24.11.07

Chaos A.D.: Sepultura


A hora do kaos.
Um grito tribal corta a modernidade.

Em 1993 o Sepultura já era um banda respeitada pela maioria dos metaleiros do mundo, seus dois últimos discos pela RoadRunner(Beneth The Remains e Arise) haviam recebido boa recepção do público e lhes aberto várias portas, rendendo uma série de turnês internacionais. Depois de 1993 a história foi outra, o Sepultura não era só mais uma banda de thrash metal, eles estavam na crista da onda, com videoclipes estourados na Mtv, shows ao lado dos principais nomes do rock(Ozzy, Pantera, Slayer, Alice in Chains, entre outros) e uma popularidade que talvez nenhum outro músico brasileiro tivesse alcançado. Para qualquer jovem que você perguntasse sobre o Brasil ele provavelmente iria citar o Carnaval, o futebol, o samba e o... Sepultura.


O clipe Territory, single do disco Chaos A.D.

O início do Caos são as batidas do coração de Zyon o filho de Max Cavalera no útero de sua mãe, logo as batidas se fundem com o groove de escola de samba vindo das baquetas de Igor Cavalera (então o maior batera de hardcore do mundo). A música é Refuse/Resist, um petardo sônico, com letra desesperada incitando a revolta. Nada mais de apocalipse e demônios nas letras dos mineiros, o inferno agora era na terra. Era a disputa de território entre judeus e palestinos, a destruição do sistema ecológico, o massacre do Carandiru, o cotidiano violento no qual todos nós aprendemos a sobreviver. Chaos A.D. é quase um disco conceitual, um manifesto terceiro mundista, homogêneo em sua diversidade ele traz um Sepultura politizado, voltado para o que se passava no Brasil e experimentando novas sonoridades.

Passada a fase ortodoxa do grupo a banda dos irmãos Cavalera agora misturava metal, hardcore e rock industrial com sons brasileiros (mistura que chegaria ao ápice no clássico Roots). Cabia ai então a acústica Kaiowas, um protesto contra a situação dos índios dessa tribo que se suicidavam devido à ocupação de suas terras. Os críticos compararam a música (que incluía percussão e solo de viola) a Led Zepellin com a diferença de que enquanto o Led misturava seu rock com sons asiáticos e africanos o Sepultura fazia a fusão com o som da sua própria terra. A partir de Chaos A.D. quem se interessasse pelo futuro do metal poderia procurar o Sepultura. O disco é considerado por muitos como influência básica no que viria a ser o new metal de Korn e Cia. O próprio Korn teria ficado ouvindo esse disco no estúdio enquanto gravavam. Lá já estavam as afinações graves e as baterias quebradas que estourariam nas paradas mundiais anos depois

O clima do disco era soturno, a trilha sonora de um futuro Ciberpunk, pesado,violento dominado por mega-corporações e transpirando capitalismo. O guitarrista Andréas Kisser deixou de lado o virtuosismo, para tirar novos timbres de sua guitarra minimalista uivante, o baixo de Paulo Jr, vinha muito grave,como um terremoto, cheio de efeitos, casando com o bumbo duplo furioso de Igor Cavalera, um gigante nas baquetas que injetava swing no hardcore mais agressivo.

Chamar o Chaos A.D. de marco no rock dos anos 90 pode parecer pretensioso, mas não seria injusto, Dave Grohl (ex- Nirvana, Scream e atual frontman do Foo Fighters) disse um dia que se não existisse o Mötorhead esse seria o melhor disco de metal do mundo. Nada mal para um bando de moleques que só queria imitar o Venom. Á partir de 1993 todas as bandas brasileiras podiam sonhar em competir de igual pra igual com os gringos e não sem deixar de lado a brasilidade. O que seria a base para um outro caos vindo da lama dos manguezais de Recife, mas isso é outra história...

Fred Di Giacomo 28/10/03.

Assista o clipe da primeira faixa de Chaos A.D.: Refuse/Resist:

4 comentários:

Ana Alice disse...

sem comentários. esse álbum fez tudo o que podia pela gente (inclusive arrancar vários neurônios em um ato apaixonado de headbanger).

Giul Martins disse...

Olha eu tava ouvindo esse álbum para fazer uma resenha para o meu blog, mas acho que não preciso mais fazer, só vou largar o link lá deste post, pq foi dito tudo, e até um pouco mais, do que eu pretendia com minha resenha... parabéns, ótima observação musical!!!

Frico disse...

Valeu, Giul!

Anonymous disse...

bom comeco

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