemidos abafados. Tinham medo que alguém ouvisse. Y estourou num orgasmo contido. X gozou só de vê-la daquele jeito. “Como nenhum homem jamais havia feito se sentirem antes!”
X e Y namoraram um ano. Y buscava X todos os dias na escola. X queria casar com um homem e ter filhos. Y transava com o melhor amigo de vez em quando. X sentia-se traída quando Y chegava em sua casa com cheiro de sexo no corpo. Cheiro de testosterona. Y sentia-se frustrada por X planejar um pacato futuro com um homem e crianças. Achava hipocrisia. Terminaram numa tarde ensolarada, em um passeio pelo museu de arte. Y partiu sem dizer nada. X engoliu as lágrimas e as transformou em câncer.


Alex olhou Ana nos olhos e beijou-a. Ela fechou a boca. Não queria, disse que ia magoá-lo. Ficaram nesse jogo por uma semana. Ele tentava e ela refutava. Dava beijo de novela, selinho, passava sua língua na dele. Era um jogo de sedução acirrado. Alex amava Luísa pequena, porque sabia que ela era uma fada. Só que não conseguia conversar com a moça. Sentia-se de novo no ginásio, cheio de espinhas e tímido. Quando desistiu de Luísa pequena, Ana entrou por sua porta pedindo pra ficar.
Um dia Ana cedeu e os dois passaram a viver juntos. Ela não saía de sua casa. Dormia lá e eles ficavam horas se esfregando. Ela gostava de lutar na cama. Ele tinha que domina-la e isso o excitava muito. Não passavam do ponto X por causa do anel de virgindade. Um dia Ana falou que tinha namorado várias garotas e só era virgem de homens. Ela dizia que Alex tinha cílios de uma mulher e um jeito feminino. Alex ficou perplexo e foi a uma festa com Ana. Luísa pequena estava lá. Tinha tomado um ecstasy. Ele largou Ana e foi atrás de Luísa. Os dois beijaram-se.

Já fazia tempo que Luísa pequena e Alex não transavam. Ela não conseguia gozar e não sentia vontade de fazer sexo. Gostava de visitar Luísa grande e as duas ficavam bem abraçadas uma com a outra. Conversavam sobre tudo e Luísa pequena sentia-se bem. Às vezes Luísa grande pedia-lhe um selinho e Luísa pequena dava. A mãe de Luísa pequena tinha medo que a filha fosse lésbica e ficava feliz quando a menina arrumava um namorado.

Ana só tinha amado um homem na vida. Era Alex. Alex só tinha amado uma mulher na vida. Era Luísa pequena. Luísa pequena achava que nunca tinha amado ninguém, mas gostava de Luísa grande. E gostava um pouco de Alex.


Naquela noite tentaram mais uma vez. Sem camisinha. Alex colocou dentro, e ela começou a se empolgar, ficou com vontade de gozar. Mas na hora, lembrou que estavam desprotegidos, teve medo e broxou. Pediu desculpas para o rapaz. Ele virou pro lado, acendeu um cigarro e desceu até a garagem para pensar na vida. Não entendia as mulheres. Nenhum homem entende as mulheres. A culpa do lesbianismo no mundo devia ser dos homens. “A gente nunca faz uma mulher gozar de verdade”. “A gente nunca faz uma mulher gozar de verdade”... Luísa pequena sentiu-se aliviada por Alex descer. Não gostava de ver um pau mole. Levantou-se e foi até a geladeira. Apanhou uma maçã e ficou comendo o fruto do pecado, completamente nua. Tinha um belo corpo. Era pequena, mas tinha seios e nádegas fartas, cintura marcada. Tinha um belo corpo de bailarina. Viu a porta entreabrir-se.

Naquela noite, Ana sentia-se só. Resolveu ir até o apartamento de Alex. Abriu a porta e viu Luísa, nua, comendo uma maçã. Conheciam-se de vista. Ana tinha ciúmes de Luísa, mas naquela hora não viu Luísa, viu Y. Olhou seu corpo de baixo pra cima. Partiu pra cima dela, com classe. Sabia dominar uma mulher. Usava sua língua como nenhum macho sonhava. A maçã rolou, vermelha, pelo chão. Luísa pequena fechou os olhos e deu um sorriso. Ali, Ana parecia Luísa grande. Eram duas mulheres lindas, rolando pela sala da casa. Ana dominava Luísa pequena. Esta tirava a roupa de Ana: camisa, jeans e calcinha preta. Ficou fascinada com seus pelos pubianos vermelhos. Quis tirar uma foto. Luísa pequena era jornalista e sempre andava com sua máquina fotográfica. Ana fez pose e depois beijou seu corpo inteiro, os dedos dos pés, as batatas das pernas, as coxas... Sua língua tateava o corpo da outra como se cada parte fosse a mais importante. A pele de Luísa pequena era macia como seda e a língua de Ana a fazia arrepiar. A parte interna das coxas e a vagina, até Luísa gozar. Depois passou para barriga, seios e quando chegou na boca as duas já se amavam. Deram um beijo forte e intenso que durou alguns minutos. Ai, Luísa pequena já sabia o que era amor e se libertou por completo. Partiu para cima de Ana e as duas ficaram lutando ali no chão por anos luz seguidos. “A camisinha e o tempo são invenções do Homem” pensou Luísa pequena. “A camisinha e o tempo são invenções do homem, com h minúsculo” corrigiu Ana. E as duas eram mulheres, ponto! Venceram preservativos e ampulheta. “Transar sem se preocupar com camisinha e tempo é bem melhor” concluiu Luísa pequena.


Alex sentia-se um ignorante em relação às mulheres. Ana achava que ele tinha jeito de mulher. Mas ele tinha pau, e quando ficava mole era feio. Ele estava triste e tinha medo que todas mulheres que se envolvessem com ele virassem lésbicas. Tinha largado Ana por dois motivos: medo da responsabilidade de transformá-la hetero e amor por Luísa pequena, mas agora parecia que Luísa pequena estava seguindo o caminho inverso. Os dois nunca tinham tempo. Estavam sempre correndo contra o relógio e isso atrapalhava sua vida sexual. Alex tinha que resolver os problemas de seus pacientes e Luísa pequena tinha que tirar milhares de fotos para o seu jornal. Um analisava a vida e a outra retratava a vida, mas nenhum dos dois tinha tempo para viver a vida.

A porta da sala se abriu, mas as duas nem se importaram, pareciam um Ying Yang vermelho e amarelo, com uma cabeça de cada lado. Alex ficou estático: não sabia se chorava ou gozava. (29/06/05).

Leia também:
-Procurando sexo numa noite chata
-Milagre na Rua Augusta
-Às margens do Rio Piedra sentei e caguei

Apocalypse Now


Retrato existencialista de um dos maiores nadas da história

Flash 1: A visão área da mata tropical no sudeste asiático. Flash 2: Helicópteros bombardeiam uma aldeia de mulheres e crianças ao som das Valquírias de Wagner. Flash 3: Um assassino emerge do pântano com uma faca na mão. Flash 4: O horror!

A seqüência de imagens vêm a cabeça daqueles que assistiram Apocalipse Now(um dos clássicos do diretor Francis Ford Coppola) retrato acidamente poético da Guerra do Vietnã, relançado há algum tempo na “versão do diretor”.

Criticado por Glauber Rocha e elogiado por Paulo Francis, o longa-metragem lançado em 1979 deixou poucas pessoas neutras. Baseado no livro de Joseph Conrad(Coração das Trevas), o filme é um dos raros exemplares de adaptação que se iguala ou até supera a obra original. Para isso, Coppola mudou drasticamente o cenário: das selvas do Congo para o Vietnã, do período neocolonialista para a Guerra Fria. O enredo mantém os elementos básicos do romance; o coronel Kurtz está louco, Willard será o homem designado para eliminá-lo.

No longa, Kurtz - vivido pelo já gordo, mas não menos talentoso , Marlon Brando - é um personagem misterioso que teria visto o horror da guerra nos olhos e se tornado insano. Perdido na busca pela razão dos ser humano, o coronel acaba se tornando um assassino, aspirante a Deus, que passa a agir independentemente, nem ao lado dos americanos, nem ao lado dos vietcongues. Willard (vivido por Martin Sheen) é um capitão do exército sem laços com o mundo. (Recém separado da mulher sente que o Vietnã é “seu lar”.) Sua missão é secreta: terá que subir o rio com uma pequena tripulação(O sério chefe do barco; Clean, um adolescente negro; Lance, um surfista da Califórnia e Cheff, um cozinheiro de New Orleans.) até a divisa com o Camboja.
No caminho se desenrolará toda uma viagem existencialista, uma busca, um conflito com a selva, com nosso lado animal, com a tênue linha que nos separa das mais brutais das bestas, no mais brutal dos jogos humanos: a guerra. De fundo, a trilha sonora eficiente, que inclui o clássico “The End” dos Doors, cruzando perfeitamente com as imagens, formando o videoclipe do final dos tempos.

A idéia de Apocalipse Now Redux era dar ao público a versão original do filme como pensada por Francis Ford Coppola, antes dos cortes propostos pelo estúdio para torna-lo mais “vendável”. Pode cheirar a caça-níquel, mas não, as cenas realmente acrescentam à narrativa do filme. São três trechos principais: o roubo da prancha do Coronel Kilgore, a cena em que Willard e seus homens transam com as coelhinhas da playboy em troca de combustível e uma longa seqüência na fazenda de uma família de colonos franceses, que é a mais importante de todas. Nessa cena o diretor faz as críticas mais diretas ao conflito do Vietnã através da fala dos fazendeiros. Lá aponta-se todo o vazio da guerra, toda a falta de sentido. Num dos diálogos o antigo oficial questiona Willard: “por que vocês estão lutando nessa guerra? Por nada. Esse é o maior nada da história” ou como diria Kurtz olhando nos olhos da morte : “o Horror”...

Fred Di Giacomo. 27/09/03

6.12.07

(Não sou mais aquele) Cara Cool

Fiz essa música em algum dia entre 2003 e 2004, estava na faculdade ouvindo Wander Wildner, Júpiter Maçã e Roberto Carlos. Era ex-punk e estava trocando o all star pelo chinelo. A piada comigo mesmo acabou servindo pra todo mundo que já pertenceu a algum estereótipo cheio de dogmas: punk, hippie, indie, roqueiro, headbanger, rapper, etc


Cara cool
Já não sou mais aquela cara cool de uns tempos atrás
Que só comprava discos e revistas legais
Não tenho mais aquele guarda-roupa irado
E acho até que estou apaixonado.

Não sou mais!
Aquele cara cool de uns tempos atrás } Ref

Já não assisto os filmes do Zé do Caixão
E até achei legal Terra em Transe no Cine Corujão.
Meu corpo não agüenta, as velhas chapadeiras
E não tem breja na minha geladeira.
Já não escuto tanto o velho punk rock
E outro dia fui numa balada que só tocava samba-rock
Esqueci do aniversário do Kurt Cobain
E das bandas da Inglaterra eu não conheço mais ninguém

Ref

Já não uso all-star ou toco guitarra na balada
E até penso em costurar minha velha calça rasgada.
Pareço brega ou velho quando me olho no espelho
E estou pensando em cortar o meu cabelo.

4.12.07

Palavras no papel ...

Não salvam a alma dos padres pedófilos
Não saciam as taras dos políticos necrófilos
Não matam a fome dos mendigos alados
Não preenchem o vazio, dos viciados

Lírica cuspida(2003)

Catarro na alma
Paixão entupida
Assôo na palma
o nojo da vida.

2.12.07

Tu, Amigo - Banda Milhouse



Ouça(porque não dá pra enxergar nada) a música "Tu, Amigo", composta por TiTi Montanari, ao vivo no Porão, em Ribeirão Preto.
"Ele mudou trocou os seus amigos por um grande amor!!!!!!!"
A letra ta ai embaixo:

Tu Amigo( TiTI Montanari)
Por que amigo mudaste desse jeito
trocaste os irmãos por um belo par de peitos
Tu ainda és jovem, ouça o que te digo
se chifre levares irás procurar um amigo

Ele mudou, trocou os seus amigos por um grande amor
Ele mudou...


Querido amigo foste da amizade o carrasco
foi foda aceitar tu não pagares o churrasco
Triste companheiro, fingir não adiantará
por que aqui se faz aqui há de se pagar

refr.

Grana e garotas não te acompanharam
Quando partires pra outra
Terás um amigo ao caixão

Banda Milhouse - Espaço Impróprio



O Milhouse(banda na qual eu canto e toco baixo) se apresentou ontem no Espaço Impróprio em São Paulo. E foi ducaralho.

Nosso último show tinha sido em Ribeirão Preto e foi meio tenso. A casa estava vazia(devia ter algo entre 25 e 30 pessoas), as pessoas ficaram muito longe do palco, eu travei, o microfone caiu na minha cabeça, a guitarra do TiTi parou no meio... Enfim, foi trash. A gente precisava de um show bom pra lavar a alma.

A primeira coisa legal desse sábado foi ver a quantidade de brothers que foram ao Espaço Impróprio. Tinha gente de Bauru, de São Paulo e até de Penápolis. No total a casa tinha mais de 100 pessoas(Tinha mais duas bandas que iam tocar também). Os amigos do Curso Abril e acompanhantes formaram uma primeira fila de "fã clube" e fizeram quase mais barulho que a gente. Rolou roda, mosh, nego tirando foto de cima do palco, três pessoas subindo com a banda ao mesmo tempo e dançando... E o espaço que tinha tudo pra ser um buraco era um centro cultural Vegan bem bacana, acabamos com a cerveja do lugar, inclusive. E no final das contas tivemos até um pequeno lucro que deu pra pagar a pizza no final da noite. :-P

Related Posts with Thumbnails