4.5.10

"O Amante de Lady Chatterley", D.H Lawrence - Resenha

D.H Lawrence
                                                             
por Fred Di Giacomo

O primeiro homem a desabrochar Anaïs Nin(1903-1977) para o sexo e a procura da plena felicidade “física / psicológica” não foi seu amante Henry Miller, foi D.H. Lawrence(1885-1930). E a autora francesa nem precisou dormir com o Lawrence, bastou o contato com as polêmicas obras do modernista inglês, para que ela escrevesse seu primeiro livro “D.H. Lwarence: An Unprofessional Study”, publicado em 1932.

Lawrence morrera há apenas 2 anos, e era visto como um pornógrafo, autor menor, cuja obra estava mais ligada a escândalos que a excelência literária. O escritor tivera uma carreira prolífica: pintara quadros e escrevera poesias, contos, peças de teatro e romances. Nessa última seara cravou o mais doloroso prego em sua cruz: “O Amante de Lady Chatterley”(1928). Romance robusto, “O Amante de Lady Chatterley” nos leva a Inglaterra pós-Primeira Guerra Mundial, um país em rápida modernização, um império aristocrático dançando no ritmo do jazz e transformando-se em potência capitalista. São os últimos anos da hegemonia britânica, antes da ascensão americana, que se cristalizaria com a Segunda Guerra Mundial. Sua personagem principal é Constance – Lady Chatterley – jovem burguesa de formação livre e intelectual que se casa com o aristocrata Clifford, dono de minas de carvão em Wrgaby. Clifford pouco se importa com o sexo, mais preocupado com a “felicidade” intelectual/espiritual e posteriormente com seus negócios. Depois da participação na guerra, Clifford volta impotente e em uma cadeira de rodas. Constance – que havia perdido a virgindade antes do casamento - passa a ter uma vida estéril, vazia e sem emoção. Incapaz de encontrar o equilíbrio entre a felicidade física(que ela busca em um caso com o escritor irlandês Michaelis) e a felicidade espiritual(que às vezes ela pensa ter nos seus diálogos com Clifford ou em seus pequenos passeios pelo bosque). Quem vai chacoalhar sua vida e mostrar que as duas coisas são possíveis é o guarda-caças Oliver Mellors – por quem ela irá se apaixonar lentamente.


pintura de D.H. Lawrence

“O Amante de Lady Chatterley” foi censurado por mais de 3 décadas na Inglaterra e em diversos países de língua inglesa. O uso de palavras “indecentes”, as descrições dos atos sexuais, a relação entre uma burguesa e um trabalhador e a crítica à guerra, tudo isso era uma afronta à aristocrática ilha britânica. Para tentar ver a obra publicado em sua terra natal, Lawrence escreveu duas versões editadas do romance, que de tão diferentes podem ser consideradas novos livros. Só nos anos 60, com a liberação sexual, o sucesso dos autores beats e a descoberta de Henry Miller, é que a obra receberia a devida atenção. Para o leitor moderno, “O Amante de Lady Chatterley” não representará grandes sustos. A maior parte do livro trata das dúvidas existenciais de Constance, suas paixões e a vontade de escapar de Wrgaby. Quase uma “Madame Bovary”, menos ingênua e com um final mais feliz à sua espera. O clima esquenta no terço final da história. As relações entre Mellors e Constance são retratadas explicitamente, mais como algo natural, do que como pornográfico. O sexo é algo do qual nos devemos envergonhar? Algo extraordinário? Não, ele faz parte da receita da felicidade. O ritmo aumenta, as reflexões de Mellors e Constance passam a se tornar mais apaixonadas. Algumas passagens lembram os grandes discursos libertários de Henry Miller. Há um romantismo primitivista sempre presente. Um olhar crítico em relação à industrialização, ao ritmo acelerado e a ligação da sensação de satisfação, com a sensação de posse(“Se fosse possível fazê-las compreender que há grande diferença entre viver e gastar dinheiro. Se fossem educadas de modo a ‘sentir’ em vez de ‘ganhar e gastar’(...)”.) Pode soar ingênuo, mas são questões atuais, postas em pauta constantemente em nossos anos “sustentáveis”. É atual também a busca de uma terceira opção, entre o capitalismo industrial e a doutrinação bolchevique.
A editora Penguin lançou a primeira versão integral do livro na Inglaterra
O romance que parecia lento acaba no ápice. É como se todo o livro fosse um grande relacionamento. Do primeiro olhar ao gozo triunfante. A busca dos personagens é pela satisfação completa, independente de sua classe, idade ou da opinião pública. Busca pelo prazer – não o prazer hedonista de orgias, eternas bebedeiras, grandes gastos -, mas um prazer quase epicurista do amor, da boa comida, da diversão possível.


-Aí está! Alguma coisa invisível! Para mim mesmo, sou alguma coisa. Compreendo o sentido da minha existência, embora admita que ninguém mais a compreenda.


_E essa existência perderia o sentido se vivêssemos juntos?(...)
-Talvez.
_E qual o sentido da sua existência?
_Já disse que é invisível. Não creio no mundo, nem no dinheiro, nem no progresso, nem no futuro da nossa civilização. Para que a humanidade tenha um futuro é necessário que uma grande mudança se dê.(...)
_Quer que eu lhe diga? Quer que eu lhe dia o que você tem e os outros homens não têm?(...) Coragem dos próprios sentimentos, coragem da ternura; essa coragem que o faz pôr a mão no meu rabo e dizer que tenho um magnífico rabo!

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