1.
Caminho, cotidiano, caminho cotidiano
Essa é a casa do Rodrigo, se não me engano
Caminho, cotidiano, caminho cotidiano
Voltando da escola sem ideias, sem planos.
Um vulto, um rotweiller? Um desejo proibido?
Dois ursos copulando, eu passo escondido
Na outra calçada há um gorila assassino
Eu passo travado ainda menino
Caçadores, me ajudem, desçam deste caminhão
Carregado de macacos e munição
"Menino, vá pra casa, corres grande perigo
Bestas fugiram do inconsciente perdido.”
***
2.
Em direção a minha casa, envelheço três anos
Pelos na cara, espinhas, enganos
Avisto um amigo, parece perdido
No tempo – não o conheço, isso não faz sentido
O quintal envolto por densa névoa
Rodeada de gorilas, ursos e feras
Eu entro, me embrenho, com medo, eu venho
Meu irmão lá, tranquilo, não entende aquilo
"Cara, você está louco, feche as portas e o coração"!
Vou ligar pros caçadores que ocupavam o caminhão
Veja só que estranho, que mistério sagaz
Ilegíveis letras cegam o rapaz
“Pai nosso que estais no céu...”
Não decifro o cartão
“Santificado seja o você nome”
Não aprendi a oração
Sair de casa. Enfrentar. Ah! Está triste lança não é capaz de matar.
Estraçalha a ponta na dura carapaça, e os monstros me arremessam uma horrível carcaça
Para dentro da casa, eu fujo em desespero, inseguro, sozinho, morrendo de medo.
***
3.
Negros fantasmas cercam minha adolescência
Proibidos pensamentos me corroem a inocência.
Pra dentro da casa, a couraça, o sigilo.
Encontro um bebê, muito desprotegido.
Abraço o infante, carinho e abrigo
Bizarras gárgulas fogem do armário
Puxando a criança - infeliz aniversário!
Eu choro, eu grito, mas não tenho um amigo
Minha única solução é pular na prisão
Para dentro do armário, um túnel corsário
Curvilínea queda livre, sem poder me apoiar
Horror e adrenalina não consigo gritar.
Do outro lado do mundo – será a China?
Um dia ensolarado - comercial de margarina.
A grama é verde como o cinema ensina
Ah, o céu é azul como no interior
Em paz eu caminho, saí vencedor
Estou moço e seguro não sinto mais dor
Tijolos amarelos calçam o corredor
***
4.
Pego o carro, que meu pai nunca emprestou
e sigo minha vida.
Comprida
!!!Cumprida!!!
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