-Rap, a poesia
Entrevista realizada originalmente para o Zine Kaos, em 2004, feita quando o ativista do hip hop, b.boy e cantor, Nelson Triunfo, dançou ao lado da Nação Zumbi, em show no dia do trabalhador, no Sesc-Bauru.
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1)Qual a importância dos fanzines na cultura hip hop?
Nelson Triunfo- Ele é importante não só para o hip hop, mas pro rock, pro reggae, pra outras comunidades, outras tribos. Contanto que seja um fanzine que tenha informação e passe a informação correta.
2)O que você acha dessas novas bandas, como Facção Central, que tem uma linguagem mais pesada?
N.T.- Cara, faz parte. Eu particularmente não escuto muito não. Porque eu sou um cara que não gosta da coisa que fala só do pesado, eu já tive vários problemas e isso me lembra algumas coisas que eu não gosto muito. Então eu procuro viver o melhor da vida, eu procuro o lado mais positivo.
3)Qual a diferença do cara que só canta rap e do que atua no movimento hip hop?N.T.- Cada um faz uma coisa. No caso do meu trabalho eu sou muito ligado ao lado educativo, ao lado cultural. Eu me sinto feliz em poder orientar as pessoas, fazer workshops. Isso é o hip hop. Tem outros que são artistas mesmo, que sobem no palco, e só fazem show e gravam cd pra lá e pra cá. Eu não sou contra eles, até porque trabalhar o social não é só querer fazer. Você tem que ter um preparo sobre isso, porque muitas vezes você querer se meter a fazer esse trabalho, sem ter o know-how, sem ter o conhecimento pode até atrapalhar a pessoa, passando a informação errada.
4)Como é que você enxerga a literatura da periferia, que é uma coisa que vem crescendo muito?
N.T.- Isso é muito bom.Como é que nós vamos educar nossos jovens, se o livro não tem a realidade deles? Porque, então, eles vão numa oficina de hip hop por livre e espontânea vontade, mas não vão à aula. As próprias professoras pra eles às vezes são bruxas. E isso é complicado. Você vê, meu filho tem doze anos e ontem nós fizemos um show aqui, (onde) ele foi o cabeça do show todinho. Tudo isso é interessante pra ele. Ele faz o show como se estivesse jogando vídeo game. A primeira vez que eu pus ele no palco eu quase chorei de emoção. Eu digo: “Meu Deus o que eu to fazendo com ele aí. Ele quer fazer isso, mas não tem responsabilidade, será que ele vai errar?” E ele tava orientando a banda como tocar... Aí, eu fui vendo que pra ele aquilo ali era diversão, né cara?
5)Pra encerrar, o que você achou de ter participado do show com a Nação Zumbi?
N.T.- A Nação quando começou, o Chico Science gostava muito de mim. Ele sabia que eu era de Pernambuco e quando ele era moleque eu já fazia som com James Brown, Toni Tornado e todo mundo que vinha aqui. E lá (em Pernambuco) eles são pessoas que lêem muito. Eu era do interior, né? Com 15 anos, eu sabia falar sobre o mundo. Conhecia os mapas, os rios. Eu sempre fui 1o. da classe, não talvez porque eu era o mais inteligente, mas porque eu estudava. Eu era um “papa-conhecimento”, tinha isso pra mim como um desafio. E até hoje eu leio muito.
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Reportagem Kaótica: Fred Di Giacomo, ECM e Renato Bueno(foto).
01/05/2004
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